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Guerra pelo jogo do bicho: Perito da Polícia Civil de MS usou o próprio celular para intimidar grupo rival de Razuk

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Policiais que estariam recebendo propina para atuarem na intimidação a anotadores de grupo paulista

 

 

O envolvimento de servidores públicos estaduais da segurança pública na guerra pelo controle do jogo do bicho em Campo Grande rendeu mais uma denúncia contra policiais. Desta vez, a Corregedoria-Geral da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul recebeu relato de que um perito criminal teria supostamente usado o próprio celular para ameaçar uma família que trabalha para uma das bancas.

Um documento protocolado na Corregedoria de MS,  denuncia um perito da Polícia Civil por intimidar um anotador do grupo rival do jogo do bicho, da empresa paulista.

Conforme revelado, comerciantes que atuam como anotadores de apostas denunciam policiais militares e civis que estariam abordando os cambistas para impor a mudança do controle das banquinhas do jogo do bicho para os donos da ‘Banca BR’.

De acordo com a denúncia, a tática, que não é nova, estaria usando a atuação policial na repressão à contravenção como forma de ‘pressionar’ os anotadores e coletores a aceitarem a nova direção, supostamente ligada ao deputado estadual Neno Razuk (PL).

Perseguição e intimidação

Um documento mostra que as novas ameaças começaram um dia antes de 8 de julho. No dia em questão, uma segunda-feira, a vítima disse que estava em casa junto da família. Uma vizinha teria mandado mensagens dizendo que tinha visto parado em frente a casa do anotador um Fiat Pálio, de cor vermelha, com três homens, em atitude suspeita.

Um deles desceu do carro e passou a fazer fotos da residência indo, inclusive, até o portão se abaixando e fazendo fotos de dentro da garagem da vítima. Logo em seguida, o homem voltou para a esquina onde continuou de ‘campana’. Momentos depois, a esposa do anotador saiu da residência e percebeu que estava sendo seguida pelo mesmo veículo que anteriormente estava em frente de sua casa.

Com medo, ela parou em uma farmácia para abrigar-se e ligou para o marido que pediu que acionasse a polícia. Um dos ocupantes do carro ainda desceu e ficou na esquina ‘cuidando’ a mulher que saiu do local indo em uma loja de roupas.

Ela foi seguida mais uma vez pelos ocupantes do carro. O marido da mulher foi em seu encontro e quando chegou ao local, o ocupante do Fiat Pálio que estava de ‘tocaia’ foi embora. Em seguida, a Polícia Militar chegou ao local e de acordo com a vítima, um dos militares que estava no local seria um conhecido.

Ao mostrar a foto do suspeito para policial, ele não o reconheceu. No entanto, ainda de acordo com o relato, dias antes de ter a esposa perseguida, o anotador revelou que recebeu mensagens com ameaças e intimidações. As ameaças determinavam que ele parasse de trabalhar no grupo que está atuando em Campo Grande, no jogo do bicho.

Ameaça

As ameaças ainda traziam que ele deveria trabalhar na atual empresa do mesmo ramo, do próprio Estado e que seria do deputado estadual Neno Razuk (PL). A ameaça ainda dizia que se ele continuasse trabalhando para a empresa paulista, seria preso.

Em julho deste ano, foi revelada uma disputa acirrada na Capital pelo jogo do bicho implicando servidores públicos da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) com a ‘guerra’ pelo controle da contravenção milionária.

No mês passado foi denunciada a tática usada com a atuação policial na repressão à contravenção como forma de ‘pressionar’ os anotadores e coletores a aceitarem a nova direção, supostamente ligada ao deputado estadual Neno Razuk (PL).

Em troca, os policiais receberiam propina em forma de ‘mesadas’, além de favores políticos dentro das instituições. Os laços entre servidores da segurança pública de MS e o jogo do bicho também não são novidade e já chegaram a ser apontados como pivô de mudanças na Sejusp.

No dia 20 deste mês, um celular foi encontrado na cela onde está encarcerado o major da Polícia Militar, Gilberto dos Santos, conhecido como ‘Barba’ e apontado como gerente do jogo do bicho.

Denúncia na Corregedoria

A Polícia Civil foi questionada sobre a denúncia contra o policial, sendo informado que foi protocolada a denúncia por suposta ameaça. Confira a nota:

“Referente aos questionamentos apresentados por esse veículo de comunicação, acerca de suposta ameaça praticada pelo perito, figurando como pretensas vítimas, apontadores do jogo do bicho, a Polícia Civil tem a esclarecer que, após pesquisas levadas à efeito, constatou-se que aludido servidor não pertence aos quadros da Polícia Civil do Estado de Mato Grosso do Sul. Esclarecemos, ainda, que em consulta ao sistema informatizado da Polícia Civil, não consta nenhum registro de ameaça, figurando como autor a pessoa do perito. Em consulta junto à Corregedoria Geral da Polícia Civil, foi constatado ter sido ali protocolada uma reclamação/representação em desfavor do policial, por suposta ameaça contra apontadores do jogo do bicho, entretanto, considerando que referido servidor pertence aos quadros da Coordenadoria Geral de Perícias, ou seja, instituição não subordinada à Polícia Civil, o documento em referência será redirecionado à Corregedoria daquela Instituição, para os fins pertinentes.”

