Pesquisadores dos EUA investigaram como a impaciência afeta nas escolhas de uma decisão e como lidamos emocionalmente com a espera; saiba mais
Você é uma pessoa impaciente que odeia esperar em filas ou para o computador carregar? Em dois estudos recentes, Annabelle Roberts, professora assistente de marketing na Universidade do Texas em Austin, nos Estados Unidos, investigou o porquê aguardar pode ser tão torturante para algumas pessoas.
Os resultados foram apresentados em 14 de dezembro de 2023 no periódico The Journal of Personality and Social Psychology. Junto de seus coautores, Roberts explora nas pesquisas como a vontade de encerrar funções impacta na falta de paciência.
A professora é doutora em ciências comportamentais e seu trabalho oferece lições sobre o que os profissionais de marketing podem fazer para tornar a espera menos estressante “Todo mundo já passou pela experiência de ficar excessivamente frustrado enquanto esperava”, diz a professora, em comunicado.
O primeiro artigo explora como a impaciência afeta as tomadas de decisões – por exemplo, quando a pessoa opta por concluir uma tarefa de imediato ao invés de deixar para depois. O segundo estudo examina a perspectiva emocional das pessoas quando estão esperando e como seus sentimentos mudam quando a espera chega ao fim.
O fim como necessidade
Annabelle Roberts, conjuntamente com Alex Imas e Ayelet Fishbach, da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, concluíram que a principal causa da impaciência é o “encerramento”, ou seja, a necessidade que sentimos de finalizar funções. Tal desejo afeta a a escolha intertemporal – os valores relativos que as pessoas atribuem, por exemplo, a um pagamento hoje versus um pagamento em uma data futura.
Em sete estudos realizados online e em laboratório, os participantes puderam escolher entre trabalhar mais cedo ou esperar para trabalhar menos depois, obtendo o mesmo resultado. Em outra situação, eles podiam pagar suas dívidas mais cedo se pagassem um valor maior.
Dentre as respostas, os integrantes estavam dispostos a trabalhar mais quando isso permitisse que eles pudessem encerrar suas tarefas mais cedo. Além disso, os participantes pagariam U$ 1 a mais se isso fornecesse a possibilidade de pagar logo suas dívidas e tirar da cabeça a pendência do pagamento.
Pelo mesmo salário, eles também preferiram realizar 15% a mais de trabalho — contanto que isso permitisse que os indivíduos terminassem de trabalhar mais cedo.
“A necessidade de fechar metas ajuda a explicar a preferência contraintuitiva de trabalhar mais cedo ou pagar mais cedo. Descobrimos que a impaciência não se trata apenas deste desejo míope pela recompensa. É também uma questão de riscar objetivos da sua lista, não ter o objetivo pairando sobre eles”, explica Roberts.
Como pessoas que necessitam de um “encerramento” possuem menor probabilidade de procrastinar, a professora observa que esses estudos podem contribuir com gestores que queiram motivar suas equipes.
As descobertas sugerem ainda que promoções de marketing como, por exemplo, “compre agora e pague depois” às vezes não funcionam,. Isso porque os consumidores podem não querer se estressar com dívidas.
A perspectiva emocional da espera
Em seu segundo artigo, Roberts analisou a perspectiva emocional da espera. Ela descobriu que a angústia se intensifica quando a ação de esperar chega ao fim. “Este artigo tratava dos sentimentos das pessoas, de suas experiências enquanto esperam. Quando você espera que a espera acabe logo, você fica mais impaciente perto dessa expectativa”, avalia Roberts.
Em situações da vida real, como a espera pela vacina contra a Covid-19 ou pela chegada de um ônibus, os participantes analisaram suas próprias impaciências enquanto esperavam. A frustração era maior à medida que a espera chegava ao fim: eles se sentiam mais angustiados quando estavam perto de serem vacinados ou quando o transporte estava prestes a chegar.
Durante as eleições presidenciais de 2020, um grupo de entrevistados relatou sua falta de paciência pelos resultados eleitorais. Os níveis de impaciência subiram nos apoiadores de Joe Biden e Donald Trump no dia da eleição. Na data seguinte, com os votos ainda em contagem, os eleitores de ambos os lados estavam mais impacientes, mesmo que Biden estivesse avançando.
“Mesmo aqueles que esperavam que seu candidato não venceria, eles só queriam acabar logo com isso. Isso demonstra muito bem o desejo de encerramento e como isso se desenrola na experiência de espera”, relata Roberts.
A pesquisadora faz sugestões para as empresas. Quando não houver certeza sobre o prazo de entrega de um pacote, por exemplo, é melhor preparar seus clientes para uma espera mais longa do que mais curta. Sendo assim, a encomenda pode chegar antes que os clientes fiquem impacientes.
Roberts em seu projeto de acompanhamento tem pesquisado quais intervenções úteis podem ser feitas para ajudar as pessoas a se sentirem mais pacientes. “Quero que minha pesquisa ajude as pessoas a gerenciar suas experiências de espera. Muitas pessoas realmente querem ajuda sobre como podem ser mais pacientes enquanto esperam e como podem fazer escolhas melhores, como economizar para o futuro”, explica a pesquisadora.