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23 mulheres que marcaram 2023

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Elas abrilhantaram o ano com seus feitos magníficos, descobertas inovadoras e abriram ainda mais caminhos para todas nós – em diversas áreas – ao serem reconhecidas no Brasil e no mundo. Ana Hickmann, Alessandra Munduruku, Angelita Habr-Gama, Bia Haddad, Claudia Goldin, Creuza Oliveira, Glicéria Tupinambá, Greta Gerwig, Janja da Silva, Leila Pereira, Luísa Sonza, Michelle Yeoh, Mira Murati, Naomi Campbell, Narges Mohammadi, Pamela Anderson, Preta Gil, Rebeca Andrade, Rosa Weber, Sâmia Bomfim, Symmy Larrat, Tarciana Medeiros e Taylor Swift: não faltam nomes e feitos para celebrar 2023

 

A escritora, poeta e ativista feminista norte-americana Alice Walker uma vez disse que “as mulheres precisam se encher de coragem para alcançar seus sonhos adormecidos”. Está certo, o ano de 2023 passou longe de ser perfeito (será que existe isso mesmo?), mas, talvez nós, mulheres, tenhamos tido um pouco mais de possibilidades e oportunidade de materializar nossos anseios e desejos de mudança no mundo real. Pudemos nos atrever a dar passos mais longos e promissores. As 23 mulheres que foram escolhidas a dedo por Marie Claire para compor esta lista entenderam isso – e como entenderam!

Para muitas, foi um ano de grandiosas primeiras vezes. Na 95ª edição do Oscar, Michelle Yeoh foi a primeira asiática a vencer a estatueta de Melhor Atriz. A paraibana Tarciana Medeiros – negra, nordestina e abertamente lésbica – foi a primeira de seu gênero a assumir a presidência do Banco do Brasil, a quinta marca mais valiosa do país. Já Symmy Larrat, a primeira travesti a assumir uma secretaria dentro do Governo Federal. E Creuza Oliveira, a primeira trabalhadora doméstica laureada com o título de doutora honorária na história deste país.

No esporte, vimos Bia Haddad e Rebeca Andrade darem continuidade a um legado brilhante, posicionando-se entre as melhores do mundo. Na política, Janja da Silva se recusou ao papel decorativo do primeiro-damismo e Rosa Weber se aposentou em grande estilo: votando à favor da descriminalização do aborto no Brasil.

Essas e tantas outras não só nos deram motivos para celebrar, mas para resistir – alertas, unidas e vigilantes – com a esperança de construir novas possibilidades de futuro para nós mesmas. Sem mais delongas: com vocês, em ordem alfabética, a nossa tradicional lista das mulheres que marcaram o ano:

Ana Hickmann

Ana Hickmann — Foto: Divulgação com arte de João Vieira de Brito
Ana Hickmann — Foto: Divulgação com arte de João Vieira de Brito

O caso da modelo e apresentadora Ana Hickmann, que denunciou as agressões sofridas pelo ex-marido e empresário Alexandre Correa, escancarou como a violência doméstica é uma realidade em qualquer ambiente socioeconômico.

O episódio ocorreu em novembro, em meio a uma briga na mansão em que viviam com o filho, Alexandre, de 8 anos, em Itu, interior de São Paulo. Após a denúncia, Hickmann revelou em entrevista o quão tóxico era o relacionamento com o empresário ao longo dos últimos 25 anos. Também acusa o ex-marido de fraude na gestão financeira dos negócios do casal, levando os dois a acumularem uma dívida milionária.

A apresentadora entrou com um pedido de divórcio pela Lei Maria da Penha – negado pela Justiça de São Paulo – e solicitou uma medida protetiva contra Correa.

Alessandra Munduruku

Alessandra Munduruku — Foto: Yasuyoshi Chiba/ Getty Images
Alessandra Munduruku — Foto: Yasuyoshi Chiba/ Getty Images

Alessandra Korap Munduruku, liderança indígena da região do Médio Tapajós, no oeste do Pará, venceu o prêmio Goldman Environmental de 2023, considerado o mais importante para ativistas ambientais. Coordenadora da associação de AI Pariri Munduruku, é a segunda brasileira a receber o honra.

