Além do financeiro, vida profissional, relacionamentos e acesso a meios letais são pautados como causas que levam uma pessoa a tentar contra a vida
No dia 4 de junho de 2025, o cirurgião-dentista André Afif Elossais, de 49 anos, morreu após cair de uma janela da Santa Casa de Campo Grande. Ele atuava no hospital e também lecionava na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e em uma instituição de ensino em Dourados, no curso de pós-graduação de sua área. André já apresentava quadro de depressão e realizava acompanhamento psicoterápico.
Em setembro de 2025, a Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública divulgou dados sobre casos de suicídio em Mato Grosso do Sul. Desde 2015, foram registrados 2.153 casos, sendo 1.695 homens e 458 mulheres, o que representa uma diferença de 270%.
A psicóloga Louys Tavares destacou o perfil das pessoas que morrem por essa causa, chamando atenção também para os mais jovens.“O perfil mais frequente ainda é o de homens adultos jovens, geralmente entre 30 e 39 anos, mas também há um impacto significativo entre adolescentes. Grande parte das pessoas tinha algum transtorno mental, e tentativas prévias são um dos principais fatores de risco”, explicou.
Segundo Louys, o suicídio é um fenômeno multifatorial, sem uma única causa definida, resultando da combinação de aspectos biológicos, psicológicos e sociais. “Transtornos mentais, uso de substâncias, doenças crônicas, dificuldades financeiras, problemas de relacionamento, pressões profissionais e o acesso a meios letais podem se somar e aumentar o risco”, reforçou.
Ela também alertou para sinais de risco que podem anteceder o ato, como mudanças de comportamento, isolamento social e, no caso de adolescentes, início precoce do uso de álcool. Expressões relacionadas à morte e a entrega de objetos de valor pessoal também merecem atenção. “Nenhum desses sinais isoladamente significa que a criança ou adolescente vai tentar o suicídio, mas a persistência ou combinação deles exige acolhimento imediato, escuta sem julgamento e busca por ajuda profissional especializada”, pontuou.
Quando há a identificação de um caso, a psicóloga destaca que o primeiro passo é garantir a segurança do paciente e adotar abordagens comprovadas cientificamente, como a Terapia Comportamental Dialética e a Terapia Cognitivo-Comportamental adaptada para prevenção do suicídio. “Além do tratamento, é fundamental o acompanhamento ativo, o envolvimento da família e a integração com a rede de saúde para a recuperação do paciente”, afirmou.
No caso de adolescentes, Louys enfatizou a importância da integração entre profissionais de saúde, escola e família para um tratamento mais eficaz. “É essencial envolver os pais ou responsáveis, criar uma parceria com a escola e garantir que meios letais não estejam acessíveis em casa.
A escola tem um papel estratégico na identificação de sinais e no encaminhamento para serviços especializados”, concluiu.
Para buscar ajuda, a população pode entrar em contato com o CVV (Centro de Valorização da Vida), pelo número 188, disponível gratuitamente em todo o país. Também é recomendada a procura por um CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), onde é possível iniciar tratamento com profissionais especializados em saúde mental.