Seguida por mais de 4 milhões de fãs nas redes sociais, Isabelle Abreu tem emocionado os fãs ao contar como convive com o diagnóstico de transtorno afetivo bipolar (TAB); após ser mãe de Amelie, as dúvidas aumentaram, mas ela se mantém forte para cuidar de sua primeira filha
Nas redes sociais, Isabelle Abreu, ou Bel, como é conhecida pelos seguidores, faz sucesso ao mostrar momentos com a família, passeios com o marido e momentos de sua vida. Ela é seguida por mais de 4 milhões de fãs, que recentemente foram surpreendidos por uma revelação: a jovem contou que convive há quase uma década com o diagnóstico do transtorno afetivo bipolar (TAB).
Em conversa, a influenciadora de 27 anos conta que trazer o assunto à tona foi difícil, mas também se tornou uma oportunidade para criar um canal de diálogo no qual ela pode desabafar sobre a longa batalha que enfrenta. É com sensibilidade e verdade que ela tem lutado para remover os estigmas e mostrar que pode sim levar uma vida normal.
Mãe de Amelie, ela viu a questão se tornar ainda mais complexa após a maternidade. “Muita gente falava ‘como ela vai ser mãe tendo bipolaridade?’, porque existe esse pensamento. Eu também pensei nisso: como criaria minha filha, se não sei lidar nem com a minha cabeça?”.
‘Descobri que não tinha cura e me desesperei’
A influenciadora recebeu o diagnóstico em 2018, quando tinha 20 anos. Na época, Bel fazia acompanhamento psicológico e acreditava que a tristeza, o desânimo e a angústia que sentia se tratavam de uma depressão. Foi após um longo processo que ela descobriu que tinha transtorno afetivo bipolar (TAB).
“Sendo sincera, eu relutei muito contra o diagnóstico, porque tinha medo de não ter controle das minhas emoções. Uma das primeiras coisas que descobri é que não tem cura, por isso, me deu desespero”.
Apesar do choque inicial, a influenciadora conta que a medicação e o acompanhamento psicológico após o início do tratamento provocaram um efeito imediato. Hoje, ela sabe que falar sobre o tema, tanto em conversas com a família como nas redes sociais, é uma oportunidade de desmistificar o diagnóstico.
“Hoje, minha família e meus amigos sabem lidar comigo. Quando estou em crise sabem respeitar meu momento, mas também me acolher. São aqueles que estão comigo há muitos anos. Por isso, às vezes, tenho dificuldade de fazer novas amizades, porque demora pra entender [o TAB] e, muitas vezes, as pessoas não entendem”.
Cobranças e culpas da maternidade
Foi no ano passado que Bel e o namorado, o influencer Gabriel Félix, descobriram que se tornariam pais. Ela temia os episódios depressivos. “A primeira coisa que quis fazer foi buscar ajuda. Durante toda a minha gravidez eu fiz terapia, eu fazia dois encontros [por semana] só pra ficar estabilizada”.
“Na única vez que tive uma crise grávida, eu falava com a Amelie na minha barriga, falava para ela o que estava acontecendo, mas que estava tudo bem. Porque tinha medo de passar [a tristeza] para ela”.
Junto do ciclo depressivo, vem a sensação de culpa por não ter o controle das próprias emoções. Após o nascimento da filha, a maior preocupação de Bel foi se manter bem. “Fico me perguntando por que estou depressiva. Eu tenho uma filha com saúde e meu namorado é um pai presente. Isso faz com que eu me sinta culpada”.
Além de uma preocupação, a maternidade mudou a forma de Bel lidar com as crises. Como a influenciadora relata, a vontade de se isolar diminuiu e deu espaço para que ela viva experiências ao lado da família, ainda que sejam as mais simples.
“Amelie é o combustível para poder lutar contra isso. No passado, eu não me dava a oportunidade de tentar sair da crise. Hoje, quero estar bem para criar ela, para ser a rede de apoio do Gabriel, porque somos os únicos na rede de apoio um do outro”.
