Segurança ou taxa? Empresários contam o motivo de resistir à moeda digital mais usada da atualidade
Bem na Rua Barão do Rio Branco, no Centro de Campo Grande, o Bar do Zé acumula histórias, afinal, são mais de 55 anos de atividade que, em certa parte, até se confundem com a história local. Entretanto, nenhuma delas envolve golpes com a era do Pix. O proprietário, Marcio Okama, é um dos comerciantes que não se renderam à modalidade de pagamento digital. Portanto, só aceita cartão ou dinheiro.
Lá, o cliente que não pergunta ou que não nota a placa que descreve “Não aceitamos Pix”, certamente terá que se desdobrar para pagar a conta – caso não tiver cartão ou uns trocados na carteira. Contudo, Marcio garante que não perde a clientela.
“Não uso nem na minha conta pessoal, não sei nem como funciona. É uma questão de segurança também, ter todos os dados ou quem não paga, não dá para confiar demais. Todo mundo tem ou dinheiro, ou cartão, não tem como ter uma conta sem um dos dois. Tem a opção da carteira digital pelo celular, o mesmo método do cartão por aproximação. Nunca tive problema”.
E se alguém pedir uma cervejinha e só tiver o Pix? Marcio diz que o cliente “dá um jeito” de pagar, o acerto não sai fiado ou cai no esquecimento. Como o bar fica no coração da área central, as proximidades com bancos e caixas eletrônicos evitam os eventuais apuros.
“A pessoa pega emprestado de alguém, pede para transferir para conta. Ela arruma um jeito de pagar, não fica devendo. Para mim, o Pix não faz diferença, lucro do mesmo jeito. A maioria dos meus clientes sabem, o movimento continua igual. Já pago a taxa da maquininha, não é vantajoso pagar a do Pix”.
Marcio Okama diz que cliente não mudou (Alicce Rodrigues)
Também no Centro, uma conveniência de um posto de combustível na Rua 13 de Maio com Afonso Pena avisa logo na porta, até de forma ilustrativa, com o símbolo da moeda digital e um sinal negativo.
A funcionária, que preferiu não se identificar, diz que não entende o porquê da negativa da gerência em resistir em aceitar mais atualizado método de pagamento. Desde que está no cargo e que a moeda foi lançada, o estabelecimento não aceita a transferência por chave, como é conhecido o método da transferência.
“Tem muita gente que procura, mas não aceitamos nunca, nem se oferecem para mandar para nossa conta [conta do funcionário]. Não saem sem pagar, encontram sempre uma alternativa, ou pegam com alguém, ou vão ao banco. Às vezes não reparam no aviso que tem na porta”, descreve.
Desde julho deste ano, o Banco Central estabeleceu taxação para clientes com conta de CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica), que é de R$ 0,89% do valor da operação. Entre os principais bancos que cobram a taxa no país está o Bradesco, Santander, Itaú e Banco do Brasil.
Fé, Pix e cartçao (Alicce Rodrigues, Midiamax)
O que dá para pagar com Pix?
Segundo um balanço do Serasa, cerca de 77% dos brasileiros preferem pagar boletos com o Pix, perdendo posição apenas para o cartão de crédito. O método substitui as transferências por TED ou DOC, pois é feito de forma instantânea. No ano passado, mais de 24 bilhões de transações, média de 66 milhões de operações diárias, foram feitas, conforme a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos).
Atualmente, diversas contas fixas podem ser pagas com o Pix, como conta de luz, água, internet, supermercado e até boletos de tributos públicos, como guias de recolhimento do Detran-MS (Departamento de Trânsito de Mato Grosso do Sul).
Para identificar o que pode ser pago pelo método, basta conferir no boleto físico se há um QR Code ou código de barras – as contas devem indicar ao cliente que dá para fazer o pagamento pela opção instantânea.
No aplicativo bancário, o consumidor deve selecionar a área Pix, opção pagar/transferir, inserir o valor, confirmar os dados bancários do receptor e finalizar a transferência.
Segurança e cuidado com golpes
Apesar de seguro, criminosos também invadem a tecnologia para fazer vítimas. Portanto, o cliente deve sempre ficar alerta. O golpe mais comum com o Pix é o agendamento, quando uma pessoa simula fazer o pagamento, mas está agendado para outro dia e o valor não cai na conta. Em muitos casos, o criminoso simulava com os dados corretos de quem iria receber, fazia um print e apagava a descrição “agendamento” do comprovante.
No geral, a transação financeira tende a ser segura. Ainda assim, alertas emitidos pelo Banco Central orientam usuários a ficarem atentos a indícios de fraude. No caso de quem envia, desconfiar de nome diferente para quem iria enviar, telefone desconhecido pedindo dinheiro, ou até SMS pedindo a conta e senha do banco.
Um dos últimos mecanismos de segurança inclui reconhecimento facial, biometria e limite de transação, de acordo com os métodos de cada banco. Os critérios podem variar por horário da operação, dia da semana e valor acima do normal do que o consumidor utiliza.
Principais vítimas
Os idosos são as principais vítimas de criminosos que clonam dados bancários ou simulam golpes com o Pix. Entretanto, diversos usuários podem cair na lábia de golpistas.
Para operar uma transação com o Pix é preciso utilizar uma chave de transferência que normalmente é um dado pessoal (CPF, CNPJ, e-mail, telefone, outros) que será associado aos seus dados bancários para a transferência se efetivar.
O Banco Central informa que todos os cadastros e transações são realizadas em um ambiente de autenticação digital. Os usuários fazem o Pix por internet banking ou aplicativo, há mecanismos de biometria, reconhecimento facial no celular e as senhas e a verificação de dois fatores no computador.
Todos os dados e as transações trafegam em uma parte da internet que é a rede do sistema financeiro nacional, que existe desde 2002. Apesar de oscilação, o que conhecemos como “Pix fora do ar”, o Banco Central afirma que nunca houve ataque à rede sistêmica.