Principais vítimas são homens, de 35 a 40 anos, que não usam equipamento de proteção no trabalho
O trabalhador rural Edilson dos Santos Aroca, de 51 anos, seguia sua rotina normal fazendo o corte de um azulejo quando de repente uma fagulha metálica atingiu seu olho esquerdo. Na hora, lavou os olhos, passou um colírio e seguiu suas atividades mesmo com aquele incômodo.
Em casa, tentou retirar o cisco, sem sucesso, usando um cotonete. Esfregou, apertou os olhos e nada. Trabalhou normalmente no dia seguinte, mas o corpo estranho ainda espetava seu olho. No terceiro dia, com o objeto atrapalhando sua visão, as dores aumentaram:
“Parecia que ia estourar o meu olho. Não dormi a noite inteira”, afirmou Edilson que saiu da fazenda em Sidrolândia, a 70 quilômetros da Capital, em busca de atendimento na Santa Casa de Campo Grande.
Por ser referência no tratamento oftalmológico no Estado, o hospital recebe pacientes da Capital e do interior. Segundo o médico oftalmologista Vinícius Nonato, o setor atende média de 25 a 30 pacientes com problemas oculares por dia, sendo a maioria dos atendimentos relacionados a corpos estranhos nos olhos, sejam de ocorrências mais comuns até lesões sérias com potencial de perda total da visão
Casos como o de Edilson são corriqueiros no hospital e quando se trata de acidentes de trabalho, o médico ressalta que, em todas as ocorrências, o paciente não estava usando EPI (Equipamentos de Proteção Individual). Edilson dos Santos conta que estava quase terminando o trabalho e retirou o óculos para finalizar um último detalhe no corte do azulejo, quando foi atingido. A faísca metálica, que estava lhe causando dor, foi retirada em procedimento na Santa Casa e é quase imperceptível.
Panorama dos casos
Grande parte dos pacientes têm o perfil do Edilson, são homens (86%), de 35 a 40 anos, que sofreram a lesão durante o trabalho (33%) ou em atividades domésticas (16%). Em apenas 8% dos casos o trauma é causado por acidentes automobilístico e 21% por agressão. A maioria vem do interior do Estado (60,6%) e o restante (39,4%) é de Campo Grande. Estes dados foram levantados pela equipe médica do hospital contabilizando as ocorrências de 2020 a 2022, num total de 94 atendimentos.
E os corpos metálicos são a maior parte dos objetos retirados dos olhos dos pacientes na Santa Casa (38%), seguido de trauma cinético (movimento) (17%) e vegetais (17%), outros objetos comuns são facas (8%) e vidros (8%).
O médico Vinícius Nonato esclarece que estas classificações envolvem diversos tipos de casos, como a batida de um galho de árvore nos olhos, um cisco proveniente de lixadeira, metais que soltam de uma máquina de corte de azulejo ou faíscas vindas de uma roçadeira.
Consequências
O oftalmologista Vinícius Nonato alerta que, ao sofrer ferimento nos olhos, a pessoa precisa procurar atendimento médico o mais rápido possível, pois o ferimento pode piorar e culminar até na perda da visão, fato que ocorre em média em 30% dos casos.
Nonato explica que o ferimento não tratado pode evoluir para uma úlcera infecciosa, o que leva a internação, podendo resultar em transplante de córnea ou perda total da visão nos casos mais graves. Conforme o médico, dependendo do tipo de lesão, o olho pode se regenerar e voltar ao estado normal ou cicatrizar. São processos diferentes.
A cicatrização pode levar à formação de uma úlcera. Por exemplo, quando um objeto de metal atinge os olhos, se não retirado, esse metal vai soltando ferrugem, complicando a condição que pode levar à perda da visão.
Dicas de prevenção
Vinícius Nonato adverte sobre a importância da prevenção nestes casos, como o uso de EPI, que são os óculos de proteção, máscaras de solda e protetores faciais.
Como proceder
Em caso de acidentes, o médico orienta a procurar atendimento especializado urgente, evitar medicações sem orientação médica, lavar os olhos com água ou soro fisiológico, sem esfregar ou apertar os olhos.
“Evite demorar para procurar atendimento médico, pois o tempo de início de tratamento pode fazer toda a diferença”, alerta o especialista.