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Gasbol será usado para distribuir biogás na região Centro-Sul do Brasil

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Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil se prepara para a inclusão do biometano em suas operações

Com a redução paulatina da importação de gás natural da Bolívia e olhando para os incentivos do Combustível do Futuro, a TBG (Transportadora Brasileira Gasoduto Brasíl-Bolívia) se prepara para entrar no mercado de biometano. O Gasbol tem posição privilegiada na região Centro-Sul do Brasil e é um gasoduto estratégico.

Mesmo na iminência de o contrato com a Bolívia não ser renovado a partir de 2030, os governos brasileiro e argentino negociam a utilização da estrutura boliviana para escoar gás de xisto das reservas de Vaca Muerta no norte da Patagônia, com alternativas de conexão do Gasoduto Nestor Kirchner ou por Uruguaiana (RS) ou pela Bolívia. Há ainda uma proposta de conexão pelo Paraguai.

VIA PARAGUAI

No último dia 18, o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que o governo discute a possibilidade de que o gás natural produzido em Vaca Muerta possa chegar ao Brasil pelo Paraguai.

“Estamos com discussões avançadas com a Argentina para recebermos gás da região de Vaca Muerta e inclusive estive com o presidente do Paraguai nesta semana para ampliar as rotas possíveis”, disse o ministro durante abertura da Gas Week 2024, evento produzido pela Agência EPBR.

Segundo Silveira, o Paraguai poderia receber um gasoduto conectando a região do Chaco, na Argentina, ao Mato Grosso do Sul, no Brasil.

Ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira (Foto: Marcelo Casal – ABr)

“Há uma proposta do Paraguai para que se estude, inclusive com a participação do setor privado, uma leitura sobre os potenciais da produção de gás nessa região já identificada e que possa também ser uma possibilidade de ter um desvio ao invés do gás chegar à Bolívia e entrar no Brasil”, disse.

“Uma outra possibilidade de vir pelo Paraguai chegando até o Mato Grosso do Sul, o que nos pareceu algo extremamente viável em um primeiro momento, mas é claro que é algo incipiente”, completou.

Segundo Silveira, para o Brasil, a rota seria interessante em razão dos investimentos que proporcionaria. “Seria vantagem aumentar a nossa oferta [de gás], porque essa infraestrutura poderia chegar ao Mato Grosso do Sul, aumentando assim a infraestrutura nacional”.

Até agora se discutia a possível entrada do gás argentino pelo Mato Grosso do Sul, a partir da infraestrutura já existente e ociosa da Bolívia – que possui gasodutos interligados tanto com a Argentina quanto com o Brasil.

BIOMETANO

Mas o que mais atrai são os incentivos do Combustível do Futuro. Assim, o foco é na utilização do Gasbol na distribuição de biogás no Centro-Sul, potência na produção agrícola e de biogás.

“O biometano hoje é um assunto pujante. Temos sido realmente muito demandados. Temos trabalhado para desenvolver um modelo de negócio que seja flexível para o mercado, que possamos realmente ter oportunidade de injetar o biometano na malha da TBG”, disse o responsável por novos negócios da companhia, Rafael Perrone.

Rafael Perrone, responsável por novos negócios da TBG (Foto: Linkedin)

Ele lembra que a malha da TBG passa por importantes estados produtores agrícolas, como Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que hoje representam cerca de 50% do PIB nacional.

“A TBG tem uma posição privilegiada, não só por passar pelo Centro-Sul, mas também cortar alguns estados, São Paulo, Paraná (…) É um potencial de produção de biometano muito grande”.

Segundo Perrone, a companhia já tem feito uma abordagem junto aos agentes de mercado dessas regiões, para propor e implantar soluções logísticas que possam alavancar oportunidades para o biometano, bem como de expansão da malha de transporte da TBG.

“Estamos realmente engajados na busca de oportunidades de negócios, seja em biometano, seja através da expansão da nossa malha de transporte, tentando dar uma interiorização do gás, que é importante”.

O executivo também vê a necessidade de criação de hubs para o recebimento de biometano, dada a produção pulverizada pelo território nacional.

“Quando olhamos a estrutura do gasoduto, o traçado do gasoduto, e até mesmo o traçado do gasoduto de algumas distribuidoras, percebemos a necessidade de alguns hubs. E é nesse sentido que a gente também tem trabalhado em uma iniciativa de pensar em estruturar hubs para recebimento desse biometano”.

INCENTIVOS PARA O BIOGÁS

A companhia tem pressa em desenvolver sua estratégia de biometano a tempo da regulamentação do Projeto de Lei do Combustível do Futuro, que atualmente está em discussão no Senado, e prevê incentivos para o biogás.

“Esse é um outro desafio. Construir no momento e no “timing” que o mercado precisa. Isso é realmente um desafio, mas a gente tem essa disposição e essa vocação interna. Então, a gente acredita que a gente dá conta”.

