Crimes foram ordenados pela alta cúpula da organização após perdas de cargas milionárias de cocaína
O grupo criminoso especializado no tráfico de cocaína de Mato Grosso do Sul para outros estados – que tinha policiais civis de Ponta Porã como membros para fazer o ‘frete seguro’ – cometeu pelo menos três assassinatos. As execuções, conforme denúncia do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), ocorriam como ‘queima de arquivo’ quando algum membro da organização criminosa perdia cargas de cocaína.
Cristian Alcides Ramires Valiente, conhecido como ‘Galo’, foi assassinado no dia 22 de outubro de 2022 após perder uma carga de 435 quilos de cocaína – avaliada em cerca de R$ 10,8 milhões, levando em consideração o preço médio de venda de R$ 25 mil o kg nas principais metrópoles do país -.
Douglas Lima conhecido como ‘Dodo’ que fazia a intermediação dos fretes para a quadrilha, foi preso pelo assassinato de Cristian, morto na Rua Barra Mansa, no Guanandi.
A ordem do serviço para matar Cristian veio de Valdemar Kerkoff – membro influente com a alta cúpula da organização -, que foi executado junto de seu irmão Eder, cerca de 8 meses depois em um lava-jato em Ponta Porã.
A quadrilha usava empresas de distribuidoras de bebidas, telefonia e de transportes para fazer parte do transporte da droga em caminhões, e por outras vezes, usava viaturas da Polícia Civil, que ficavam com os policiais Hugo César Benites e Anderson César. Os policiais, lotados na 1º delegacia de Ponta Porã, chegaram a receber R$ 80 mil por transporte de cocaína.
Em setembro de 2023, uma carga de 500 quilos de cocaína foi apreendida. O investigador Anderson César foi preso no ano passado quando transportava drogas para a organização criminosa. No mês seguinte, no dia 5 de outubro de 2023, uma tonelada de maconha em meio a uma carga de carne foi apreendida e Fernando Henrique preso.
Joesley da Rosa, líder da organização, morava em um condomínio de luxo em São Paulo. 21 pessoas foram presas em março deste ano, na deflagração da Operação Snow.
A casa de Joesley fica no condomínio Acapulco, no Guarujá, onde as residências são vendidas de R$ 3 milhões a R$ 12 milhões. Joesley tem duas empresas em Campo Grande que são usadas para ‘branquear’ as drogas enviadas para outros estados. Organizada, estruturada e com divisões de tarefas bem definidas, alguns membros acabaram sendo assassinados após a perda de cargas de drogas.
Viatura flagrada em casa descarregando cocaína
Durante uma das viagens dos dois policiais, imagens de câmeras de segurança da casa mostram a viatura entrando na garagem da residência e em seguida descarregando fardos pretos onde estavam a droga. Nas imagens, Valdemar Kerkof aparece ajudando a dupla de policiais a descarregar a viatura. Ele chega a olhar para as câmeras de segurança da casa.
O veículo usado pelos policiais pertence a 1º Delegacia de Ponta Porã. Pelas imagens, os policiais chegam a casa no dia 4 de maio de 2023, e retiram da viatura cerca de 10 caixas com drogas. A residência usada pela quadrilha era alugada para festas e eventos.
Padrão de vida incompatível
Segundo denúncia do Gaeco, Anderson tem patrimônio milionário incompatível com sua renda. Anderson César dos Santos é investigador de 1º classe e recebe cerca de R$ 9 mil de remuneração. Segundo o Gaeco, o policial tem uma casa em um bairro de luxo em Ponta Porã, avaliada em cerca de R$ 2 milhões, além de uma caminhonete Amarok avaliada em R$ 160 mil.
A esposa do policial é professora da rede estadual da cidade e recebe cerca de R$ 2 mil, mas tem um Jeep Compass avaliado em R$ 246 mil. O casal ainda tem uma filha, professora convocada da rede estadual, com dois veículos em seu nome, no total de R$ 108 mil.
No final de 2022, o policial foi denunciado pela Polícia Federal por patrimônio incompatível com sua renda. Segundo trecho da denúncia, “têm padrão de vida, a priori, incompatível com a renda lícita por eles recebida”, informando ainda que há “indícios de incompatibilidade dos rendimentos lícitos auferidos pelo policial Anderson”. Anderson já tinha sido preso em setembro de 2023 com uma carga de cocaína avaliada em R$ 40 milhões.
No final de 2022, o policial foi denunciado pela Polícia Federal por patrimônio incompatível com sua renda. Segundo trecho da denúncia, “têm padrão de vida, a priori, incompatível com a renda lícita por eles recebida”, informando ainda que há “indícios de incompatibilidade dos rendimentos lícitos auferidos pelo policial Anderson”. Anderson já tinha sido preso em setembro de 2023 com uma carga de cocaína avaliada em R$ 40 milhões.
Campo Grande era ‘QG’ para esconder a droga
A quadrilha tinha Campo Grande como entreposto para guardar a cocaína que era distribuída para outros estados. A droga era escondida em casas nos bairros Tijuca, Coophavila e Jardim Pênfigo. A quadrilha tinha como líder Joesley da Rosa, que tinha duas empresas usadas para ‘branquear’ cargas de drogas que saíam de Campo Grande com destino a São Paulo.
Abaixo de Joesley vinha Valdemar Kerkhoff Júnior, que acabou fuzilado junto do irmão Eder Kerkhoff, no dia 27 de junho de 2023, como ‘queima de arquivo’, na mesma linha do organograma vinha Douglas Santander, conhecido como ‘Dodô’, preso pelo assassinato de Cristian Alcides Ramires, conhecido como ‘Galo’.
Logo abaixo de Douglas vem Mayk Rodrigues e em seguida no organograma constam Eric Marques, Paulo César e os policiais civis Anderson César e Hugo Benites.