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Trump confirma recuo parcial e alivia MS dos impactos do tarifaço

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Cobrança de 50% passa a valer a partir de 6 de agosto e inclui carnes bovina e de pescado, mas suco de laranja, minérios e celulose ficam de fora da taxação

 

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ontem assinou o decreto que oficializa a taxação de 50% sobre produtos brasileiros. No entanto, entre as 694 exceções, houve um recuo parcial da sobretaxa para produtos como aeronaves, minérios, suco de laranja, celulose e petróleo.

A boa notícia para Mato Grosso do Sul é que o setor que mais preocupava o Estado, o ferro-gusa, não será sobretaxado, assim como o setor da celulose e a garantia da expansão da citricultura em MS.

No entanto, o presidente norte-americano manteve no decreto a aplicação de uma taxa adicional de 40% sobre as tarifas de 10% que já vigoravam (chegando a 50%) para produtos como as carnes bovina e de tilápia, que estão entre os produtos enviados por MS aos EUA.

Mesmo que inicialmente tenha negado prorrogar o prazo, o republicano alterou o prazo da taxação, que inicialmente era o dia 1°, para o dia 6 de agosto.

Direto do aeroporto de Atlanta, nos Estados Unidos, o senador Nelsinho Trad falou com o Correio do Estado e comemorou o sucesso da missão liderada pelos parlamentares sul-mato-grossenses. Ele afirmou que não acreditava no sucesso da missão, mas que volta dos EUA com o país de portas abertas para o Brasil.

“A missão oficial do Senado aos EUA não foi para falar contra ninguém ou contra qualquer pauta, foi para abrir o canal de negociação entre o Brasil e o governo de Donald Trump, preservando uma relação comercial de mais de 200 anos”, reiterou.

LIVRES

Conforme já noticiado, no primeiro semestre deste ano, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), o volume de ferro enviado de MS aos EUA foi de 94,5 mil toneladas, com montante negociado de US$ 40,5 milhões. Entre os setores, o de produção de ferro-gusa era o que causava maior preocupação em função do tarifaço.

“Talvez, no curto prazo, o setor mais preocupante para o Estado é o de ferro-gusa, porque mais de 90% do que a gente produz em Corumbá, Ribas do Rio Pardo e Aquidauana é exportado para os Estados Unidos”, afirmou o titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, à reportagem na ocasião.

O produto, usado na indústria siderúrgica, não tem atualmente mercados alternativos de grande escala, o que agravaria os efeitos da medida.

No caso da citricultura, que vem ganhando espaço em Mato Grosso do Sul como uma forma de diversificação agrícola, a sobretaxa representaria um retrocesso em um momento considerado chave para a consolidação da atividade no Estado. Atualmente, o setor já ocupa 25 mil hectares.

A região centro-sul de MS atraiu grandes grupos produtores nos últimos anos, em função da crise do greening em São Paulo, que reduziu drasticamente a produção no principal polo citrícola do País.

A projeção é de que, assim que MS ultrapassar 30 mil hectares plantados, uma indústria de suco de laranja seja instalada. Plano que pode ser mantido, já que o principal mercado para o produto brasileiro são os EUA.

Outro setor que ficou livre da taxa de 50% foi o da celulose. Mato Grosso do Sul exportou para os EUA US$ 213 milhões em celulose no ano passado, segundo dados do Mdic. Nos primeiros seis meses deste ano, o valor negociado foi de US$ 74,8 milhões.

Ainda que a participação do Estado na pauta de exportações brasileiras não seja tão expressiva quanto em setores como o do boi ou o da soja, a celulose representa um produto com alto valor agregado e importância estratégica para a economia regional.

Verruck afirmou que os projetos de expansão e investimentos no setor continuam inalterados. “Nós fizemos reunião com todo o setor, todos os projetos de investimento continuam no mesmo ritmo, trabalhando”, afirmou ao Correio do Estado.

TAXADOS

Apesar de ter o que comemorar, o Estado ainda terá produtos importantes de sua pauta sendo sobretaxados pelo país norte-americano. No entanto, o setor de carne bovina de MS, que tem como principal destino os Estados Unidos, já havia buscado novos mercados.

Conforme adiantado na semana passada, as plantas frigoríficas de Mato Grosso do Sul que exportam carne bovina para os Estados Unidos redirecionaram suas produções. O grupo JBS, o maior exportador do Estado, redirecionou os lotes para China, Chile e outros mercados.

Fontes ouvidas pela reportagem afirmaram que, além dos dois principais destinos (China e Chile), a produção do grupo também foi redirecionada para países do Oriente Médio e Filipinas.

Consultado sobre o redirecionamento, o vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul (Sicadems), Alberto Sérgio Capuci, confirmou que todos os frigoríficos que enviam carne bovina aos Estados Unidos já normalizaram os abates e redirecionaram a produção para outros países.

“Sim, já está tudo normal, foi tudo redirecionado”, confirmou Capuci, além da JBS, Minerva e Naturafrig também enviam carne aos Estados Unidos.

Dados do Mdic apontam que as vendas de MS aos EUA somaram US$ 315 milhões (R$ 1,7 bilhão) de janeiro a junho deste ano, ante US$ 283 milhões no mesmo período do ano passado (R$ 1,4 bilhão) – alta de 11,4%.

Somente a carne bovina teve alta de 78% nas exportações entre os dois anos, saindo de US$ 81,434 milhões, no primeiro semestre do ano passado, para US$ 145,201 milhões, no primeiro semestre deste ano.

Outro produto que ainda será taxado é a produção de pescados, que, apesar de representar venda de apenas US$ 4,9 milhões para os EUA no primeiro semestre, também é um setor em ascensão e que precisará de realocação. Mato Grosso do Sul é o maior exportador de filé de tilápia do Brasil, e seu principal consumidor é o país norte-americano.

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