O texto proposto pelo relator na Câmara, deputado Arnaldo Jardim (Cidadania/SP), estabelece que produtores e importadores de gás (seja para autoconsumo, seja para comercialização) comprovem, anualmente, a compra – ou consumo – de uma quantidade mínima de biometano em relação ao volume de gás natural que vendem ou consomem.

A proposta é que a compra obrigatória comece a valer a partir de 2026, seguindo uma curva crescente: o compromisso de aquisição do biometano parte de uma meta de 1% do volume de gás comercializado no ano civil e deverá chegar em 10% até 2034.

INVESTIMENTO CHINÊS

Senadora Tereza Cristina (PP-MS)

Quarto maior destino dos investimentos chineses no mundo, e o principal na América Latina, o Brasil deve aproveitar a parceria com o país asiático para desenvolver a cadeia de biogás, diz a senadora Tereza Cristina (PP/MS).

A produção brasileira de biogás mais que duplicou nos últimos cinco anos. Ao todo, foram produzidos 2,88 bilhões de m3/ano, para aproveitamento energético, em 2022, um crescimento de 110% em relação aos volumes de 2018, de acordo com o Centro Internacional de Energias Renováveis e Biogás (CIBiogás).

Mas esse aproveitamento ainda está muito aquém. Dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), apontam que o potencial técnico energético do biogás de resíduos no Brasil passa dos 80 Mtep até 2031, o equivalente a 25% da demanda energética nacional.

“O biogás de rejeitos da agropecuária é um segmento de possível colaboração [com a China]. O Brasil já tem alguma estrutura nessa área, mas aquém do nosso potencial”, disse Tereza durante evento de comemoração dos 50 anos da relação Brasil-China.

“A China é líder, detém capital e tecnologia. Podemos tentar atrair investimentos chineses diretos nessa área, que tem potencial para gerar energia limpa e lidar com rejeitos de forma sustentável socioeconômica e ambientalmente, e descarbonizar a cadeia de proteína animal”, completou a senadora.

Apesar do crescimento, o mercado brasileiro de biogás ainda dá seus primeiros passos: o volume produzido em 2022 representa cerca de 26% do potencial de curto prazo.

Entre as aplicações energéticas do biogás, o biometano se destacou com um crescimento de 82% no número de plantas no país em 2022. Ao todo, 20 plantas estavam em operação no ano passado.

Essas plantas converteram 22% do biogás produzido no Brasil. A geração de energia elétrica segue como principal destino do biogás: responde por 86% das plantas em operação no Brasil e por 72% do volume de produção de biogás. A tendência é que o biometano passe a absorver cada vez fatias maiores da produção de biogás do país.

O maior volume de biogás produzido no Brasil vem dos aterros sanitários – que aproveitou energeticamente cerca de 2,1 bilhões de m3/ano de biogás em 2022, o equivalente a 74% do biogás produzido no país.

MATO GROSSO DO SUL

Compressor de biometano com planta integrada de acondicionamento de biogás instalado na Adecoagro, em Ivinhema (Foto: Divulgação-Adecoagro).

Mato Grosso do Sul entra na nova fronteira das energias renováveis e transição energética com a ampliação de investimentos em usinas de biometano. Além de produção da energia limpa a partir de dejetos de animais como suínos e bovinos, o biometano obtido por meio da vinhaça que é subproduto da cana-de-açúcar ganha mais força.

A Atvos anunciou investimento de R$ 350 milhões em uma usina de biometano em Nova Alvorada do Sul. A unidade, que deve iniciar a construção ainda neste ano, utilizará como insumos a vinhaça e a torta de filtro, resíduos resultantes da cadeia produtiva da cana, ocupará uma área de 150 mil metros quadrados e terá capacidade instalada de 28 milhões de metros cúbicos de biometano.

Esta será a segunda unidade do setor sucroenergético a investir neste tipo de energia no Estado. A primeira usina foi lançada pela Adecoagro em Ivinhema que já está duplicando sua capacidade de produção.

“O Estado fez a regulamentação do biometano, somos um dos primeiros a fazer isso. A MSGás fez um edital para a comprar o produto. Temos a produção de biometano na suinocultura, na Adecoagro e agora vamos reduzir a alíquota do ICMS para o biometano. Tudo isso caminha para estimular este mercado, é uma grande fronteira, uma transição energética”, destaca o secretário de Estado de Meio Ambiente, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck.

Além do setor sucroenergético, a produção de biometano já é amplamente feita na suinocultura. Um dos projetos de destaque é o da SF Agropecuária em Brasilândia, que produz mais de 180 mil suínos por ano e realiza o ciclo completo de produção. A propriedade é uma das pioneiras na utilização de dejetos de suínos no abastecimento de energia por meio de geração distribuída, e conta com diversas atividades e um portfólio diversificado

Outra iniciativa de sucesso é da Adecoagro que usa o biometano para abastecer a frota h´[a um ano. Com a ampliação da planta de Ivinhema, a empresa aumentará sua capacidade e poderá produzir até 1.100.000 Nm3/mês de biometano, o equivalente a 1.000.000 litros de diesel.

