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Grupo ‘fecha’ terminal e protesta contra reajuste de R$ 0,20 na tarifa do Consórcio Guaicurus em Campo Grande

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Usuários do transporte público reclamam do aumento no valor do passe apesar das péssimas condições dos ônibus

 

 

Em busca de respostas do poder público sobre o aumento de R$ 0,20 na tarifa do transporte coletivo de Campo Grande, usuários realizam uma manifestação no Terminal Morenão, região sul da cidade, na noite desta quarta-feira (29). Vale lembrar que o reajuste no valor do passe ocorreu na última quinta-feira (23), tornando Campo Grande a 11ª cidade com a tarifa mais cara entre as capitais do país.

Conforme o manifestante Douglas, da Unidade Popular, o protesto é, não só pela diminuição no preço do passe, mas também pela tarifa zero e estatização no transporte público. Para ele, é inconcebível o reajuste, considerando o serviço prestado pelo Consórcio Guaicurus há anos.

“Há mais de sete anos o Consórcio Guaicurus está sugando do sangue e suor do povo campo-grandense, seja dos funcionários do consórcio, seja das pessoas que usam ônibus no dia a dia. Nós vemos os aumentos acontecendo e vemos uma precariedade e um descaso total com a qualidade do serviço prestado”, afirma.

Para o manifestante, o ajuste nada mais é que uma “injustiça contra o povo” e que o protesto deve “ser uma luta de toda a população de Campo Grande”. Assim, o primeiro ponto pedido pelos usuários é que o Consórcio “revogue o aumento de 20 centavos” e que se faça “um transporte coletivo para o povo, sem o Consórcio Guaicurus”.

Usuários cobram revogação do ajuste na tarifa e por melhorias no transporte (Henrique Arakaki)

Serviço péssimo

Para a professora Rebeca Borges, os usuários do transporte coletivo de Campo Grande não aceitarão mais o tipo de serviço oferecido pelo Consórcio Guaicurus. Segundo ela, a manifestação não é só pelo reajuste, mas também “pela falta de qualidade” no serviço.

“Nossa indignação é o contrato que não está sendo cumprido pelo Consórcio. A gente veio hoje, primeiro, pedir para revogar esse aumento. Pedimos para haver uma CPI que investigue como que está esse contrato, porque o contrato não está sendo cumprido há muito tempo. E é um valor muito alto que a gente desembolsa enquanto contribuinte”, pontua.

Conforme a professora, o serviço oferecido à população “é péssimo” e o que causa a maior revolta é saber que o dinheiro pago nos passes não retornam como um bom serviço prestado. “A gente não tem um retorno. Não temos um transporte de qualidade, climatizado, frotas novas… As frotas são muito velhas, às vezes eles pegam de outros estados. Além disso, os ônibus atrasam porque não cabe a população. A população cresceu e o Consórcio não se atualizou”, acrescenta.

Manifestantes se concentram no Terminal Morenão, em Campo Grande (Henrique Arakaki)

Aumento imoral e injusto

Para o trabalhador de obra Du Mato, “a alta da tarifa do transporte é imoral, ilícita e injusta”. Sua revolta baseia-se no fato da maioria dos trabalhadores ganharem um salário-mínimo, em média. Com as contas, e o passe nesse preço, todos serão duramente afetados. “Vai faltar pão e leite na mesa dos nossos filhos”, afirma.

Ele aponta que além de caro, o transporte é insalubre e precário. “Semana passada mesmo, um rapaz foi proteger uma mulher em um ônibus e levou uma facada na coxa. Como que a gente vai caracterizar, vai dizer que um transporte desse é seguro, é salubre? Não é, ele é inseguro, ele é insalubre, ele não é adequado para a necessidade da realidade da família do trabalhador campo-grandense”, pontua.

Outro ponto crítico pontuado pelo trabalhador é a falta de acessibilidade. “A acessibilidade dos ônibus, sem nenhum tipo de equívoco, eu digo, é diminuída. Ela é mitigada, ela é afetada pela precarização da estrutura desses ônibus. São ônibus antigos, ônibus velhos, ônibus que não conseguem atender a necessidade das pessoas que têm uma deficiência, de pessoas que precisam se segurar. Os cintos de segurança estão velhos, quase todos rompidos, e os ônibus têm os seus elevadores, na sua totalidade, quebrados”.

