Família questiona atendimento e responsabiliza Santa Casa por negligência em atendimento
Uma menina de apenas 5 anos, faleceu na última quinta-feira (29), cinco dias após um acidente doméstico que, segundo a família, não recebeu a devida atenção da Santa Casa de Campo Grande. A criança, que tinha histórico de cardiopatia, chegou a ter alta médica antes de sofrer uma parada cardíaca e morrer no hospital.
“Ela foi morrendo aos poucos, sofrendo, com muita dor”, relata a tia Vailza Viana, que agora pede que o hospital seja responsabilizado pela suposta negligência no atendimento.
Segundo a contadora de 39 anos, a criança estava brincando com a família quando um portão acidentalmente atingiu sua cabeça. Imediatamente, os familiares levaram a menina à UPA Vila Almeida, onde ela levou cinco pontos na cabeça. Devido ao forte impacto e ao histórico de problemas cardíacos, ela foi transferida com urgência para a Santa Casa. No entanto, aproximadamente quatro horas depois, acabou recebendo alta hospitalar.
A justificativa para a alta, conforme consta no documento, foi que “não foram encontradas evidências que indicam que o trauma cranioencefálico foi grave”. No entanto, o mesmo trauma foi registrado na certidão de óbito como a causa do falecimento da menina.

Últimas horas de vida e sofrimento
Dentro da Santa Casa, Sophie não largou a mão da mãe em nenhum momento. Mas com o passar das horas, o agravamento da situação e sofrimento da criança, começaram a ficar insustentáveis.
Na quinta-feira (28), o estado de saúde dela piorou e o sangramento na cabeça passou a ficar mais intenso. “Por volta das cinco e pouquinho da manhã, ela acordou e falou para mim assim, mãe, está escorrendo. Eu falei, o que está escorrendo filhinha? Eu levantei acendi de luz do quarto e olhei. Estava com muito, eu não sei dizer se era sangue, o que era. Estava saindo muito que a toalha que estava embaixo da cabeça dela estava completamente encharcada”, relata a mãe de Sophie.
No período da tarde, o pescoço da menina já estava todo inchado e ela não conseguia mais falar. Foi só aí que outra médica orientou a levar, com urgência, a criança para ala de emergência.
“Por volta das 18h40 foi que Sophie subiu para ala de emergência e pouco tempo depois o médico avisou que ela teve uma parada cardíaca, mas conseguiram reanimar. O problema é que seu quadro já era grave neste momento e o coração funcionava por conta da medicação“, contou a mãe.
Shopie chegou a ir para cirurgia, mas não resistiu a uma segunda parada cardíaca e morreu, por volta das 21h de quinta-feira (29). “Todo mundo tem família. Então, não é só a pessoa que vai partir, que sofreu ali. Tem a família que fica, que vai estar enlutada para sempre”, disse Vailza Costa Viana, tia de Sophie.
Desassistência era anunciada
No dia 24 de março de 2025, a Santa Casa de Campo Grande emitiu uma nota à imprensa relatando superlotação do pronto-socorro e, um ofício, pedindo a suspensão do recebimento de novos pacientes. Na época, relatou grave desabastecimento, atendimento acima da capacidade máxima e sem possibilidade de novas admissões.
O ofício foi encaminhado às autoridades municipais de saúde e à Justiça. Mas não foi o único. Desde então, os comunicados da Santa Casa sobre a situação se tornaram frequentes. Ainda em março, médicos da ortopedia foram à polícia dizendo que não havia insumos para cirurgias e 70 pacientes corriam risco de morte ou sequelas graves.
Até que exatos dois meses depois (23 de maio), o maior hospital de Mato Grosso do Sul emitiu outro ofício, comunicando o bloqueio do pronto-socorro adulto e infantil. Na nota, afirma que “devido às restrições físicas, tornou-se impossível manter condições mínimas para o atendimento adequado“.
A Santa Casa admitiu que, diante do cenário e apesar dos esforços conjunto, “as condições atuais não garantem um atendimento seguro e adequado“. Sophie chegou ao hospital, pela primeira vez, dois dias após esse último anúncio e morreu na última quinta-feira (29).
O que diz a Santa Casa?
Em nota sobre o caso emitida neste domingo (1°), a Santa Casa afirma que está reavaliando as condutas adotadas durante o atendimento de Sophie Emanuelle Viana. A família acusa o hospital de negligência e responsabiliza a equipe médica pela morte.
“Santa Casa de Campo Grande informa que está acompanhando o caso desde o momento do óbito, prestando solidariedade à família pela imensa perda. Todas as condutas e decisões adotadas estão sendo avaliadas e reavaliadas internamente“.