Vinhaça, além de fertilizar as plantações de cana, vai gerar gás natural renovável

Com o uso crescente da vinhaça, até sua totalidade, a ser transformada no combustível gasoso renovável, a estimativa é substituir até 50 milhões de litros de diesel, o que permitirá a substituição do consumo de diesel equivalente nas operações agroindustriais e no transporte de produto acabado, açúcar e etanol.

Além de ampliar a sustentabilidade de todo o processo, a operação irá aumentar a nota da companhia no Renovabio (principal métrica de avaliação da sustentabilidade), já que o uso intensivo de diesel representa o item de maior impacto na avaliação, o que permitirá uma receita adicional na emissão de CBios.

Metas – De acordo com o titular da Semadesc, iniciativas como estas se adequam perfeitamente a meta do Governo de ser sustentável e Verde. “O incremento na busca por energias renováveis, o biometano produzido por estas usinas são uma alternativa viável ao diesel e outros combustíveis fósseis.

Além disso, a produção de biometano a partir de resíduos de suínos e de cana-de-açúcar ajuda a reduzir as emissões de gases de efeito estufa, tornando a solução ecologicamente correta”, enfatizou lembrando que estas inovações são incentivadas pelo Governo do Estado por meio dos programas de incentivos fiscais como o Leitão Vida e o MS Renovável.

Sobre o novo empreendimento da Atvos, anunciado durante  Expocanas em Nova Alvorada do Sul, Verruck destaca a inovação do setor sucroenergético. “Vemos mais um grande investimento no setor sucroenergético com a Atvos, mas acima de tudo temos um avanço na transição energética que o Estado tanto almeja. Entramos agora numa nova etapa na produção de energias renováveis”, finalizou.

Setor de bioenergia impulsiona produção de cana-de-açúcar

De acordo com projeções da Abiogás (Associação Brasileira de Biogás), a produção de biometano deve saltar 600% até 2029, saindo do atual 1 milhão de m³ por dia para 7 milhões de m³/dia. Ainda segundo a entidade, atualmente existem 20 plantas no país, sendo que apenas seis comercializam o gás e a expectativa de é que o total de unidades produtoras voltadas à comercialização chegue a 90 nos próximos cinco anos, sendo 42% via setor sucroenergético.

O setor sucroenergético participa com 16% no PIB industrial do Estado, e possui atualmente 800 mil hectares de cana-de-açúcar plantada em 42 municípios. O município de Nova Alvorada do Sul tem 116 mil hectares de cana e lidera o ranking de maiores lavouras de cana-de-açúcar do Brasil.

GÁS NATURAL DA BOLÍVIA

Companhia de gás de MS também se prepara para incluir o biometano em suas operações

O gás natural que sai da Bolívia entra no Brasil por Corumbá, na fronteira de Mato Grosso do Sul, onde começa o Gasbol. Parte do volume fica na estação de entrega em Campo Grande, onde a MSGÁS tem estação de compressão e distribuição para os segmentos comercial, industrial, cogeração e GNV. No ano passado a Companhia lançou plano de expansão com metas para o GNL, GNC e biometano. O objetivo é expandir a oferta além do eixo Campo Grande-Três Lagoas, alcançando cinco municípios, que somariam uma demanda estimada de 21 mil m3/dia, num primeiro momento: Bataguassu, Dourados, Inocência, Ribas do Rio Pardo e Sidrolândia.

A primeira cidade contemplada pelo plano de expansão é Bataguassu, a partir de julho de 2024, com foco na demanda dos postos de gás natural veicular (GNV). A movimentação prevista é de 700 m3/dia. Em seguida, a MSGás pretende iniciar o fornecimento de gás aos municípios de Dourados e Sidrolândia, a partir de setembro. Juntas, somariam uma demanda de 500 m3/dia.

Em Dourados, porém, existe uma expectativa de que o consumo atinja cerca de 4,5 mil m3/dia em 2026, conforme o mercado local for sendo desenvolvido. A partir de janeiro de 2025, a ideia é levar o gás até Inocência, que pode demandar 20 mil m3/dia, mas cujo ramal dedicado ainda depende da evolução nas negociações comerciais com a Arauco, que vai instalar uma fábrica de celulose. Por fim, a partir de março de 2025, está previsto o início do atendimento a Ribas do Rio Pardo, com foco em GNV e uma demanda estimada em 400 m3/dia.

Todos os projetos, no entanto, estão sob avaliação até regulamentação do PL Combustíveis do Futuro, aprovado pela Câmara Federal e que está em discussão no Senado. A Companhia também se prepara para incluir o biometano em suas operações.

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