Secretaria Estadual de Educação aponta melhora nas notas e na disciplina
A aplicação da Lei Federal 15.100/2025, que proíbe o uso de celulares nas escolas, já apresenta resultados concretos em Mato Grosso do Sul: aumento nas notas, mais disciplina e menos conflitos em sala de aula. Levantamento realizado pela Secretaria de Estado de Educação (SED) em 342 escolas da rede estadual revela que 68,1% dos diretores notaram melhora significativa no comportamento dos alunos, com destaque para a convivência, interação e disciplina. Segundo o secretário estadual de Educação, Hélio Daher, a rede estadual alcançou, ao fim do primeiro semestre, a melhor média de notas da sua história, superando o índice 7,0 — um marco inédito atribuído, em parte, à restrição do uso de aparelhos eletrônicos.
Os dados reforçam o que educadores e especialistas vêm apontando há anos: o uso indiscriminado de celulares nas salas de aula tem efeito direto na concentração, no rendimento e na dinâmica de aprendizagem. Na pesquisa conduzida pela SED, 211 escolas relataram aumento expressivo na concentração e no engajamento dos alunos após a nova regulamentação; outras 124 identificaram melhora moderada, e apenas 10 não perceberam mudanças significativas. “É um recorte pequeno, mas vamos procurar entender por que nessas 10 unidades não houve percepção de melhora”, afirmou Daher.
A percepção dos diretores também incluiu a dimensão social do impacto. Para 233 escolas, houve avanço visível na qualidade das relações entre os estudantes. “Com base nessa socialização, cria-se um ambiente mais harmônico, de mais amizade e interação entre os estudantes. Isso naturalmente gera uma diminuição dos conflitos”, analisa o secretário. O levantamento revela ainda que 102 escolas notaram leve melhora nesse aspecto, enquanto 14 não registraram mudanças e apenas quatro relataram impactos negativos.
Em relação à receptividade dos alunos, o levantamento mostra que, embora tenha havido resistência inicial em 196 unidades, o comportamento mudou com o tempo. Em 97 escolas, a resposta dos estudantes foi positiva desde o início, e apenas 49 ainda enfrentam resistência. Os dados indicam que a maioria dos estudantes se adaptou à nova realidade, ainda que em alguns casos o processo tenha sido gradual.
O controle dos aparelhos também varia de acordo com a estrutura e diretrizes internas de cada escola. Em 277 unidades, os celulares permanecem desligados nas mochilas; em 20, são recolhidos e armazenados durante todo o turno; em oito, são guardados em armários individuais; e em 29, não há controle formal estabelecido — um ponto que, segundo a SED, ainda requer padronização.
Ainda segundo Daher, a próxima etapa será ouvir diretamente professores e estudantes, por meio de questionários aplicados a grêmios estudantis e conselhos escolares. “Buscamos inicialmente o olhar dos gestores. Agora, vamos avançar na escuta direta da comunidade escolar para ampliar a compreensão dos efeitos dessa medida”, explicou.
A Secretaria Municipal de Educação (Semed), por sua vez, informou que ainda não realizou levantamento semelhante nas escolas municipais. A ausência de dados atualizados sobre o impacto da nova lei nas redes municipais revela uma lacuna importante na avaliação nacional da política pública.
A proibição do uso de celulares nas escolas não é uma pauta nova, mas ganhou força com o avanço das discussões sobre os efeitos da hiperconectividade na aprendizagem e no desenvolvimento emocional dos jovens. Em 2023, um relatório da UNESCO recomendou restrições ao uso de dispositivos móveis em sala de aula, destacando o impacto negativo sobre o desempenho escolar e a saúde mental dos estudantes. “O uso excessivo de tecnologia digital pode atrapalhar o aprendizado e provocar dependência”, alerta o documento.
A experiência de Mato Grosso do Sul insere-se nesse contexto mais amplo e sinaliza que a política de restrição pode ser eficaz quando combinada com gestão escolar ativa, escuta da comunidade educativa e ações de acompanhamento pedagógico. Se bem conduzida, a medida pode contribuir não apenas para a melhora nos índices educacionais, mas para a reconstrução de vínculos interpessoais dentro da escola — um espaço que, mais do que nunca, precisa recuperar seu papel de convívio, escuta e formação integral.