Um dos maiores destaques da atuação de Munduruku foi em 2021, quando mobilizou as aldeias que seriam impactadas pelos planos de extração de cobre na Amazônia da mineradora inglesa Anglo American e barrou o empreendimento, que afetaria povos indígenas no Pará e Mato Grosso. A empresa se comprometeu publicamente a desistir dos 27 projetos de pesquisa do minério, que já tinham aval da Agência Nacional de Mineração.

Antes disso, em 2019, ela se uniu a pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para investigar o nível de mercúrio que os indígenas de sua região carregavam no corpo, devido às atividades do garimpo ilegal. O estudo com o povo Munduruku, no Médio Tapajós, feito em parceria com a organização World Wide Fund For Nature – Brasil (WWF-Brasil), mostrou que, de cada dez pessoas testadas, seis apresentavam níveis de mercúrio acima do seguro. Em função desta ação, em 2020, Munduruku recebeu o Prêmio Robert F. Kennedy de Direitos Humanos e o Taz Panter Preis, premiação alemã.

Angelita Habr-Gama

Angelita Habr-Gama — Foto: Divulgação com arte de João Vieira de Brito
Angelita Habr-Gama — Foto: Divulgação com arte de João Vieira de Brito

Angelita Habr-Gama, professora emérita da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e renomada cientista na pesquisa de tratamento do câncer colorretal, foi a primeira mulher no mundo a receber a prestigiada Medalha Bigelow.

Criada pela Sociedade de Cirurgia de Boston há mais de um século, a medalha é oferecida quando o conselho científico do grupo julga adequado laurear um cirurgião cuja trajetória seja destacadamente uma contribuição ao progresso científico e ao ensino da cirurgia. Apenas 34 profissionais receberam este reconhecimento, e, pela primeira vez, se homenageia um cientista da América Latina.

A Sociedade de Cirurgia de Boston justificou a escolha da brasileira destacando a pesquisa inovadora realizada por Habr-Gama e seus colegas sobre o uso de quimioterapia e radioterapia no tratamento do câncer retal sem necessidade de cirurgia posterior.

Em 2022, Habr-Gama foi reconhecida pela Universidade de Stanford (EUA) como uma das médicas que mais contribuíram para o desenvolvimento da ciência no mundo.

Bia Haddad

Bia Haddad — Foto: Divulgação
Bia Haddad — Foto: Divulgação

Bia Haddad concluiu 2023 na melhor posição de sua carreira: 11ª colocada no ranking mundial da Women’s Tennis Association (WTA). Também encerrou a maior temporada de uma brasileira no circuito feminino desde a profissionalização do esporte, com a fundação da WTA em 1974.

Em outubro, ela fez história ao ganhar os dois títulos do WTA Elite Trophy, na China, em um intervalo de 5 horas. O primeiro foi na simples, quando bateu a chinesa Qinwen Zheng – conquista mais importante de sua carreira. Horas depois ganhou a final disputada em duplas, ao lado da russa Veronica Kudermetova.

Para tornar a trajetória ainda mais extraordinária, a tenista de 27 anos alcançou feitos inéditos em meio a lesões e afastamentos das quadras. Só neste ano, abandonou Wimbledon nas oitavas de final por fortes dores na lombar, e na véspera do WTA 1000 de Guadalajara, no México, passou por um acidente doméstico.

Haddad também fez uma campanha histórica em Roland Garros, ao ser a primeira brasileira a chegar às semifinais, além de conquistar o Masters 1000 de Madrid ao lado de Victoria Azarenka.

 

Claudia Goldin

Claudia Goldin — Foto: Fredrik Sandberg/ Getty Images
Claudia Goldin — Foto: Fredrik Sandberg/ Getty Images

A economista norte-americana Claudia Goldin se tornou a terceira mulher a vencer um Nobel de Economia – em 55 anos de existência do prêmio. Professora em Harvard, Goldin é pioneira por seus estudos sobre a participação das mulheres no mercado de trabalho.

Claudia Goldin iniciou os estudos na década de 1970, acompanhando as movimentações da segunda onda do movimento feminista nos Estados Unidos, tendo como um de seus objetos de estudo o gender gap (ou seja, a lacuna de oportunidades e as desigualdades baseadas no gênero). Além de analisar 200 anos de participação das mulheres no trabalho naquele país, fez constatações sobre a relação entre o aumento de qualificação e ocupação de mulheres no mercado no século 20 com a disponibilidade da pílula anticoncepcional e o aumento da taxa de divórcios.

