Durante inauguração, moradores cobraram prefeita, que prometeu estudar a instalação de base fixa no local
A base móvel da Guarda Civil Metropolitana mal começou a funcionar em frente ao Carandiru, condomínio de blocos invadido no Bairro Mata do Jacinto há quase 20 anos, e a vizinhança já quer mais. A cobrança é por vigilância 24 horas por dia, sete dias por semana, em local onde, segundo moradores da região, estão abrigados “todos os problemas do bairro”.
Vizinhos do Residencial Atenas questionam o fato da GCM deixar “avisado” para a bandidagem que o trabalho só vai durar 10 dias e que o plantão no local só vai até 22h. “Acho pouco ficar só até 22h, deveria ser 24 horas”, afirma Ademir Claro, 58, que vivem há mais de 40 anos na Mata do Jacinto.
Ele, contudo, diz ser um alívio saber que há com quem contar nos próximos dias. “Para a gente é de uma grande importância ter a base aqui. É de grande valia porque aqui está uma desordem muito grande, um caso sério de insegurança no dia a dia”, opinou, relatando que histórias são assaltos são ouvidas diariamente. Na semana passada, uma vizinha dele foi roubada em ponto de ônibus por homem armado com estilete.
Elias Camilo dos Santos, 52 anos, também morador da região, administra do grupo de WhatsApp “Guardiães da Região Prosa”, que reúne mais de 800 pessoas. A expectativa dele é que com o resultado dos 10 dias no local, as forças de segurança percebam a necessidade da continuidade do trabalho. “Isso aqui é uma bandidagem fora da realidade, vocês não tem noção. A base aqui é importante para a solução de todos os problemas. Tudo que se rouba, tudo do que se faz de errado no bairro, ou entra ou sai de lá [Carandiru]”.
Santos foi um dos representantes dos moradores que foi até a Prefeitura de Campo Grande exigir instalação de base da GCM por lá. “Estamos há muito tempo lutando e ficamos satisfeitos com a resposta. A expectativa é que se estenda. Se verem que surtiu efeito, temos certeza que vão deixar por aqui”.
O comerciante afirma que já teve seu estabelecimento assaltado 7 vezes. “Não tem nenhum comerciante aqui que nunca foi vítima de assalto”.
Em resposta a cobrança dos moradores, durante a inauguração, a prefeita Adriane Lopes (PP) afirmou que o pedido pode ser avaliado. “Existe aqui uma subnotificação de crimes. As pessoas não denunciam por medo de retaliação. Acho que agora, as pessoas podem ficar mais confortáveis. Aí a gente vai conseguir agir mais decisivamente resolver o problema”.
Já o secretário especial de Segurança e Defesa Social, Anderson Gonzaga, explica que, por enquanto, não há previsão de prorrogação. “Esse é um projeto desenvolvido ao longo do ano, chama-se ‘Guardas em Ação’, que visa levar a Guarda Civil para junto da comunidade, percorrendo as 7 regiões”.
Ele explica que já existe base fixa da GCM na região do Prosa. “Junto com a comunidade, fizemos um levantamento para saber qual é a área mais crítica, com maior número de usuários de drogas e índice maior de furtos de residências. Agora, vamos fazer o trabalho preventivo e repressivo. O pessoal da guarda irá fazer abordagens, no trânsito também. Vamos atrás das motos irregulares, que infelizmente são utilizadas para cometer delitos”.
A ocupação – Há 19 anos, três blocos inacabados de 16 apartamentos no Residencial Atenas, localizado na Rua Jamil Basmage, no bairro do norte de Campo Grande, ganharam o apelido de “Carandiru”. Em outubro de 2005, após a falência da Degrau, construtora responsável, o condomínio foi invadido e passou a ser ocupado por cerca de 40 famílias, um total de 200 pessoas.
No dia 6 de junho de 2023, uma operação policial surpreendeu moradores da invasão e causou polêmica. Mais de 200 policiais – um total de 321 agentes da polícia, perícia, assistência social e bombeiros – e até um helicóptero foram usados na ação. Houve a descoberta que os 16 apartamentos haviam sido subdivididos e transformados em 46.
A operação policial classificou o local como “fábrica de crimes”, com registro de venda de drogas, armas e até homicídios. Todas as moradias foram vasculhadas e dez pessoas levadas presas.
No dia seguinte, a Degrau entrou com novo pedido de reintegração de posse. A Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul agiu para tentar intermediar acordo e exigir do poder público moradia digna para quem vivem no local, antes da retomada da posse pela construtora. O impasse segue até hoje.