Segundo pesquisa da Universidade da Califórnia, mulheres ficam com mais vontade de comer alimentos calóricos quando se sentem sozinha
Um estudo da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) apontou que mulheres ficam com mais vontade de comer alimentos calóricos durante os momentos de solidão.
A pesquisa analisou o comportamento de 93 mulheres, que foram divididas entre dois grupos: as que obtiveram pontuação alta na escala de isolamento social e as que tiveram pontuação baixa.
As participantes que estavam se sentindo mais sozinhas apresentaram maior percentual de gordura, qualidade inferior de dieta e dependência alimentar. Elas também tinham níveis mais altos de depressão e ansiedade.
A comida como fuga e alívio da solidão
Segundo a psicóloga Juliana Santos Lemos, especialista em Comportamento Alimentar e Obesidade pela FAECH/MG, para suprir a falta de companhia, a mulher usa a comida como a maior ou a única fonte de prazer.
“Os alimentos se tornam uma válvula de escape, uma forma de distração para escapar da realidade e aliviar as dores momentâneas”, completa a especialista em Psicopatologia e Terapia Cognitivo-Comportamental pela PUC/RS.
De acordo com a psicóloga, a solidão gera ou agrava condições como ansiedade, estresse ou depressão, levando ao comer emocionalmente.
Nestes casos, a preferência é por alimentos ricos em açúcar e gorduras, que oferecem a sensação rápida de prazer. Isso porque eles ativam o sistema límbico no cérebro, região que envolve as emoções e o mecanismo de ganho e recompensa.
“Ao comer um doce, por exemplo, que é muito palatável, há uma diminuição dos sintomas estressores, cujo efeito acaba sendo registrado pelo cérebro. Ou seja, quando a mulher estiver ansiosa, automaticamente, haverá uma associação aos doces. Como uma espécie de fuga e alívio do estado emocional, fazendo com que ela fique condicionada ao alimento nos momentos de tensão”, explica Juliana.
Saúde comprometida
Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 49% das pessoas que apresentam algum distúrbio alimentar são obesas e 15% são obesas mórbidas. A psicóloga explica que o estresse aumenta a liberação de hormônios como o cortisol.
“Em níveis acima do normal, o cortisol eleva o açúcar no sangue. Aumenta a vontade de comer alimentos calóricos e promove o ganho de peso com acúmulo de gordura abdominal”.
O estufamento gástrico, conforme Juliana, também é usado como esquiva experiencial. “A mulher acaba tirando o foco dos problemas e direcionando para a sensação de estufamento e contentamento que a comida proporciona”, diz.
Tratamento
A psicoterapia é uma aliada no processo de desenvolvimento do repertório emocional, ajudando a afastar o sentimento de culpa que surge quando não se consegue ter controle dos hábitos condicionados às emoções.
“O repertório auxilia na compreensão e criação da rede de apoio e da reestruturação de crenças e regulação emocional em relação à comida, substituindo comportamentos prejudiciais e aumentando os preventivos”, avalia Juliana.
Neste sentido, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) é “padrão ouro” para tratamento de transtornos alimentares, perda de peso e obesidade, segundo a especialista.
“Com esta abordagem, é possível entender os aspectos que antecedem a ingestão alimentar e que definem o conjunto de cognições que constroem o processo da alimentação, além de gerenciar outros fatores que impactam a saúde física e mental”, finaliza.