A economista conclui que a principal causa do chamado gap salarial é a maternidade e demais funções da economia do cuidado e demonstra que as mulheres são penalizadas por buscar flexibilidade de horários no trabalho, para equilibrar responsabilidades profissionais e familiares.

Creuza Oliveira

Creuza Oliveira — Foto: Divulgação
Creuza Oliveira — Foto: Divulgação

Com mais de três décadas de atuação pelos direitos de trabalhadoras domésticas e contra a exploração do trabalho infantil, Creuza Oliveira tornou-se, em dezembro, a primeira trabalhadora doméstica do país a receber o título de doutora honoris causa, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Em 1986, fundou a Associação das Empregadas Domésticas da Bahia e, em 1990, ajudou a formar o Sindicato dos Trabalhadores Domésticos da Bahia (Sindoméstico/BA), do qual foi a primeira presidente. Atualmente, é presidente de honra da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad). Em 2013, foi uma das figuras chaves para a aprovação da PEC das Domésticas, que garantiu direitos trabalhistas que vão do limite de carga horária e adicional noturno ao recolhimento de FGTS.

“Esse título não é só meu, mas sim de toda uma história. É um reconhecimento da luta coletiva. Afinal de contas, a organização das trabalhadoras domésticas no Brasil tem mais de 80 anos”, afirmou em entrevista ao site Catarinas.

Glicéria Tupinambá

Glicéria Tupinambá — Foto: Divulgação
Glicéria Tupinambá — Foto: Divulgação

A artista, ativista e antropóloga Glicéria, mais conhecida como Célia Tupinambá, é a primeira mulher a construir o manto Tupinambá, veste sagrada usada em rituais, em mais de 400 anos. Durante a colonização do Brasil, os mantos viraram objetos de escambo ou saques e o conhecimento de como tecê-los perdeu-se no tempo. Onze peças sobreviveram desde a sua concepção, por volta do século 16 e, hoje, todas estão na Europa.

A pesquisa da artista em torno da veste histórica foi responsável por encabeçar as negociações para repatriar o manto que está na Dinamarca, feito no século 17. O Museu Nacional do Rio de Janeiro anunciou em julho que receberá a peça no ano que vem.

Em setembro, organizou o projeto “Manto em Movimento”, exposição itinerante de um manto Tupinambá feito por ela com quase 4 mil penas, que passou por diversos museus, centros culturais, ocupações, universidades e aldeias do Brasil. Neste ano, a artista também participou da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).

Graças a esse trabalho, ela representará o país na 60ª Bienal de Veneza, na Itália, em 2024.

Greta Gerwig

Greta Gerwig — Foto: James Devaney/ Getty Images
Greta Gerwig — Foto: James Devaney/ Getty Images

live-action que acompanha uma Barbie e seu mundo cor-de-rosa sendo confrontados pelas desilusões do mundo real era aguardado muito antes de seu lançamento, em 21 de julho – no mesmo dia do filme “Oppenheimer”, vale lembrar, o que resultou no fenômeno Barbenheimer. Parte crucial desse prestígio está na assinatura de Greta Gerwig na direção e roteiro (co-escrito com o marido, Noah Baumbach).

A atriz, roteirista e diretora, que começou no cinema independente, há anos conquista corações e mentes de mulheres ao dar protagonismo às suas vivências e dizer que, sim, o que elas pensam e sentem importa. Mas foi com “Barbie” que essa marca se tornou ainda mais potente. Milhares de pessoas vestiram rosa para assistir na tela grande um filme que se propõe a contar, com humor, como é viver em um mundo feito por e para os homens – quantas pessoas saíram do cinema finalmente entendendo o que é o patriarcado e como ele dificulta a vida de todo mundo?

“Barbie” não só bateu recordes como fez Gerwig entrar para a história. Com uma bilheteria mundial de R$ 1,4 bilhão, o longa se tornou não só o filme mais lucrativo do ano como a maior arrecadação em bilheteria de um filme dirigido por uma mulher no mundo. Para coroar o 2023 da diretora, em dezembro, foi anunciada como presidente de júri do 77º Festival de Cannes – a segunda mulher a ocupar esse cargo na história do evento.