A assessoria do deputado sobre os fatos, já que o nome do parlamentar é citado na denúncia, a defesa se manifestou, “Neno Razuk não tem ciência desse fato. E nega em absoluto qualquer envolvimento nisso. Está à disposição das autoridades, para esclarecer o que for necessário. O contraditório — ouvir o outro lado — é garantia legal que, uma vez observada, evita prejuízos descabidos”, disseram em nota os advogados André Borges e João Arnar.

Truculências, ameaças e tiros na disputa do jogo do bicho

Assustados, alguns apontadores que trabalham em Campo Grande relataram, em julho, que estavam com medo até de sair de casa. Segundo eles, quem trabalha para a banca atual passou a sofrer ameaças para supostamente ‘aceitarem’ o controle de Razuk.

Os relatos envolvem policiais e até o suposto uso de viaturas oficiais nas represálias disfarçadas de abordagens. Um dos apontadores contou que faz os jogos, mas que desde a semana passada está com medo.

Existem algumas filmagens e fotos que, segundo os denunciantes, revelariam a suposta presença de policiais entre os capangas escalados para ‘visitas’ de coerção. Ademais, os alvos das ameaças afirmam que até abordagens policiais ‘oficiais’ estariam sendo usadas para ‘forçar a barra’.

“Pessoal veio aqui oferecendo as novas maquininhas do jogo do bicho e disseram que quem não aceitar, não vai mais trabalhar em Campo Grande”, revela o apontador.

Segundo ele, colegas estariam sendo levados até para delegacia onde seriam coagidos a passar informações sobre os atuais ‘patrões’. Estranhamente, ainda segundo os relatos, os dados sobre quem estaria por trás da guerra não constariam nos TCOs (Termo Circunstanciado de Ocorrência) que são obrigados a assinar, já que são flagrados em contravenção.

MPMS não informa que fim levou investigação sobre Neno Razuk

O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), ligado ao MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), também foi questionado sobre o desfecho para investigações que implicaram o deputado Neno Razuk com a briga pelo jogo do bicho em Campo Grande.

O MPMS também foi acionado pela reportagem do Jornal Midiamax sobre as novas denúncias que implicam servidores públicos da segurança pública na guerra do jogo do bicho na capital de MS. Até o momento, não houve respostas.

No ano passado, o Gaeco deflagrou a Operação Sucessione, que prendeu de major da PM aposentado a estudante de medicina, em dezembro de 2023. A ação teve três fases, mas ninguém mais informou a quantas andam as investigações ou denúncias.

Major era gerente do jogo do bicho

O major aposentado da Polícia Militar, Gilberto Luiz dos Santos, conhecido como ‘Barba’, foi apontado como gerente do jogo do bicho no reduto da organização criminosa, segundo denúncia do Gaeco.

Segundo a denúncia do Gaeco, ‘Barba’ exerce um controle sobre os integrantes do grupo criminoso no que diz respeito às articulações da organização criminosa para a tomada do controle do jogo do bicho em Campo Grande, sempre atendendo aos comandos do suposto líder, o deputado estadual Roberto Razuk Filho, Neno.

Major Gilberto lidava ostensivamente com intermediários, oferecendo treinamento, controlando a ação dos ‘recolhes’ e ‘apontadores’ do jogo do bicho, sem comprometer a imagem do chefe da organização, apontado pelo MPMS como sendo Neno Razuk.

Quando flagrado na casa no Monte Castelo, em outubro de 2023, por policiais do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros), ocasião em que foram apreendidas 700 máquinas do jogo do bicho, o major havia dito que estava na residência jogando com outras pessoas.

O delegado que era titular do Garras também entrou na ‘dança das cadeiras’ promovida na Polícia Civil após a troca do delegado-geral e foi removido.

No entanto, na época, foi apreendida uma agenda que estava com o militar aposentado onde constavam nomes e o esquema de funcionamento atual do grupo de São Paulo, que supostamente está no controle do jogo do bicho em Campo Grande.

Na agenda ainda foram encontrados os nomes de ‘recolhes’ ligados ao grupo de São Paulo, que supostamente estavam na mira do grupo supostamente chefiado por Neno Razuk, seja para deixarem o grupo para o qual trabalhavam ou para serem alvos de nova ação.

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