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Tarifaço de Trump prejudica citricultura e mineração em MS

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Além de impacto imediato no setor de ferro-gusa, sobretaxa dos Estados Unidos ameaça a expansão do setor que já cultiva 25 mil hectares de laranja

 

O anúncio do governo dos Estados Unidos de impor tarifas adicionais de até 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto já tem reflexos diretos e preocupantes na economia de Mato Grosso do Sul. Após frigoríficos realocarem a carne que seria exportada para o país, setores como o de produção de ferro-gusa e a citricultura, em franca expansão no Estado, enfrentam incertezas e riscos de estagnação.

Segundo o titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, o impacto das tarifas norte-americanas vai muito além do agronegócio tradicional e atinge setores estratégicos e emergentes da economia de MS.

“A grande questão é que, obviamente, uma tarifa de 50% adicionais em qualquer atividade econômica tem impacto fundamental, que é uma elevação de custos, quer dizer, você eleva o custo de qualquer produto. Você estabeleceu um pedágio para entrar no país”, explicou .

No caso da citricultura, que vem ganhando espaço em Mato Grosso do Sul como uma forma de diversificação agrícola, a sobretaxa representa um retrocesso em um momento considerado chave para a consolidação da atividade no Estado. O secretário aponta que a elevação dos custos de exportação pode adiar investimentos e frear a expansão da cultura, que ocupa 25 mil hectares.

“Quando você olha sob o ponto de vista de MS, estamos exatamente numa trajetória de ampliação da base agrícola, os projetos já definidos, e não fomos notificados sobre nenhuma descontinuidade desses projetos”, destacou Verruck.

“Agora, quando a gente olha no longo prazo, é ainda uma avaliação a se esperar. A gente muda o cenário de longo prazo para a citricultura do Brasil”.

A maior preocupação é com o futuro do setor. Embora os projetos já implantados estejam mantidos, há receio quanto à continuidade de novos aportes.

“O que haverá é um retardamento de novos investimentos na questão de citricultura, mantendo aqueles que estão aqui hoje colocados”, ponderou Verruck.

Conforme já adiantado,  a projeção era de que, assim que MS ultrapassasse 30 mil hectares plantados, uma indústria de suco de laranja fosse instalada.

Atualmente, o Brasil é responsável por três em cada cinco copos de suco de laranja consumidos no mundo, e os Estados Unidos são o principal mercado para o produto brasileiro.

“Obviamente que as exportações de suco serão afetadas”, afirmou.

Esse prejuízo pode se refletir diretamente em Mato Grosso do Sul, que está atraindo grandes empreendimentos do setor justamente pela disponibilidade de terras, boas condições climáticas e logística de escoamento, como apontou a Semadesc.

MINÉRIO DE FERRO

No primeiro semestre deste ano, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), o volume de ferro enviado aos EUA foi de 94,5 mil toneladas, com montante negociado de US$ 40,5 milhões. Entre os setores, o da produção de ferro-gusa é apontado como o mais preocupante.

“Talvez, no curto prazo, o setor mais preocupante para o Estado é o de ferro-gusa, porque mais de 90% do que a gente produz em Corumbá, Ribas do Rio Pardo e Aquidauana é exportado para os Estados Unidos”, afirmou o secretário.

O produto, usado na indústria siderúrgica, não tem atualmente mercados alternativos de grande escala, o que agrava os efeitos da medida.

“Esse é um setor que tem uma forte exportação, não só do Mato Grosso do Sul, a gente responde por 10% da produção de ferro-gusa nacional, mas Minas [Gerais] é muito mais relevante. Esse é um setor com o qual nós temos uma preocupação”, explicou. “É o setor talvez mais preocupante no curto prazo, de impacto direto, de não realocação, porque você não tem mercado alternativo”.

A situação contrasta com o setor de carnes, que, mesmo afetado pela medida, já se reorganizou para redirecionar os produtos. Conforme adiantado pelo Correio do Estado, os frigoríficos já conseguiram encontrar novos mercados, o que deve mitigar as perdas com a tarifa.

“A vantagem ainda nesse momento, do ponto de vista de competitividade, é que os outros países também estão sofrendo elevações tarifárias. Seria muito complicado se os outros não estivessem, então, seríamos rapidamente substituídos”, disse Verruck.

No entanto, o risco de descontinuidade ou de paralisação do crescimento de setores como a citricultura pode ter efeitos duradouros. A região centro-sul de MS atraiu grandes grupos produtores nos últimos anos, em função da crise do greening em São Paulo, que reduziu drasticamente a produção no principal polo citrícola do País.

Além disso, a tarifa imposta pelos EUA “não está remunerando nenhuma estrutura”, funcionando apenas como um “pedágio”.

“O imposto de importação é um pedágio, porque ele não está remunerando nada. Então, obviamente que qualquer situação dessa tem impacto”, finalizou Verruck.

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