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Da baixa autoestima à rejeição: obesidade infantil traz mais que os conhecidos problemas de saúde

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Em Mato Grosso do Sul, 2.194 crianças de 0 a 5 anos estão com peso elevado para a idade

 

Rejeição, exclusão social e baixa autoestima. Essas são apenas algumas das consequências emocionais que crianças e adolescentes com obesidade infantil enfrentam. Para além das questões de saúde física, que sempre estão em debate, esses impactos emocionais muitas vezes são negligenciados, enquanto o número de crianças obesas continua a crescer em todo o Brasil, desencadeando graves transtornos psicológicos.

Até 2025, a OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que o número de crianças obesas no mundo deve alcançar a marca de 75 milhões. No Brasil, 80% das crianças de até 5 anos consomem alimentos como biscoitos e refrigerantes nas refeições, o que pode agravar ou desencadear casos de obesidade.

Além disso, a OMS recomenda que crianças e adolescentes pratiquem 60 minutos de atividade física diariamente, mas mais de 80% não atingem esse objetivo.

Embora não haja dados específicos sobre a obesidade infantil, o Sisvan (Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional) aponta que, em Mato Grosso do Sul, 2.194 crianças de 0 a 5 anos estão com peso elevado para a idade. Na faixa etária de 5 a 10 anos, os dados são ainda mais preocupantes, com 3.541 crianças acima do peso, somente em 2024.

Em meio a essa realidade complexa, no Dia Nacional da Conscientização contra a Obesidade Infantil, celebrado em 3 de junho, o Jornal Midiamax reforça a importância de conscientizar a população sobre os cuidados necessários para combater os impactos físicos e mentais da doença.

O que caracteriza a obesidade infantil?

A obesidade infantil é uma condição caracterizada pelo excesso de gordura corporal em crianças, que pode afetar negativamente sua saúde. Walter Peres, médico pediatra e professor do curso de Medicina da Uniderp, explica que o diagnóstico baseia-se no IMC (Índice de Massa Corporal) ajustado para idade e gênero.

Obesidade Infantil

Obesidade Infantil
Consumo de ultraprocessados aumenta riscos de obesidade (Divulgação)

“Valores acima do percentil 95 para a idade indicam obesidade”, afirma. No Brasil, uma em cada cinco pessoas está com sobrepeso ou obesidade, segundo dados do Ministério da Saúde.

Nos últimos anos, um fator determinante para o aumento dos casos de obesidade foi o distanciamento social adotado para conter o avanço da Covid-19. Com isso, houve um aumento no sedentarismo e no consumo de alimentos fornecidos por aplicativos de delivery. Em paralelo, escolas suspenderam aulas presenciais ou implementaram o regime de educação a distância, dificultando ainda mais a prática de atividades físicas pelas crianças.

“O aumento da obesidade infantil é atribuído a múltiplos fatores, incluindo alimentação inadequada, sedentarismo, predisposição genética e influências socioeconômicas. O consumo elevado de alimentos ricos em calorias e pobres em nutrientes, combinado com a diminuição da atividade física, são fatores principais”, destaca o médico.

Impactos sociais e psicológicos da obesidade infantil

Psicóloga especializada em atendimento materno-infantil, Keyth Gimenez Goyano, explica que a obesidade infantil é uma das maiores fontes de problemas emocionais na infância. A constante exposição a comentários negativos e à marginalização pode criar um ciclo de isolamento, onde a criança se fecha socialmente, agravando ainda mais sua condição emocional.

“A obesidade infantil afeta tanto o desenvolvimento físico quanto o emocional das crianças, especialmente em questões relacionadas à autoestima e autoimagem, por isso, na psicoterapia, ajudamos as crianças e as famílias a lidarem com essas questões”, diz.

Bullying afeta principalmente crianças com obesidade

Bullying
Bullying nas escolas ilustrativa (Divulgação, Freepik)

Além das consequências para a saúde e autoestima, uma criança com obesidade pode sofrer com práticas de bullying, o que costuma ocorrer com maior frequência na infância. Na maioria dos casos, o bullying está relacionado a características físicas da vítima, sendo ainda mais intenso no caso das crianças obesas.

“Frequentemente crianças com obesidade relatam casos de bullying, isso pode afetar significativamente seu desenvolvimento. Na adolescência, esses problemas podem se agravar, já que outros conflitos emocionais se instalam nessa fase”, ressalta Keyth Gimenez.

Assim como a psicóloga, Walter Peres reforça que os impactos da obesidade infantil afetam o desenvolvimento social de crianças e adolescentes, gerando baixa autoestima, isolamento social e bullying. Por isso, o tratamento precisa abranger tanto o aspecto físico quanto o emocional.

“Essas experiências podem afetar negativamente o bem-estar emocional e psicológico da criança, prejudicando seu desenvolvimento social e acadêmico. Dessa forma, promover uma vida saudável desde cedo é essencial para prevenir a obesidade infantil e assegurar um futuro saudável e feliz para nossas crianças”, orienta.

O bullying consiste na intimidação sistemática, que envolve agressões físicas e psicológicas, atos de humilhação ou discriminação. Por isso, conforme enfatizado pelos especialistas, pode gerar sérias consequências durante a infância e também na fase adulta.

Nos últimos anos, a violência nas escolas se tornou um grande problema no país, por isso, o MEC (Ministério da Educação) instituiu, em 2016, a Lei nº 13.277, que estabelece políticas de combate e prevenção ao bullying nas escolas.

Conforme o Ministério da Saúde, crianças vítimas de bullying apresentam maior risco de desenvolver problemas de saúde na vida adulta. Entre os problemas estão transtornos psiquiátricos, compulsão alimentar, vício em cigarro ou álcool e diagnóstico de doenças graves, além dos efeitos nas relações sociais e profissionais.

O médico explica que o tratamento envolve uma abordagem multidisciplinar, focando em mudanças nos hábitos alimentares e no aumento da atividade física. Além de consultas regulares com nutricionistas, médicos e psicólogos, essenciais para monitorar o progresso e oferecer suporte contínuo.

Hábitos saudáveis são chave para combate a obesidade

Obesidade Infantil
OMS recomenda que crianças pratiquem atividades físicas

A obesidade não é apenas resultado de fatores genéticos; portanto, no caso de crianças e adolescentes, os pais desempenham um papel crucial para um comportamento saudável.

Segundo Walter Peres, é essencial que os pais promovam uma alimentação equilibrada, incentivem a prática de atividades físicas e limitem o tempo de tela. Além disso, criar um ambiente positivo e de apoio pode motivar as crianças a adotarem hábitos saudáveis.

“Uma alimentação não saudável é caracterizada pelo consumo excessivo de alimentos ricos em açúcares, gorduras saturadas, sódio e alimentos ultraprocessados, e pelo baixo consumo de frutas, vegetais, grãos integrais e proteínas magras. Por isso, os pais precisam estar atentos”, alerta o médico.

A recomendação do especialista é evitar a introdução de doces, frituras e alimentos ultraprocessados na dieta de crianças menores de dois anos. Após essa idade, esses alimentos devem ser oferecidos com moderação, enfatizando sempre opções mais saudáveis.

Nessa perspectiva, alimentos como carnes, frango, peixe, ovos, tofu e leguminosas são essenciais para o crescimento e desenvolvimento das crianças. Esses alimentos ajudam a manter a massa muscular e fornecem energia para atividades físicas. Além disso, leite e seus derivados são fontes importantes de cálcio, fundamental para o desenvolvimento saudável dos ossos e dentes. Frutas também são essenciais para uma alimentação saudável.

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