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Em ano com 18 feminicídios, para sobreviver vítima teve de mudar de estado

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Empresária fugiu de MS após sofrer duas tentativas de assassinato pelo ex-companheiro

 

Em 2025, Mato Grosso do Sul já contabiliza 18 feminicídios. A cada caso que termina em morte, há dezenas de histórias silenciadas por medo, vergonha ou impunidade. Mas uma jovem empresária de 24 anos decidiu romper esse ciclo: depois de sobreviver a duas tentativas de feminicídio, agressões físicas, perseguição e prejuízos financeiros causados pelo ex-companheiro, ela deixou tudo para trás e fugiu do Estado. “Vim só com o carro, a roupa do corpo e R$ 500 em espécie”, relata.

Ela procurou a imprensa nesta quarta-feira (16) para denunciar as violências que sofreu ao nos últimos meses de relacionamento. O namoro começou em setembro de 2023, quando o homem foi preso. Após visitas no presídio, o então companheiro saiu em liberdade e passou a morar com ela. Pouco tempo depois, a convivência virou pesadelo.

“Comecei a descobrir várias traições, inclusive com a minha empregada, dentro da nossa casa. Mesmo assim, continuei aguentando”, desabafa. No dia 9 de maio, sofreu a primeira agressão física. “Ele quebrou tudo, ficou sangue pela casa. Meu irmão foi lá me socorrer”, lembra.

Segundo a vítima, o episódio mais grave aconteceu pouco mais de um mês depois. Na madrugada de 12 de junho, enquanto dormia, a empresária foi atacada com uma faca. “Foi Deus que me tirou de lá”, diz. No dia seguinte, pediu medida protetiva. A polícia a acompanhou até o imóvel, onde foi encontrada a arma do crime escondida no sofá. “Tudo na casa era meu, mas deixei para ele”.

 

 

 

Mesmo com a medida em vigor, o agressor, que de acordo com a empresária, cumpre pena em liberdade condicional, continuou a persegui-la. Frequentava os lugares que ela ia, procurava amigos e familiares, e ainda tentou obter na Justiça a guarda do cachorro da vítima. “Ele quis brigar comigo até pelo meu cachorro, que eu comprei e cuido como filho”.

A empresária revela ainda, que no dia 16 de junho, ocorreu a segunda tentativa de feminicídio, dessa vez com arma de fogo. No fim de semana seguinte, ele a seguiu até uma festa, descumprindo novamente a decisão judicial. “Ele tentou me calar de todas as formas. Me proibiu de estudar, de ver minha família, meus amigos. Quando percebeu que não conseguiria, tentou me matar”.

Protesto realizado em 8 de março deste ano, contra o feminicídio; Na imagem, a jornalista Vanessa Ricarte, assassinada pelo ex-noivo, em fevereiro (Foto: Arquivo)

A empresária conta que teve seu cartão bancário usado indevidamente após a separação, acumulando prejuízo superior a R$ 8 mil. “Nunca imaginei passar por isso. Meus pais sempre me ensinaram que a gente precisa trabalhar muito e ser humilde para conquistar o que quer. Eu construí tudo com esforço. Agora estou recomeçando do zero”.

A mudança para São Paulo, segundo ela, foi a única saída para preservar a própria vida. Desde então, está abrigada na casa de uma amiga e tenta reconstruir a rotina longe do agressor. O caso segue sob segredo de Justiça.

Além dos episódios de violência doméstica, o ex-companheiro já possui antecedentes por tráfico de drogas. A empresária cobra celeridade na responsabilização e afirma que, apesar do medo, não pretende se calar. “Sou vítima, mas não vou mais me esconder. Esse silêncio é o que mata mulheres todos os dias”.

Em um ano marcado pelo alto índice de feminicídios, a fuga para outro estado escancara a realidade de mulheres que precisam desaparecer para continuar vivas.

Feminicídios – Neste ano, 18 mulheres foram vítimas de feminicídio em Mato Grosso do Sul. Entre os casos noticiados pelo Campo Grande News, alguns ganharam destaque pela repercussão.

Vanessa Ricarte, jornalista de 42 anos, foi assassinada pelo ex-noivo em fevereiro, mesmo após registrar boletim de ocorrência e pedir medida protetiva. Vanessa Eugênio, de 23 anos, e sua filha de 10 meses foram mortas pelo pai da criança, que alegou não querer pagar pensão. Ivone Barbosa da Costa Nantes, 40 anos, foi assassinada em Sidrolândia por um homem com histórico de feminicídio em outro estado.

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