De Isabelle, para Amelie
Ainda durante a chegada da filha, Bel passou a escrever cartas para Amelie. Alguns fragmentos foram compartilhados com os seguidores nas redes sociais da influencer, que através dos relatos, expõe os desafios da maternidade e reflexões sobre saúde mental. Na escrita, Bel encontrou uma forma de conversar com a filha sobre como se sentia. “Relatei todos os dias, até quando me senti mal. É a minha forma de demonstrar amor. Quero mostrar para ela que eu a amo, mesmo desse jeito”.
“Você é como um sonho bom, que eu não quero que termine nunca. […] Confesso que não é fácil, mas eu te amo tanto que não consigo explicar. Te amo até meu último suspiro”, diz Bel em uma das cartas publicadas no TikTok.
O que é o transtorno afetivo bipolar?
De acordo com a psiquiatra Fernanda Romano, formada pela Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de São Paulo, o transtorno afetivo bipolar é crônico. Um paciente diagnosticado com TAB deve passar a vida toda em tratamento, com o uso de medicações e sessões de psicoterapia. “Quando existe o abandono do tratamento medicamentoso, as taxas de episódios de mania e depressão são altas. Há uma probabilidade maior de haver essas recaídas”, explica ela.
O diagnóstico leva tempo. Muitas vezes, é necessário investigar o histórico de quadros de alteração no humor e a duração dos ciclos, já que outros quadros psíquicos podem causar instabilidade emocional de forma menos agravante. Além disso, o meio em que um paciente bipolar vive também se torna objeto de estudo.
“Em alguns casos, a história do paciente é muito clássica e o diagnóstico vem facilmente. Mas, nem sempre isso vai acontecer. Para nós [especialistas], vai haver dúvidas. Por isso, é preciso avaliar o paciente, tirar mais informações e realizar exames para entender se é um diagnóstico de TAB”, aponta Romano.
O transtorno bipolar é caracterizado por episódios de mania e hipomania ou depressão. Os episódios, ou ciclos — como Romano se referem a eles — podem se estender por longos períodos. “No ciclo depressivo, existe a falta de humor, perda de autoestima, mudanças no sono, perda de energia e cansaço. Dependendo do episódio, se existir um quadro grave, essa depressão pode ter sintomas psicóticos com características de delírios”.
“A mania é onde o paciente sente euforia, sente-se excessivamente alegre, com humor elevado, até mesmo muito irritado. Ele pode também ficar mais impulsivo e praticar atividades que, habitualmente, ele não faria. Em casos de mania psicótica, o paciente pode ter sintomas psicóticos, com alucinações. Na hipomania, os efeitos são menos extremos e o dano não é tão acentuado. Normalmente, não requer hospitalização e não há um extremo como o quadro psicótico”, explica a psiquiatra.
Embora muitas mães se preocupem, é possível exercer a maternidade plenamente. Há chances de que os filhos desenvolvam o transtorno, mas não há uma certeza absoluta. “De forma geral, os transtornos psiquiátricos têm uma base genética, mas essa base não é determinante. É importante ter um cuidado com a saúde mental, para que isso [o diagnóstico] não ocorra”, analisa Romano.
Em um diagnóstico como o de Bel, as causas são fatoriais. Como explica a psiquiatra, a genética é apenas um fator, assim como o meio em que o paciente vive. “No meio, existem muitas causas. Sofrer violência na infância, viver em ambientes hostis, que não são adequados, são fatores de risco também. São apenas alguns exemplos de como isso pode influenciar no desenvolvimento de uma doença mental”.
*Nota da redação: se você se identifica com alguma das situações narradas neste texto, busque pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), que oferece apoio emocional e prevenção ao suicídio. O serviço está disponível pelo número 188, chat e e-mail disponíveis em cvv.org.br. Também há postos físicos de atendimento (consulte os endereços no site).