Janja da Silva

Janja da Silva — Foto: Evaristo Sa/ Getty Images
Janja da Silva — Foto: Evaristo Sa/ Getty Images

Janja da Silva esteve na linha de frente do governo ao longo de todo o primeiro ano do terceiro mandato do presidente Lula – desafiando o papel decorativo até então delegado a uma primeira-dama. Justamente pelo perfil participativo. Desde a eleição, disse que não seria “ajudadora”, mas estaria “junto” do presidente. Com isso, a socióloga tornou-se uma figura pública que atrai elogios, mas também críticas e discursos de ódio.

Em dezembro, foi vítima de um ataque sem precedentes ao ter seu X (antigo Twitter) hackeado com mensagens de misoginia e apologia a estupro. Além disso, despertou incômodo nos bastidores da política por viajar com Lula e “se intrometer” nas decisões do presidente, ao que ela rebateu em conferência eleitoral do Partido dos Trabalhadores (PT), também neste mês: “Eu estava em uma reunião no G20 e todo mundo fica falando: ‘O que ela fica fazendo lá com o presidente? Nem foi eleita’. Dane-se, eu vou estar sempre. Ninguém me deu aquele lugar. Eu conquistei.”

Outro mérito da primeira-dama foram suas tentativas de trazer as mulheres para um espaço de destaque no mandato de Lula. Feminista, fez pressão para que o presidente indicasse uma jurista negra para a cadeira vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), esteve presente em cerimônias de sanção de leis que garantem direitos – como a lei da igualdade salarial e a pensão para órfãos de feminicídio – e usou seu espaço para vocalizar a importância de mulheres conquistarem espaços de poder, sobretudo na política institucional.

Leila Pereira

Leila Pereira — Foto: Alexandre Schneider/ Getty Images
Leila Pereira — Foto: Alexandre Schneider/ Getty Images

Sob a gestão de Leila Pereira, o Palmeiras conquistou o Campeonato Brasileiro de 2023 e levantou a sexta taça desde que a dirigente assumiu a presidência do clube, em 2021. Em um ramo ainda tão conservador e machista como o futebol, a empresária, apaixonada pelo esporte, é a primeira mulher a assumir o posto em um time de São Paulo, e a mandatária mais vitoriosa pelo time alviverde neste século.

Com Pereira na presidência, o Palmeiras levou dois Campeonatos Paulistas (2022 e 2023), uma Recopa Sul-Americana (2022), uma Supercopa do Brasil (2023) e dois Campeonatos Brasileiros (2022 e 2023).

Empresária, advogada e jornalista, ela acumula uma fortuna de R$ 8 bilhões. Em 2022, era a quinta mulher mais rica do Brasil, com R$ 7,2 bilhões. Patrocinadora e conselheira do Palmeiras, também está à frente da Crefisa e da Faculdade das Américas (FAM), junto ao marido, José Roberto Lamacchia.

Tantas conquistas do Palmeiras também ajudaram o clube a abater a dívida com a Crefisa, de R$ 172 milhões em 2019 para R$ 27,7 milhões, depois do bônus de R$ 10 milhões pago pelo banco pela conquista do Brasileirão de 2023. Pereira quer zerar essa conta até o final de seu mandato, em dezembro de 2024.

Luísa Sonza

Luísa Sonza — Foto: Divulgação
Luísa Sonza — Foto: Divulgação

Luísa Sonza foi uma dos nomes mais relevantes da música brasileira em 2023. Seja pelo terceiro álbum de estúdio, Escândalo Íntimo, os recordes batidos nos streamings ou por expor a vida pessoal ao ponto de revelar uma traição em rede nacional, a cantora se manteve assunto do momento na maior parte do ano.

O lançamento de seu terceiro álbum, em agosto, ultrapassou 8,5 milhões de streams em menos de 24 horas – a melhor estreia de um álbum no Spotify Brasil. A música “Chico”, em homenagem ao ex-namorado, o influenciador Chico Moedas, entrou no top 30 Global da plataforma no começo de setembro. Outra faixa, “Penhasco 2”, parceria em que Demi Lovato canta em português, chegou ao 1º lugar no Spotify Brasil e tornou-se a primeira música a estrear com 2 milhões de streams na história da plataforma.

E quando Sonza parecia ter alcançado o ápice da exposição midiática, resolveu anunciar publicamente, no programa matutino de Ana Maria Braga, o fim do relacionamento com Chico por causa de uma traição.

