“O problema não é dar o ovo de Páscoa, é dar sem conversa, sem limites, sem consciência. Ou ainda: cair no discurso de que ‘tudo é caro e absurdo’ sem mostrar que dá para fazer diferente, mantendo a magia da data”, diz a mãe, empresária, palestrante e autora Clariana Barcelos.
Todo ano é a mesma coisa: as redes sociais ficam entupidas de gente fazendo cálculos comparando o preço do ovo de Páscoa ao da barra de chocolate. “Com esse valor, você compra 5 barras e ainda sobra troco!” – dizem os posts indignados, tentando provar que o ovo é um “absurdo” e que estamos sendo enganados. E aí você olha para o filho, empolgado com os coelhinhos, as embalagens coloridas, as surpresas dentro do ovo… e se pergunta: será que faz sentido entrar nessa conta?
A resposta é: depende. A conta faz sentido, é claro! Mas não é só sobre dinheiro! Sabemos que o ovo de Páscoa é muito mais caro do que a barra de chocolate. Mas nem tudo na vida é sobre fazer o “melhor negócio” com base no preço por grama. A Páscoa tem um valor simbólico, emocional, afetivo. O ovo pode representar, para algumas famílias, mais do que chocolate: ritual, surpresa, memória de infância.
Mas isso não quer dizer que a gente deva abrir mão de ensinar sobre consumo consciente. Pelo contrário! A época é perfeita para conversar com as crianças sobre escolhas, prioridades, desejos e até comparar preços, sim — mas com uma dose de leveza e empatia. E caso o ovo de Páscoa não caiba no orçamento da família ou a família (com seus valores e crenças) acredite que não faz sentido gastar com isso, tudo bem! O mais importante é que a temática seja abordada com os filhos, de forma respeitosa e consciente, encontrando alternativas saudáveis, sem perder a ludicidade do momento.
Como aproveitar a Páscoa para educar financeiramente?
Aqui vão algumas ideias simples para transformar o consumo de chocolate em aprendizado:
✅ Faça combinados em família: quantos ovos serão comprados? Qual o orçamento disponível? A criança pode escolher, mas dentro de um limite. Isso ensina sobre decisões e planejamento.
✅ Compare preços com a criança: vá ao mercado e observe o valor dos ovos, barras e caixas. Pergunte: “Você acha que esse ovo vale esse preço? Por quê?” Incentive a reflexão, não a crítica.
✅ Proponha alternativas criativas: que tal fazer o próprio ovo em casa? Ou montar uma cesta com diferentes chocolates? Isso não só pode sair mais em conta, como também vira uma atividade divertida em família.
✅ Converse sobre o valor das coisas além do preço: o que deixa a Páscoa especial? O chocolate ou a forma como celebramos juntos? Que memórias queremos criar?
Educação Financeira não é somente cortar gastos, é ensinar a escolher!
O problema não é dar o ovo de Páscoa, é dar sem conversa, sem limites, sem consciência. Ou ainda: cair no discurso de que “tudo é caro e absurdo” sem mostrar que dá para fazer diferente, mantendo a magia da data.
Ensinar sobre dinheiro na infância é também ensinar sobre o valor das experiências, dos gestos e das memórias que construímos em família. E, sim, às vezes isso inclui um ovo de chocolate que, grama por grama, não faz sentido — mas que, dependendo da memória afetiva criada, pode valer muito!
Fórmulas prontas sobre o preço do ovo e contas feitas por quem não conhece a nossa realidade não promovem a educação financeira que faz sentido na infância: aquela que utiliza o repertório e as vivências da criança para conduzir diálogos sobre escolhas e renúncias, autonomia, hábitos de consumo, comportamentos, emoções, frustrações, limites e tudo aquilo que, de fato, constrói um futuro de mais consciência — começando no presente.