Audiência quebrou silêncio de Christian e Stephanie na tarde desta terça (5), em Campo Grande
O padrasto da pequena Sophia Jesus Ocampos, vítima de maus-tratos morta aos dois anos de idade, em 26 de janeiro de 2023, quebrou o silêncio durante audiência de depoimento na tarde desta terça-feira (5), no Tribunal do Júri de Campo Grande, e acusou a ex-companheira, Stephanie de Jesus da Silva, de 24 anos, de ser “violenta”.
Christian Campoçano Leitheim, de 26 anos, rebateu as acusações enfrentadas no banco dos réus, ao dizer que nunca tocou, permitiu ou facilitou que outra pessoa pudesse violar o corpo da criança. “Não é verdade, e até me surpreendi com a acusação porque repudio tal ato”.
Sobre as mensagens anexadas ao processo, em que o padrasto alega que tiraria a sua própria vida, Christian disse ter reagido ao choque. “Me senti culpado por não ter visto nada antes, ou ter avisado. Acho que foi por conta disso. Falei pra ela inventar alguma coisa, para que pudesse sair do local”.
O padastro disse que havia ingerido bebida alcoólica e usado entorpecentes na madrugada da morte da criança. “Estava cansado, quem me acordou foi a Stephanie falando que a Sophia não estava bem. Quando eu vi, ela já estava com a boca roxa”.
Questionado pelo juiz Aluízio Pereira dos Santos, da 2ª Vara de Campo Grande, o acusado afirmou que nunca agrediu Sophia ou o próprio filho como forma de disciplina, e que a correção era apenas colocá-los de castigo sentados. Christian também negou ter agredido alguma vez a ex-mulher e a enteada, bem como a acusou de ser violenta.
Eu só fiquei com a Stephanie porque ela estava grávida. Ela era muito explosiva, partia pra cima de mim e eu só reagia. Ela falou do olho roxo, com certeza. Mas ela arremessou a Sophia no sofá e bateu na nossa neném, aí perdi a cabeça e dei um murro na cara dela”, disse Christian Campoçano no banco dos réus.
“Mole e fraca” – Stephanie também prestou depoimento nesta tarde. Ao falar pela primeira vez do crime, se eximiu de qualquer agressão e atribuiu a morte da filha ao ex-companheiro.
Com todas as letras, a mãe de Sophia acusou o ex-marido pelo assassinato da criança. Ao ser questionada pela promotora de justiça do caso, Lívia Carla Guadanhim Bariani, Stephanie disse: “Christian!”
É a primeira vez que ela faz esse relato acusando o ex-companheiro, assim como os demais, já que até então, nem ela ou o ex-marido haviam falado oficialmente sobre o crime.
“Quando cheguei [do trabalho], ele já estava com ela no colo, desacordada. […] Sophia estava com as perninhas moles, mas eu não vi Christian a agredindo. Ele a pegou do meu colo e me mandou ir fazer leite. E foi com ela para o banheiro. De lá, arrumei as coisas para ir ao posto [de saúde]”, relatou a acusada.
A jovem contou que presenciou agressões de Christian. “Ele dava murros e cintadas. Eu já peguei ele enforcando o filho dele, mas com a Sophia nunca vi ele fazendo isso de enforcar. Christian fazia muita pressão psicológica e eu tinha medo de ser trocada de novo, como fui trocada no primeiro casamento”.
Stephanie disse ainda que jamais agrediria a filha e ao perguntarem a ela se participou das agressões que causaram a morte, afirmou que “não teria coragem”, justificando que a criança de 2 anos teria sido planejada junto com o pai da menina, Jean Ocampo, presente no plenário. “Ela era a filha do homem que eu amei muito”.
A acusação – Sophia deu entrada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Bairro Coronel Antonino, situado na região norte de Campo Grande, já sem vida. Inicialmente, a mãe, Stephanie, que foi até lá sozinha com a garota nos braços, sustentou a versão de que ela havia passado mal, mas investigação médica encontrou lesões pelo corpo, além de constatar que a morte havia ocorrido cerca de quatro horas antes da chegada ao local.
O atestado de óbito apontou que a menininha morreu por sofrer trauma raquimedular na coluna cervical (nuca) e hemotórax bilateral (hemorragia e acúmulo de sangue entre os pulmões e a parede torácica).
Exame necroscópico também mostrou que a criança sofria agressões há algum tempo e tinha ruptura cicatrizada do hímen – sinal de que sofreu violência sexual.
Para a investigação policial e o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), a criança foi espancada até a morte pelo padrasto, depois de uma vida recebendo “castigos” físicos. Ele responde por homicídio e estupro.
Já a mãe de Sophia, pelo assassinato, mesmo que não tenha agredido a filha, mas porque, no entendimento do MP, ela se omitiu do dever de cuidar. Ambos também foram denunciados pelo crime de tortura e devem ir a júri no primeiro semestre de 2024. (Com a colaboração de Ana Beatriz Rodrigues e Lucia Morel)