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Crianças vivem drama duplo em MS: o câncer e a falta de tratamento

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Os hospitais estão sem anestesistas disponíveis e sem esses profissionais não é possível realizar os atendimentos em crianças

 

Pais de crianças com câncer vivem um drama em Campo Grande. Isto porque os tratamentos dos filhos estão paralisados. O motivo, segundo eles, é a falta de anestesistas que garantem a realização da radioterapia. Sem esses profissionais, o risco da doença avançar é enorme.

Ana Clara Oliveira da Silva conta que a filha Raabe Vitória, de 3 anos, faz tratamento contra um câncer na região da cabeça. Segundo ela, a menina mora em Sonora, mas recebe atendimento em Campo Grande.

Raabe passou por sessões de quimioterapia e agora precisa fazer radioterapia, mas já são cinco meses aguardando. Ana conta que a família procurou o Hospital Universitário e o Hospital de Câncer Alfredo Abrão, mas sem sucesso.

“Eles negam, pela idade dela. Eles dizem que não tem como fazer, só acima dos dez anos”, lamenta.

O impedimento, segundo a mãe, é porque os hospitais não têm anestesistas disponíveis e sem o profissional não há como fazer o atendimento.

“A gente fica com medo de voltar de uma vez e nunca se sabe. É bem agressivo o dela e o doutor falou para mim que quanto antes fizesse, melhor pra ela né? Como ela tá reagindo muito bem, era bom. Mas como tá em falta, nós permanecemos na quimio”.

O anestesista é essencial para o tratamento de radioterapia em crianças mais novas justamente porque esses pacientes precisam ser sedados. É uma medida, um protocolo de segurança para que a criança fique imóvel durante o procedimento. A radioterapia usa a radiação ionizante para destruir as células cancerígenas no local onde o tumor está localizado.

Conforme as informações do médico Nestor Muzzi, “o tratamento precisa ser reprodutível, com paciente estático, com paciente parado. Então para isso a gente lança mão de utensílios de imobilização. Crianças inferiores a idade de 4 anos dificilmente ficam paradas e nesses casos, abaixo dos quatro anos, quase sempre a gente tem que recorrer a sedação”.

Breno Henrique, de 3 anos, está tratando um tumor renal em Campo Grande. Passou pela quimio e agora também não consegue fazer a rádio por falta de um anestesista. Os pais já tentaram de tudo.

“Já tá entrando para quatro, cinco semanas que foi pedido com urgência, mas nenhum lugar solicitou a vaga ainda”, comenta Mateus Batista Felisdoro, pai do Breno. A família que mora em Anastácio está muito preocupada.

“Os dias passam, as horas passam e a gente sabe que o tumor, o câncer não espera né? Ele cada vez mais deixa de fazer o tratamento, fica prolongando isso, ele se agrava mais. Por ser um tumor maligno, com certeza ele não tá fazendo bem pra criança né?”, diz.

“A não realização de radioterapia, quando recomendada em protocolo, deve ser encarada com preocupação, uma vez que pode cursar como prejuízo terapêutico porque aumenta a chance de progressão da doença e a chance de falha terapêutica como um todo. Então, é de fato algo que deve ser evitado, mitigado”, completa Muzzi.

 

Resposta

Procurada pela reportagem, a SAE/MS (Sociedade de Anestesiologia do Estado de Mato Grosso do Sul) respondeu que os dois hospitais contam com os profissionais no quadro clínico e que a distribuição deles fica a cargo das instituições.

 

Nota de esclarecimento emitida pela Sociedade de Anestesiologia de Mato Grosso do Sul (Foto: Divulgação)

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