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Postos retêm queda no preço da gasolina e “embolsam” a diferença

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Sem repassar redução, empresários lucram R$ 220 mil por dia e podem faturar R$ 6,6 milhões em um mês

 

Uma semana após anúncio de redução do litro da gasolina nas refinarias da Petrobras, o desconto ainda não chegou aos consumidores. O desconto deveria chegar a R$ 0,12 por litro comercializado, mas, na prática, ainda não foi repassado. Considerando a média comercializada diariamente em Mato Grosso do Sul, de 1,8 milhão de litros, os donos de postos estariam “embolsando” R$ 220 mil por dia.

A média foi calculada com base no volume do combustível fóssil comercializado mensalmente no Estado. “No primeiro trimestre de 2025, a média foi de 55 milhões de litros por mês”, informou ao Correio do Estado o diretor-executivo do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis, Lubrificantes e Lojas de Conveniência de Mato Grosso do Sul (Sinpetro-MS), Edson Lazarotto.

Ao dividir 55 milhões por 30 dias, a média é de 1,83 milhão de litros diários comercializados. Considerando esse volume e os R$ 0,12 de queda que deveriam ser repassados ao consumidor final, são R$ 220 mil por dia, que podem chegar a R$ 6,6 milhões em um mês.

Dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) apontam que o preço médio do litro da gasolina se manteve em R$ 6,05 nas últimas três semanas. A pesquisa monitorou os preços de 50 estabelecimentos em todo o território sul-mato-grossense e apontou queda de apenas R$ 0,04 no valor mínimo encontrado no Estado – entre os dias 25 e 31 de maio, custava R$ 5,65 e, na semana passada, passou a R$ 5,61.

Na manhã de ontem, 20 postos de combustíveis nas regiões central, leste e sul de Campo Grande foram visitados, e verificou-se que a maioria dos postos não baixou o preço conforme o previsto e que o valor está parecido com o praticado na semana anterior. O valor mínimo encontrado foi de R$ 5,65, enquanto o valor máximo foi de R$ 5,99.

Lazarotto afirmou que as reduções estão ocorrendo gradativamente.

“A redução dos preços dos combustíveis ocorreu a partir do dia 3 de junho, na ordem de R$ 0,17 para gasolina A [sem adicionar etanol]. Como tem a mistura em 27%, essa redução cai para R$ 0,12 centavos, em média, para as distribuidoras, ainda descontando fretes e despesas de armazenagem dos produtos. Portanto, gradativamente já ocorrem as reduções, pois hoje, pela ANP, o preço médio, que era R$ 5,99, já está em R$ 5,84”, explicou.

De acordo com pesquisa realizada semanalmente pela ANP, o preço médio do litro da gasolina comum em Campo Grande se manteve em R$ 5,84 no período de 18 de maio até 7 de junho.

A estatal anunciou redução de R$ 0,17 por litro, equivalente a 5,6%, nas refinarias da Petrobras. Nas bombas, a queda seria de R$ 0,12 por litro ao consumidor a partir do dia 3. O combustível estava há exatos 328 dias sem reajuste, ou seja, desde julho de 2024.

De acordo com nota divulgada pela Petrobras, a redução se deve à queda do barril do petróleo no mercado internacional.

DIESEL

Conforme já publicado no mês passado, o valor do óleo diesel comercializado em MS já mostrava que a redução dos preços nas refinarias não havia sido repassada aos consumidores.

O diesel não sofreu nenhum reajuste por parte da estatal em todo o ano passado, já no início deste ano sofreu um aumento de R$ 0,22 e três quedas, que somaram redução de R$ 0,45, nos preços repassados às distribuidoras.

No recorte interanual, entre junho do ano passado e a semana encerrada no dia 7 deste mês, o óleo diesel comum saiu de R$ 5,89 para R$ 6,07, alta de R$ 0,18. Já o diesel S10 saiu da média de R$ 5,96 para R$ 6,03, de acordo com o levantamento da ANP.

Segundo o economista Eduardo Matos, o que ocorre é que, recentemente, as distribuidoras aumentaram a margem de lucro sobre os combustíveis fósseis.

“Fazendo um recorte de 2020 para cá, o período foi marcado por uma crescente nos preços em um ritmo bastante acelerado. Mesmo considerando essa correção inflacionária, nota-se que, ainda assim, a margem das distribuidoras aumentou. Isso se deve à concentração de mercado”.

O economista ainda detalha que antes havia uma competição mais acirrada entre as distribuidoras.

“Tínhamos um número maior de players e, com a desestatização da BR Distribuidora, hoje Libra, ficou concentrado esse mercado, e isso possibilitou que se apertasse o preço para o consumidor e aumentasse a margem para as distribuidoras. Então, o que ocorre é justamente o aumento da margem via redução da competição. Isso é teoria econômica vista na prática”, ressaltou Matos.

“Aquela situação em que vemos um oligopólio que tem um controle de preços maior diante dos consumidores em detrimento do preço dado ao mercado. Ou seja, quando há um número menor de concorrentes no mercado, eles têm maior poder de barganha para precificar os seus produtos e, assim, garantir uma margem de lucro maior”, concluiu.

A diferença entre o comportamento do preço do diesel que sai das refinarias da Petrobras e o cobrado nos postos tem despertado atenção na estatal.

“A partir de 1º de abril, reduzimos em R$ 0,45 o litro do diesel e, infelizmente, esse valor não está sendo percebido pelo consumidor final”, constatou o diretor de Logística, Comercialização e Mercados, Claudio Romeo Schlosser, durante apresentação do balanço da Petrobras.

“Não temos controle nem influência sobre como as distribuidoras e os revendedores ajustam os seus preços”, explicou o diretor.

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