Desde bebês, as crianças podem se encantar com a textura das páginas dos livros, as vozes dos adultos contando histórias e as imagens que despertam emoções. O livro se transforma em um brinquedo cheio de possibilidades. Veja o que você pode fazer para que seu filho goste de livros desde sempre!
Nunca se produziram tantos livros infantis como agora. Há títulos coloridos, interativos, feitos para mãos pequenas e olhares curiosos — desde os primeiros meses de vida. Mas, ao mesmo tempo, vivemos em um mundo cada vez mais dominado por telas. E, mesmo que façamos um esforço danado para brecar as telas em casa, esse excesso também alcança as crianças.
Sendo assim, ler com e para uma criança é mais do que ensiná-la a decifrar palavras. É criar laços. É construir memórias afetivas. É estar presente. Nos minutos de uma leitura compartilhada, filhos e pais se conectam de forma profunda. E isso não se apaga. Incentivar a leitura desde cedo é oferecer ao seu filho uma ferramenta para o mundo — e um conforto para a vida.
Mas, afinal, como incentivar a criança a gostar de livros?
Segundo a pesquisadora paraense Roseane Serrão, mestranda em Estudos de Línguas e Literaturas na Amazônia (PPGL-UFOPA), não existe uma fórmula mágica — e nem precisa existir. Muitos pais, aliás, buscam um “jeito ideal” de incentivo à leitura, mesmo sem terem vivido isso na própria infância. A dica dela é simples: descomplique.
A socióloga e mestra em educação Luciana Bento, especialista em literaturas com protagonismo negro, reforça a importância de deixar de lado a ideia do livro como algo “sagrado” ou “salvador”. Para ela, não existe um tipo certo de livro, nem um jeito perfeito de apresentar uma leitura. “Cada livro pode encantar e formar leitores — desde que seja acessível.”
Mas um alerta: evite atitudes que, em vez de aproximar, afastem a criança da leitura. “Disponibilizar livros como obrigação é um erro. Assim como deixar o livro como objeto decorativo, sem liberdade para ser manuseado. Nada de ‘você só pode brincar depois que ler’. Isso transforma o livro em castigo, não em prazer”, completa Luciana, que também atua como mediadora e curadora da Biblioteca Comunitária do Quilombo Literário da Paz, na zona leste de São Paulo.
Dá para competir com o tablet?
Em meio a tantos estímulos digitais, como fazer os livros infantis se destacarem? A concorrência é grande — mas não precisa ser uma disputa. Para a pesquisadora Luciana Bento, as tecnologias não são inimigas da leitura: na verdade, o próprio livro é uma tecnologia.
“As telas captaram nossa atenção desde muito cedo e mudaram a forma como lidamos com o tempo e com os conteúdos. Queremos tudo rápido, cheio de estímulos. O livro funciona de outro jeito: pede tempo, pausa e imaginação”, explica Luciana. Mesmo os livros ilustrados não entregam tudo imediatamente — eles convidam o leitor a preencher lacunas e construir sentidos, algo que estamos perdendo o hábito de fazer.
Como manter o interesse pelos livros à medida que as crianças crescem?
Incentivar a leitura na primeira infância parece mais fácil: temos mais controle da rotina, muitas opções de livros e uma relação próxima entre adultos e crianças. Mas e depois? Como manter esse vínculo com a leitura conforme elas crescem?
Para a pesquisadora Luciana Bento, o segredo é o exemplo. “Crianças que têm boas lembranças dos momentos de leitura em família e que veem os adultos lendo no dia a dia tendem a manter o hábito, mesmo sem a mediação constante dos pais. A formação de leitores não é algo pontual — não basta ler só quando são pequenos. É um processo contínuo, que exige interesse pelas leituras autônomas delas, conversas e incentivo ao longo do tempo.”
4 Dicas para cultivar a leitura sempre!
- Livros como parte da casa: Mais do que estarem acessíveis, os livros devem realmente fazer parte do ambiente em que a criança vive.
- Afeto e memória na leitura: À medida que as crianças crescem, os livros podem mudar – ou não. Que tal resgatar um livro especial da infância? Alguns amores não precisam de despedida.
- Leitura sem regras fixas: Não existe um jeito certo, lugar certo ou hora certa para ler. O importante é que a leitura seja uma companhia constante.
- Cada leitor tem seu caminho: Não há receita única. Cada criança descobre sua própria relação com os livros. Por isso, é essencial apresentar diferentes obras e ampliar o repertório sempre.