Ao longo do ano, a cantora também esteve nos holofotes por fechar um acordo com a advogada Isabel Macedo para encerrar o processo em que era acusada de racismo.

Em dezembro, concluiu o ano mais midiático da carreira com o lançamento do documentário “Se Eu Fosse Luísa Sonza”, na Netflix, sobre suas trajetórias pessoal e profissional.

Michelle Yeoh

Michelle Yeoh — Foto: Laurent Koffel/ Getty Images
Michelle Yeoh — Foto: Laurent Koffel/ Getty Images

Em 95 anos de existência, o Oscar finalmente premiou uma atriz asiática na categoria de Melhor Atriz. Aos 60 anos, a malaia-chinesa Michelle Yeoh recebeu a estatueta por seu papel como a heroína Evelyn Quan, de “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” – aliás, o filme mais premiado da edição e um dos mais aclamados do ano.

Além de dizer que sua vitória é uma “prova de que sonhos grandes tornam-se realidade”, ela se dirigiu a mulheres de sua idade em seu discurso: “Senhoras, não deixe ninguém dizer que você já passou do seu auge.”

Por mais que tenha ganhado mais notoriedade em 2023, a atriz carrega uma carreira de prestígio em Hollywood há décadas: ela esteve em filmes como “007 – O Amanhã Nunca Morre” (1997), “Memórias de Uma Gueixa” (2005), “Podres de Ricos” (2018), “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis” (2021) e, neste ano, “A Noite das Bruxas” (2023), adaptação do livro de mesmo ano da célebre escritora de contos policiais Agatha Christie.

Em novembro, Yeoh tornou-se doutora honorária pela Faculdade de Artes e Tecnologias da Universidade de Hong Kong, por sua contribuição ao cinema e humanidades.

Mira Murati

Mira Murati — Foto: Bloomberg/ Getty Images
Mira Murati — Foto: Bloomberg/ Getty Images

A albanesa Mira Murati, de 34 anos, tornou-se uma das mulheres mais influentes do mundo no ramo da inteligência artificial. Em novembro, a engenheira mecânica – tida como “mãe do ChatGPT” – foi nomeada CEO interina da OpenAI, gigante da tecnologia, após a demissão de um de seus cofundadores, Sam Altman.

Como diretora de tecnologia da empresa (cargo também chamado de CTO), Murati liderou o desenvolvimento do ChatGPT e do gerador de imagens DALL-E, duas das principais ferramentas de IA da atualidade.

Desde janeiro, quando foi lançado oficialmente, o ChatGPT chegou a ser testado simultaneamente por mais de 100 milhões de pessoas e, naquele mês, foi o termo de tecnologia mais buscado no Google, desbancando o Bitcoin. A tecnologia foi responsável por aumentar o valor da OpenAI de US$ 14 bilhões para US$ 30 bilhões.

A carreira de Murati começou em 2011 como analista no Goldman Sachs, um dos maiores grupos financeiros do mundo, em Tóquio, no Japão. Entre 2012 e 2013, atuou como engenheira de conceito avançado na Zodiac Aerospace, que produz componentes aeroespaciais. Depois, foi para a Tesla, a montadora de carros elétricos fundada por Elon Musk. Até 2016, foi gerente de produtos sênior da companhia.

Naomi Campbell

Naomi Campbell — Foto: Antoine Flament/ Getty Images
Naomi Campbell — Foto: Antoine Flament/ Getty Images

Uma das maiores super-modelos de todos os tempos, Naomi Campbell foi o acontecimento do mundo da moda de 2023.

Para começar, Campbell foi a estrela máxima das Semanas de Moda de Paris, Milão e Nova York. Na Europa, encerrou desfiles de grifes como Alexander McQueen e da Dolce & Gabbana; enquanto nos Estados Unidos, desfilou vestindo, pela primeira vez, a própria coleção, confeccionada em parceria com a britânica PrettyLittleThing. Vale lembrar: tudo isso aos 53 anos, em um ramo extremamente etarista e restrito com relação aos padrões de beleza.

Em setembro, o hype em torno da aura de Naomi elevou ainda mais com o lançamento de “As Supermodelos”, série documental da Apple TV+ que mostra o início da carreira não só de Campbell, mas das tops Linda EvangelistaCindy Crawford e Christy Turlington. As cinco ainda assinam a produção executiva da série.

