E aí, a quantas anda sua neura com o rostinho?
Nunca dei muita bola para essa coisa de tratamentos estéticos laboratoriais. Botox, aplicações de ácido, peelings, puxadas, preenchimentos e tratamentos afins eram coisas muito distantes do meu pensamento. A verdade é que eu achava que era uma coisa de celebridade. Até que há uns dois anos uma amiga (que, diga-se, é uns bons oito anos mais nova que eu) comentou que estava indo fazer preenchimento no rosto. Visto meu espanto, ela teve que me contar que não era a primeira vez. E mais, revelou que muitas de nossas amigas faziam tratamentos similares. “Sabe aquela boca linda e cheia que a Helena tem? Então, menina, é falsa!”
Não dá pra dizer que meu mundo caiu, porque na real não é como se isso fosse algo muito importante. Não sou militante da “beleza natural” e acho inclusive que esse é um termo bem elástico, mas meu cuidado com o rosto fora de casa se limita a sessões ocasionais de drenagem facial. O que mudou com essa informação foi que comecei a prestar atenção nos tratamentos anunciados em revistas e pop-ups. Meio como se, de repente, tratamentos estéticos tivessem deixado de ser tabu.
O assunto não saiu da minha cabeça, talvez porque nesses dois anos meus vincos no rosto (mais sobre eles nessa coluna de julho passado) tenham se aprofundado. Culpa de uma crescente falta de colágeno ou da distopia vigente no mundo, quem sabe? Continuo sem planos de pagar um tratamento estético em várias vezes no cartão, mas o pensamento mudou de “ah, nem penso nisso” para “olha, acho que faria”.
Se alguém quer mexer no rosto para ser mais feliz quem sou eu pra dizer que não pode, que tem que aceitar a natureza como ela é? Mas refletindo sobre o assunto, sigo pensando que é preciso cuidado, seja ele para evitar possíveis excessos e perder a expressão ou mesmo para não cair na cilada de se tornar dependente de tratamento estético cedo demais.
E outro ponto importante de ter mente é relativo ao investimento em continuar parecendo jovem com a desculpa de “se sentir bem”. Será que é isso mesmo, ou seria essa apenas mais uma camada imposta pelo padrão? Faça tratamento, redução, correção o quanto você quiser. Mas faça sendo honesta com você mesma e sempre refletindo sobre as motivações.
Pra saber se eu estou sozinha nesse lugar de dúvida e questionamento, fiz uma enquete informal com algumas amigas que fiz no Instagram. Recebi uma variedade enorme de respostas que foram desde que “óbvio que sim” (eita, calma lá) até “nunca, jamais” (opa, calma aí também). Ficou muito claro é que não há certo e errado quando se trata de vaidade e também achei interessante que muita gente relatou que uma pequena correção de mancha, nariz, queixo ou papada teve o poder de “mudar a vida”. Abaixo, três das respostas que achei mais interessantes.
Luli Vilela, 32, tradutora e escritora
“Eu tenho muitas amigas de 30 que já fazem tratamentos estéticos. Acho apressado. Não compro muito essa narrativa do ‘fiz pra mim’, porque se você não tá se sentindo bem com 30 é porque a sociedade meteu caraminholas na sua cabeça. Mas também, já vi o efeito positivo que alguns procedimentos têm na vida das pessoas. Pessoalmente, acho que não vou fazer. Mas a única certeza mesmo é que qualquer procedimento deve ser muito bem pensado.”
Lalai Persson, 46, blogueira de viagem
“Fiz um botox na testa há uns quatro anos e nunca mais mexi em nada! Mas sempre fui bem obcecada por tratamento facial e antes dos 30 já comecei os cuidados em casa. Dou muita risada, então as marcas de expressões andam acentuadas, mas a minha pele está ótima. Ando pensando em fazer preenchimento no bigode chinês e nas olheiras e também penso em tirar um pouco de pálpebra, a minha está bem caída e me incomoda — por isso sempre tiro foto de óculos escuros! Mas a verdade é que não sei se de fato vou fazer algo, mas a consulta já tá marcada!”
Patrícia Ventura, 43, produtora
“Fora um alongamento de cílios que fiz recentemente, o único procedimento estético que já fiz no rosto foi cauterizar um milium (aquelas bolinhas brancas) abaixo do olho esquerdo. Sempre tive a pele boa, uma herança da minha bisavó indígena, e só comecei a usar filtro solar diariamente lá pelos 30 anos. Após os 35 apareceu melasma, aquelas manchas escuras, uma condição que não tem cura, só controle. Hoje, com 43 eu mantenho o uso do filtro solar, vitamina C, hidratante e cremes específicos pro melasma. A única ruga que incomoda é a do meio da testa, a ruga da braveza. Mas não a ponto de querer aplicar botox. Vejo sentido em aceitar as marcas do tempo e aprender a gostar dessa beleza natural, mas sei que posso mudar de ideia daqui uns anos e tudo bem. No fundo tenho medo de ficar escrava desses procedimentos. Porra, já tem a depilação, a unha, o cabelo…”