Ônibus lotado no Terminal Morenão (Henrique Arakaki)

Sobre o aumento do Consórcio Guaicurus

A Prefeitura de Campo Grande divulgou o novo valor da tarifa de ônibus na noite da última quinta-feira (23). Com reajuste após determinação judicial, um passe do transporte coletivo na Capital de Mato Grosso do Sul passou a custar R$ 4,95, o que representa um aumento de 3,51%.

Receita bilionária

Os empresários de ônibus de Campo Grande são o verdadeiro exemplo do ‘mau negócio’ que rende milhões. Na verdade, bilhões. Isso porque equipe técnica da prefeitura da Capital certificou auditoria contábil nas planilhas do Consórcio Guaicurus e atestou que a concessionária teve receita de R$ 1.277.051.828,21 (um bilhão, duzentos e setenta e sete milhões, cinquenta e um mil, oitocentos e vinte e oito reais e vinte e um centavos) de 2012 a 2019 – somente os oito primeiros anos do contrato. Os técnicos chegaram aos valores a partir de balanços enviados pelas próprias empresas de transporte.

Conforme documento oficial da Agereg, os lucros do Consórcio Guaicurus só aumentaram. “Mantendo-se em um nível linear entre os períodos de 2016 a 2018, excetuando o exercício financeiro de 2019 com baixa, porém, mesmo registrando baixa em suas receitas [em 2019], o Consórcio auferiu lucro para o período, melhor que o exercício imediatamente anterior”.

Apesar de lucrar milhões explorando o transporte público em Campo Grande, perícia autorizada pela Justiça revelou que, desde 2015, a idade média dos ônibus que circulam nas ruas ultrapassou a média de 5 anos, determinada pelo contrato. Em vez de utilizar os recursos para melhorar os serviços, o laudo pericial apontou ainda que o número de ônibus nas ruas só diminuiu. “Evidente que o Consórcio sempre possuiu condições de adimplir o contrato de concessão”, diz documento da Agereg.

Frota crítica

De alçapão voando a elevador emperrado, em 2024 foram registrados diversos momentos desafiadores vividos por quem depende do transporte público, contrariando, totalmente, a informação de que “o serviço do Consórcio Guaicurus é excelente para conforto, acessibilidade, pontualidade, qualidade da frota e pessoal a serviço”.

Condições precárias dos ônibus do Consórcio Guaicurus (Fala povo)

Acessibilidade é de longe um dos pontos a melhorar quando o assunto é transporte coletivo. Isso porque são frequentes as reclamações de usuários que dependem do elevador para embarcar e desembarcar dos ônibus alegando que ficaram “presos” na condução ou não puderam subir, porque a escada estava emperrada.

Em janeiro de 2024, por exemplo, o auxiliar administrativo, Nelson Corrêa, de 63 anos, não conseguiu desembarcar de um ônibus na Avenida Júlio de Castilho devido ao elevador que havia estrago.

Também em janeiro, um passageiro registrou goteiras em um dos ônibus que presta serviço à população. Nas imagens é possível notar um furo no teto do ônibus 3265 da linha 051, que faz trajeto entre o Terminal Bandeirantes e o Shopping Campo Grande. Na época, ele até ironizou dizendo que estava “refrescante”.

Lotação também é algo diário nas conduções. Nos horários de pico, então, as conduções se transformam em grandes – e abafadas – latas de sardinha.

Em uma das situações relatadas, eram 5h30 quando os passageiros se aglomeravam para entrar na linha 080 (Terminal Aero Rancho / Terminal General Osório).

Consórcio ‘escapou’ de CPIs

Nos últimos 10 anos, a criação de uma comissão para a investigação do Consórcio Guaicurus — contrato e serviços prestados — foi pautada pelo menos sete vezes na Câmara de Campo Grande. Uma por uma, as tentativas ficaram de lado nos trabalhos legislativos. Assim, as empresas ‘escaparam’ de comissão própria para investigar a situação precária do transporte coletivo na Capital.

A realidade dos ônibus de transporte público em Campo Grande mostra goteiras, superlotação, frota sucateada e falta de acessibilidade estão entre os principais desafios enfrentados pelos usuários do Consórcio Guaicurus.

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