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Alta demanda global leva o preço da carne a disparar no Estado

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Quilo da picanha varia de R$ 59,90 a R$ 115,98 em supermercados e casas de carne de Campo Grande

 

 

O aumento da demanda global por carne bovina leva à alta das exportações e, consequentemente, faz subir os preços da arroba do gado e do quilo da carne para o consumidor final. Em Campo Grande, o preço médio dos cortes bovinos aumentou em 6% no intervalo de cinco meses – e pode subir ainda mais, de acordo com os especialistas consultados.

Pesquisa da reportagem aponta que o quilo do contrafilé saiu do preço médio de R$ 49,38, em dezembro do ano passado, para R$ 51,91, nesta sexta-feira. Já a picanha, o corte favorito do churrasco, é comercializada pelo preço médio de R$ 88,94, ante o preço de R$ 87,15 do fim de 2024.

Além da alta, a variação de preços entre supermercados e casas de carne da Capital chega a 93,62%. No caso da picanha, por exemplo, os valores variam de R$ 59,90 a R$ 115,98. A costela vai de R$ 23,90 a R$ 25,89, enquanto o valor para comprar um quilo de patinho varia de R$ 41,90 a R$ 48,98.

“Se o mercado externo se mantiver aquecido e o dólar alto, a renda dos produtores e o lucro dos frigoríficos tendem a se manter em alta. Já para o consumo interno o desafio é manter o preço no patamar atual, pois a tendência é de redução do consumo”, analisa o mestre em Economia Eugênio Pavão.

O doutor em Economia Michel Constantino complementa que os preços maiores internamente vão encarecer a carne para o consumidor: “No fim, você tem preços cada vez maiores, como já estamos vendo. Com a expectativa de que continuem produzindo mais, os preços tendem a aumentar um pouco mais”.

Dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial, apontam que o preço das carnes aumentou em 25,07% no período de 12 meses finalizado em abril. Ainda conforme o levantamento elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o valor da paleta aumentou em 35,13% no período, enquanto o do músculo aumentou em 33,64%.

Os consumidores procuram estratégias para tentar evitar que os valores pesem no bolso. O mecânico Ricardo Souza, de 40 anos, afirmou que é preciso ser ponderado na hora das compras.

“Tenho pesquisado bastante, ajudo meus filhos, os netos vão para casa no fim de semana, então, se a gente não se organiza e compra o que quer, a conta não fecha no fim do mês. Se o laço aperta, a gente troca uma peça por outra, compra costela, linguiça, e assim vai levando o mês”.

A enfermeira Bianca Ferreira, de 30 anos, afirma que não tem o hábito de comprar carne e mesmo assim percebe a alta. “Nem conheço muito de corte, mas a impressão que tenho é de que os preços subiram um pouco. Compro aqui [no Mercadão] porque gosto da carne, o açougueiro é de confiança, então, é mais uma questão de tradição familiar, comprar nos mesmos lugares, visitar os mesmos pontos”.

A esteticista Larissa Perussato, de 27 anos, diz que neste momento está prezando mais por qualidade. “Hoje eu vim para uma data comemorativa, então vou levar uma picanha e alguns outros cortes para celebrar o aniversário de uma sobrinha. Acredito que, de modo geral, o trabalhador tem de pesquisar, independentemente do que seja, mesmo porque corre o risco de a conta não fechar no fim do mês”.


VALORIZAÇÃO

Após um longo período de desvalorização no preço pago ao produtor, a arroba do boi aumentou em 44,63% no intervalo de um ano. Em maio do ano passado, o gado era vendido a R$ 211,12 no mercado físico de Mato Grosso do Sul. Nesta sexta-feira, o boi gordo era comercializado a R$ 305,35.

No mesmo intervalo de tempo, a vaca custava R$ 191,26, em 2024, e passou a R$ 273,83, neste ano – alta de 43,17%. “As incertezas causadas pela guerra das tarifas, juntamente com a alta de consumo de carne no mercado interno, provocaram a alta da arroba”, afirma Pavão.

Conforme já informado pelo Correio do Estado na semana passada, em meio ao tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, as exportações de Mato Grosso do Sul para o país norte-americano em abril deste ano mais que dobraram.

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) apontam que as vendas somaram US$ 82,2 milhões (R$ 466 milhões) em abril deste ano, ante US$ 37,7 milhões no mesmo mês do ano passado (R$ 213,7 milhões) – alta de 121,6%.

No comparativo entre março e abril, o volume financeiro das compras dos produtos sul-mato-grossenses pelos EUA aumentou em 90%: no terceiro mês do ano o volume chegou a US$ 43,2 milhões (R$ 245 milhões).

Especialistas ouvidos pelo Correio do Estado apontaram que, em março, houve uma corrida dos importadores norte-americanos, uma vez que a taxação a partir de abril era praticamente certa.

De acordo com o titular da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, as tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos trazem novos desafios de relação comercial.

“Para que eu continue vendendo pelo mesmo preço, vou ter de comprimir minha margem ou ser mais competitivo”, explica.

Ainda conforme os dados do Mdic, somando os quatro primeiros meses do ano, a alta nas exportações de MS para os EUA foi de 31%. De janeiro a abril de 2024, foram comercializados US$ 150,2 milhões
(R$ 852 milhões), enquanto nos quatro primeiros meses deste ano foram US$ 196,7 milhões (R$ 1,115 bilhão).

O diretor de Estatísticas e Estudos de Comércio Exterior do Mdic, Herlon Brandão, corroborou, em entrevista à Folha de São Paulo, que a alta nas vendas para os EUA possivelmente está relacionada com uma antecipação das importações pelos americanos pelo receio dos impactos do tarifaço.

“Há um cenário de incerteza para os importadores americanos, que temem retaliações ou aumentos tarifários de outros países”, aponta.

As exportações do Brasil para os Estados Unidos somaram US$ 3,57 bilhões (R$ 20,52 bilhões), uma alta significativa de 21,9%, na comparação com o mesmo período do ano passado. As importações totalizaram US$ 3,79 bilhões (R$ 21,79 bilhões), subindo 14% na mesma comparação.

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