Um mês depois, o museu Victoria and Albert, na Inglaterra, anunciou que Campbell eria a primeira modelo a ganhar uma exposição em suas instalações – a instituição já prestigiou nomes como Coco Chanel e David Bowie.

A mostra celebra seus 40 anos de carreira e reunirá mais de 100 peças do acervo de grife da modelo (com nomes que vão de Gianni e Donatella Versace a Jean Paul Gaultier) e uma instalação com fotografias de momentos marcantes de sua trajetória. A previsão é que a exposição fique aberta ao público entre 22 de junho de 2024 e 6 de abril de 2025.

Narges Mohammadi

Narges Mohammadi — Foto: Divulgação
Narges Mohammadi — Foto: Divulgação

Presa por “espalhar propaganda contra o governo” do Irã, a engenheira e ativista pelos direitos de mulheresNarges Mohammadi, de 51 anos, foi a vencedora do Prêmio Nobel da Paz deste ano por sua atuação para “promover direitos humanos e liberdade para todos”, segundo o comitê Nobel. Ela foi a 19ª mulher em 122 anos a ser laureada com a honraria.

Atualmente, Mohammadi cumpre pena de 12 anos no presídio de Evin, em Teerã. A chefe do Centro de Defensores de Direitos Humanos já foi presa 13 vezes, recebeu cinco condenações e foi sentenciada a 31 anos de prisão, além de 154 chicotadas. Considerada uma figura subversiva pelo governo iraniano, a ativista também luta pelo fim da pena de morte no país.

“Estou grata a todos vocês e peço-lhes que apoiem o povo do Irã até a vitória final. A vitória não é fácil, mas é certa”, escreveu Mohammadi em uma carta aberta para agradecer o prêmio.

Ela também vê sua vitória como um reconhecimento a milhares de iranianos que, desde setembro de 2022, protestam contra o regime teocrático iraniano. Aquele mês foi marcado pelo assassinato de Mahsa Amini, jovem curda que foi presa pela polícia da moralidade pelo mal-posicionamento de seu hijab.

Pamela Anderson

Pamela Anderson — Foto: Karwai Tang/ Getty Images
Pamela Anderson — Foto: Karwai Tang/ Getty Images

Eis que na Semana de Moda de Paris, Pamela Anderson aparece em um terno elegante, com uma câmera analógica em mãos e de cabelos loiros ao vento. No lugar das sombras, bases e corretivos, ostentou as sardas, as marcas de expressão e um rosto sem maquiagem. “Há beleza em autoaceitação e imperfeições”, escreveu a atriz, ativista e modelo de 56 anos na legenda da foto que postou em seu Instagram.

Ao longo do ano, Anderson passou a dispensar maquiagem em outras aparições públicas, como eventos e tapetes vermelhos. Ela contou à Elle US que reduziu o uso de maquiagens depois da morte da maquiadora Alexis Vogel, em 2019: “Simplesmente senti que, sem Alexis, é melhor para mim não usar maquiagem.”

Considerada sex symbol absoluto e uma mulher que, por anos, performou à risca o que significa fazer parte dos padrões de beleza, Anderson rompeu as expectativas ao ostentar o rosto natural, e foi celebrada tanto por anônimas quanto por colegas de fama. Scarlett Johansson e Jamie Lee Curtis, por exemplo, definiram a escolha de Anderson como “um ato de coragem e rebeldia” e ainda “uma mensagem poderosa”.

Por mais que tenha dito que não esperava que as pessoas fossem reparar em seu rosto sem maquiagem, o ato de Anderson foi contra a regra do que se espera de mulheres, famosas ou não, que devem mascarar a passagem do tempo a qualquer custo em vez de abraçá-la.

Preta Gil

Preta Gil — Foto: Bruna Castanheira
Preta Gil — Foto: Bruna Castanheira

O diagnóstico de câncer no intestino levou Preta Gil a um mergulho profundo de ressignificações que causou comoção nacional. Em meio ao tratamento da doença, decidiu dar fim ao casamento de oito anos com Rodrigo Godoy. Preta relatou que o ex-marido começou a ter um caso enquanto ela estava doente. “Ele me abandonou com câncer. Ele saía, eu ficava em casa ‘largada’, meus amigos começaram a perceber”, disse no programa De Frente com Blogueirinha. Segundo estatísticas do Conselho Nacional de Mastologia, 70% das mulheres em tratamento oncológico são deixadas por seus companheiros.

