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Briga pelo controle do tráfico de drogas transformou cidade de MS em faroeste

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Disputa entre Comando Vermelho e PCC preocupa forças de segurança em Coronel Sapucaia; 4 já morreram em atentados

 

Execuções de quatro pessoas em três dias na região de fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai evidenciam o início de uma disputa por território de tráfico de drogas entre as fações Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC).

O titular da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), Antônio Carlos Videira, confirmou a preocupação das forças de segurança de Mato Grosso do Sul com os recentes casos de execuções em Coronel Sapucaia, cidade no interior do Estado, e na cidade vizinha paraguaia, Capitán Bado, onde os alvos dos atentados tinham passagens pela polícia por tráfico de drogas.

“Há uma disputa por território. A região já foi palco de disputas anteriores, e hoje a gente tem nessa região o PCC querendo dominar toda a cadeia produtiva de drogas, desde a produção até a distribuição nos grandes centros”, declarou Videira.

O secretário acrescentou que estes crimes redobraram a atuação das forças de segurança na região fronteiriça. O receio é de que novas execuções possam ser planejadas pelas facções criminosas.

“As execuções chamam muita atenção e, por isso, nós mantemos o policiamento já reforçado e ininterrupto nesta região de fronteira seca. Porque, geralmente, aqueles envolvidos em outras execuções acabam sendo executados também e os autores dos crimes que acontecem no Paraguai acabam atravessando a fronteira e entrando no Brasil para fugir das forças de segurança paraguaias”, acrescentou Videira.

Nas cidades da faixa de fronteira com o Paraguai e a Bolívia, de acordo com os dados da Sejusp, já ocorreram neste ano 107 casos de homicídios dolosos, e 7 destes registros ocorreram neste mês.

CRIMES

O primeiro caso de execução ocorreu na noite de sábado, em Coronel Sapucaia, que faz fronteira seca com Capitán Bado, no Paraguai.

As vítimas foram identificadas como Francisco Willams da Silva, de 33 anos, e Camila Barros Barboza, de 35 anos. Segundo as informações, eles estavam em um veículo Volkswagen Jetta branco, com placas de Fortaleza (CE), e saíam de uma loja de cosméticos localizada na Rua Rachid Saldanha Derzi quando foram surpreendidos pelos atiradores.

O casal foi fuzilado com vários tiros e morreu ainda no local. Testemunhas relataram que os pistoleiros fugiram após os disparos. O caso está sob investigação.

Conforme apurou a reportagem, Francisco tem passagem pela polícia, tendo sido preso em 2020, na região de Ponta Porã, por ligação com o tráfico de drogas. O homem ficou até 2024 preso em regime fechado, em penitenciárias de Ponta Porã e Campo Grande.

Porém, desde o dia 5 de julho do ano passado, Francisco estava em liberdade condicional.

O segundo crime ocorreu na manhã de ontem, na mesma região do assassinato do casal, só que do lado paraguaio. Dois homens foram executados na cidade de Capitán Bado.

Um grupo fortemente armado fez dezenas de disparos contra os dois homens. Os executores ainda incendiaram dois veículos na ação, um deles da vítima alvejada.

Conforme publicação do jornal paraguaio ABC Color, a polícia paraguaia informou que um dos mortos é Alexi Xavier Escurra Rodrigues, de 25 anos, que teria inúmeras passagens pela polícia. E a outra vítima é Sebastian Gonzalez Espínola, de 37 anos, que não tinha antecedentes criminais.

O atentado ocorreu no Bairro San Roque. Os alvejados tentaram escapar dos tiros, mas foram perseguidos por várias quadras e caíram mortos próximos a uma borracharia.

PARENTESCO DO TRÁFICO

De acordo com informações da imprensa paraguaia, um dos alvos da execução em Capitán Bado, Alexi Javier Escurra Rodriguez, é sobrinho do narcotraficante Felipe Escurra, conhecido como Barón, que é ligado ao Comando Vermelho e conhecido na região de fronteira como “chefe da maconha”.

Barón atualmente está foragido e é procurado por crimes no Paraguai e no Brasil. Em 2016, conforme reportagem do Correio do Estado da época, Felipe Escurra foi preso por tráfico de drogas depois de entrar em confronto com agentes da Secretaria Nacional Antidrogas, no Paraguai

O traficante foi liberado da prisão pela Justiça paraguaia em 2019, e o juiz Leonjino Benítez Caballero, que proferiu a soltura de Barón, foi acusado posteriormente de ter recebido propina para liberar o narcotraficante. O juiz foi destituído do cargo, e Barón segue foragido desde então.

Felipe Escurra também tem mandados de prisão em aberto em Mato Grosso do Sul por roubo na cidade de Dourados e formação de grupo criminoso, em 2009.

Essa quadrilha, segundo o processo, era especializada em roubo de caminhões e sequestros dos motoristas vítimas desses roubos. O objetivo era negociar a “recompra” dos veículos roubados enquanto os motoristas ficavam em cárcere privado, em esconderijos localizados em cidades paraguaias que fazem fronteira com o Estado.

Conforme consta em processo suspenso da 2ª Vara Criminal da cidade de Ponta Porã, Felipe Escurra Rodrigues, um dos réus pelos crimes, é foragido da Justiça e, “caso seja encontrado pelas autoridades, deve ser preso e recolhido para cadeia pública”. A determinação judicial expedida em 2018 tem prazo de validade de 20 anos.

TRÉGUA

Em maio deste ano, matéria do Correio do Estado mostrou que a trégua entre PCC e Comando Vermelho, que teria começado em fevereiro, havia chegado ao fim.

Segundo a Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), CV e PCC deram fim a um acordo de paz entre eles. A medida, como mostrou a reportagem, poderia trazer animosidade entre as facções e reacender a violência na região de fronteira de Mato Grosso do Sul, onde ambas estão instaladas e de onde operam o tráfico de drogas.

Informações recebidas pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) davam conta de que a trégua teria como objetivo a suspensão das mortes entre os grupos e também a intenção de fortalecer as duas maiores facções do País para flexibilizar o tratamento a líderes presos no sistema penitenciário federal.
Entretanto, divergências de pensamento entre os grupos teriam causado o novo rompimento.

SAIBA

Segundo o jornal paraguaio ABC Color, Felipe Escurra é considerado pelas autoridades um dos maiores fornecedores de maconha para o mercado norte-americano. Além do crime de tráfico de drogas, ele também é acusado no Paraguai por sequestro e homicídio.

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