Dados da Serasa apontam que, somente nos três primeiros meses deste ano, 31.525 pessoas entraram para a lista
Nos três primeiros meses deste ano, Mato Grosso do Sul registrou por dia 350 pessoas a mais na lista do “nome sujo”. Dados do Mapa da Inadimplência da Serasa enviados ao Correio do Estado apontam que 31.525 pessoas entraram para a lista de devedores no primeiro trimestre de 2025.
Levantamento da Serasa ainda mostra que, em dezembro do ano passado, o número de inadimplentes no Estado era de 1,129 milhão de pessoas. Já em março deste ano, o total passou a 1,161 milhão.
O número total de pessoas inadimplentes no Estado corresponde a mais da metade da população economicamente ativa, que é de 2,147 milhões, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ainda conforme a Serasa, em março deste ano, cada devedor tinha, em média, quatro dívidas em seu CPF. O ticket médio foi de R$ 6,3 mil, totalizando mais de R$ 7,428 bilhões em todo o Estado.
A maioria (29,92%) está comprometida com o cartão de crédito e instituições bancárias, seguido pelos inadimplentes com financeiras (17,60%) e com empresas de serviços (15,05%). Na sequência, com 14,72% do total, o setor chamado utilities, as contas básicas de água, energia e gás, seguido pelo varejo (11,28%), cooperativas (3,55%), telecomunicações (3,33%) e securitizadoras (1,56%).
O mestre em Economia Eugênio Pavão explica que algumas pessoas têm dívidas que se arrastam há alguns anos, porque o período pós-pandemia de Covid-19 agravou a situação de endividamento e inadimplência da população.
“A pandemia trouxe muita dívida para a população, e algumas [pessoas] não conseguem quitar essas contas, necessitando de recursos extras para isso, entrando em novas dívidas para pagar as antigas”, avalia.
Para o economista Eduardo Matos, o sistema financeiro brasileiro é bastante democrático, o que não é necessariamente ruim, mas pode ser prejudicial, por conta da falta de educação financeira.
“Um acesso mais facilitado a instrumentos de crédito de alto risco, como os cartões de crédito e o limite do cheque especial, que se tornam armas na mão do cidadão brasileiro. Porque a partir do momento em que ele tem à sua disposição esse tipo de crédito, ele usará e, em muitos casos, usará até mesmo sem pensar ou interpretá-lo como uma extensão de sua renda, o que não é verdade”, considera Matos.
O levantamento da Serasa ainda detalha que a maioria (52,2%) dos inadimplentes em Mato Grosso do Sul são do sexo masculino, contra 47,8% do sexo feminino. Quanto às faixas etárias, as pessoas com idade entre 41 e 60 anos são a maioria dos que têm contas em atraso (35%), seguidos da população com idade entre 26 e 40 anos (34,8%). Na sequência estão as pessoas acima de 60 anos (18,3%), enquanto os que têm até 25 anos são os menos inadimplentes (11,9%).
O doutor em Economia Michel Constantino lista os principais fatores que contribuíram para o cenário no Estado: “Estão ligados primeiramente à falta de planejamento financeiro, seguido pelo custo de vida alto, inflação, juros altos e ainda empregos chamados subempregos [sem carteira assinada], que são frágeis e não tem proteção”, elenca.
NACIONAL
Os dados do principal indicador de inadimplência no País apontam crescimento no volume de inadimplentes em março. Com 75,7 milhões de endividados, o mês registrou aumento de 1,02%, em comparação a fevereiro.
Os brasileiros com idades entre 41 e 60 anos representam a maior fatia da população com nome restrito, com 35,1%. Na sequência estão as faixas etárias de 26 a 40 anos (34%), acima de 60 anos (19,2%) e os jovens entre 18 e 25 anos (11,7%).
Em março, o valor médio de cada acordo realizado na plataforma de renegociação de dívidas foi de R$ 714. No total, foram somados mais de R$ 17,75 bilhões em descontos concedidos, em meio ao maior mutirão de negociação de dívidas do País.
A inadimplência ocorre quando uma pessoa ou empresa deixa de cumprir uma obrigação financeira dentro do prazo acordado para o pagamento. De acordo com a Serasa, esse atraso pode gerar uma série de consequências negativas, impactando tanto o devedor quanto a economia como um todo.
Matos ressalta a importância de evitar a inclusão no cadastro de inadimplentes e, para quem já está nessa situação, buscar alternativas para reverter o quadro. Para ele, o planejamento é o primeiro passo.
“É preciso se conhecer antes de qualquer tipo de atitude que deve ser tomada. E, no caso da educação financeira, é necessário ter o autoconhecimento de todas as receitas e todos os seus gastos para montar um orçamento. Dessa forma, fica mais fácil para a próxima etapa, sendo o corte de gastos. Aqueles que estão inadimplentes, infelizmente, não tem outra forma, a não ser cortar gastos. Seja substituindo itens que já são de uso corriqueiro, por itens mais baratos ou então cortando realmente, sem qualquer tipo de substituto”, orienta o economista.
Ele também faz um alerta sobre o uso de empréstimos: essa opção só deve ser considerada se os juros forem inferiores aos cobrados pelo credor original.
“No entanto, isso é um equilíbrio. Uma taxa de juros menor geralmente implica em um prazo menor também. Então, é preciso ter essa noção do seu fluxo de entradas e saídas e adotar uma parcela que cabe no seu bolso em uma taxa de juros atrativa. Todos esses itens, eles devem ser pensados e devem ser pesados na hora de tomar uma decisão”, conclui Matos.