Ativista de muitas causas, faz tempo que Preta Gil coloca voz e corpo para estimular discussões na sociedade. “Meu pai diz que eu não carrego, mas que eu sou a própria bandeira! Ao defender a minha existência como uma mulher gorda, bissexual, preta, isso há tantos anos, quando nada desses assuntos era pauta ainda, coloquei meu corpo a esse serviço. Agora vou falar sobre me curar de um câncer, sobre tratamento, autocuidado”, disse a Marie Claire em matéria de capa de junho.

Rebeca Andrade

Rebeca Andrade — Foto: Buda Mendes/ Getty Images
Rebeca Andrade — Foto: Buda Mendes/ Getty Images

Rebeca Andrade se consolidou como a maior atleta da história da ginástica brasileira. No Mundial de Ginástica Artística deste ano, na Bélgica, conquistou cinco medalhas: três de prata (equipes, individual geral e individual no solo), uma de ouro (individual no salto) – desbancando ninguém menos que Simone Biles – e uma de bronze (individual na trave). A brasileira é a 11ª ginasta da história a conseguir medalhas em todos os aparelhos.

A paulista também caminha para figurar entre as maiores atletas brasileiras entre todos os esportes. Com o desempenho brilhante na Bélgica, tornou-se a maior medalhista em um único Mundial pelo Brasil, ao lado do nadador César Cielo. Encerrou o ano conquistando pela terceira vez o prêmio de melhor atleta do país pelo Comitê Olímpico do Brasil.

Andrade também esteve presente na lista de Marie Claire das 21 mulheres que marcaram 2021, quando foi a primeira e única brasileira a ser campeã mundial no individual geral, prova mais nobre da ginástica artística.

Rosa Weber

Rosa Weber — Foto: Evaristo Sa/ Getty Images
Rosa Weber — Foto: Evaristo Sa/ Getty Images

Após 12 anos de atuação na mais alta Corte do país e um ano na presidência do plenário, a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber se aposentou em 29 de setembro. Foi a terceira mulher a ocupar uma cadeira no STF, depois de Ellen Gracie e Cármen Lúcia.

Dias antes de deixar a Corte, pautou a ADPF 442, da qual era relatora, e declarou voto histórico a favor da descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação. “A criminalização do ato não se mostra como política estatal adequada para dirimir os problemas que envolvem o aborto”, declarou em um dos trechos de seu voto de 103 páginas, em plenário virtual.

De uma atuação decisiva e marcada pela diplomacia, a ministra enfrentou verdadeiros desafios em seu último ano. O principal foram os atos golpistas de 8 de janeiro: além de julgar e punir responsáveis pelo ataque à Praça dos Três Poderes, se concentraram nela os esforços para reconstrução do Supremo. Como ministra e presidente da Corte, não teve medo de colocar em pauta temas espinhosos, mas urgentes para a população brasileira.

Em 2023, invalidou a tese do Marco Temporal para demarcação de territórios indígenas, estipulou prazo de 90 dias para os pedidos de vistas de ministros e iniciou o julgamento que pode levar à descriminalização do porte de drogas. Também acumulou a presidência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), retomando os mutirões de revisão de pena e aprovando o aumento do número de mulheres magistradas na segunda instância judiciária.

Sâmia Bomfim

Sâmia Bomfim — Foto: Divulgação
Sâmia Bomfim — Foto: Divulgação

Reeleita deputada federal por São Paulo, a parlamentar manteve uma postura combativa e de destaque no plenário da Câmara – o que a fez ser eleita, em votação popular do Prêmio Congresso em Foco, a melhor deputada federal do ano.

Dos 35 projetos de lei protocolados neste ano por Sâmia Bomfim, 7 têm foco em mulheres – incluindo o PL nº 998/23, que quer colocar como tortura impedir a realização do aborto legal, e o PL nº 100/23 (aprovado na Câmara com outros projetos), que pode instituir em todo país um protocolo de amparo a vítimas de violência sexual em espaços de lazer.

Bomfim se manifestou veementemente contra a aprovação do PL do Marco Temporal – ato pelo qual quase teve o mandato cassado –, a tramitação do PL que criminaliza o casamento entre pessoas de mesmo gênero – que tramitou em comissões da Câmara – e as tentativas da CPI do MST, da qual foi integrante, de criminalizar as atividades do Movimento Sem Terra (MST) – onde recebeu intimidação de autoridades da CPI e chegou a ter o microfone cortado, ato que se enquadra em violência política de gênero.

Symmy Larrat

Symmy Larrat — Foto: Divulgação
Symmy Larrat — Foto: Divulgação

Com a retomada das atividades do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, sob gestão do ministro Silvio Almeida, foi criada a Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIAPN+. A jornalista, ativista e ex-profissional do sexo Symmy Larrat tornou-se não só a primeira a ocupar a cadeira, mas também a primeira travesti da história do Brasil a se tornar secretária nacional do Governo brasileiro.

Em 2023, Larrat também se tornou a primeira travesti a representar o Brasil em um conselho da Organização das Nações Unidas (ONU), na 53ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos, em Genebra.

Natural de Belém do Pará, passou uma década atuando ativamente em articulações não governamentais – presidiu duas vezes a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT) e coordenou a Casa Neon Cunha –, além de ter sido uma das gestoras do Transcidadania, programa da capital paulista que promove reintegração social e direitos a pessoas trans.

Tarciana Medeiros

Tarciana Medeiros — Foto: Luciana Whitaker
Tarciana Medeiros — Foto: Luciana Whitaker

Em 214 anos de existência, o Banco do Brasil ganhou sua primeira presidenta. Nomeada por Lula, a paraibana Tarciana Medeiros é também a primeira mulher negra, nordestina e abertamente lésbica a ocupar a cadeira. Neste ano, foi a única brasileira a integrar a lista da Forbes das 50 mulheres mais poderosas do mundo, em 24º lugar.

“Sempre acreditei”, afirmou Medeiros em entrevista a Marie Claire, em maio, sobre chegar à presidência do BB.

Filha de feirantes, tem 23 anos de carreira no banco – começou em 2000, como escriturária. Em 2023, viu o banco bater recorde de lucro (foram R$ 26,1 bilhões arrecadados entre janeiro e setembro, um crescimento de 14%) e ser eleito o melhor banco do Brasil pelo Bank Of The Year, o Oscar bancário, por projetos das áreas de produtos e serviços, tecnologia e iniciativa estratégica.

Em 2023, empenhou esforços em retomar programas que foram descontinuados no último governo – como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do qual o banco é parceiro –, lançar projetos voltados ao oferecimento de crédito com foco nas mulheres – desde agricultoras chefes de família até mulheres negras – e intensificar políticas ambientais do banco – sendo reconhecida mundialmente por incentivar o setor financeiro como agente capaz de frear os impactos das mudanças climáticas.

Taylor Swift

 

Taylor Swift — Foto: Divulgação
Taylor Swift — Foto: Divulgação

“A maior contadora de histórias da era moderna”, é como a revista Time descreveu o legado de Taylor Swift, eleita pela publicação como a Pessoa do Ano. Aos 33 anos, a cantora norte-americana elevou o patamar de sua carreira a ícone cultural, com tamanha influência que ganhou um curso em Harvard e até nome de tese de economistas (The Taylor Swift Effect) pelo boom econômico que sua magnânima turnê, The Eras Tour, promoveu aos locais onde passou – efeito similar só foi conquistado por Beyoncé, com sua Renaissance World Tour.

Em 2023, Swift foi a artista mais escutada do Spotify no mundo, somando mais de 26 bilhões de plays. Relançou dois álbuns, “1989 (Taylor’s Version)” e “Speak Now (Taylor’s Version)”, sendo que a releitura de “Speak Now” foi seu terceiro álbum a alcançar a primeira posição das paradas da Billboard, superando recordes de Bruce Springsteen e Barbra Streisand.

Em 151 apresentações, levou fãs devotos a estádios – vestidos de suas eras preferidas e trocando pulseirinhas da amizade – para a The Eras Tour, uma produção grandiosa em que apresenta, em 3h20, 45 músicas. A turnê musical arrecadou R$ 1 bilhão, tornando-se a mais lucrativa de todos os tempos – recorde que, antes, era da turnê de despedida de Elton John. E mais: ao levar seu show para os cinemas de todo o mundo, Swift quebrou outro recorde. Seu filme, “Taylor Swift: The Eras Tour”, vendeu mais de US$ 246 milhões em ingressos, tornando-se o filme de turnê mais lucrativo da história.

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