Os veículos de comunicação oprimem e controlam o corpo e a aparência das mulheres desde o seu surgimento, criando padrões de beleza totalmente inalcançáveis e escravizando mulheres desde o início de suas vidas, transformando nossos corpos em motivo de audiência e abrindo para debate um assunto que deveria ser somente a respeito de nós.
Com a praticamente extinção da mídia impressa, todos os olhos se viraram para as redes sociais e hoje em dia é difícil consumirmos um conteúdo que esteja fora de um aplicativo em nosso smartphone. O Instagram foi o aplicativo mais baixado do Brasil em 2024 e é também o mais imagético de todos eles. Nós constantemente selecionamos com cuidado o que queremos postar e qual parte de nossa vida queremos compartilhar com nossos seguidores, o filtro que passamos em nosso feed é delicado e preciso e assim como os padrões de beleza impostos pelas revistas há uma década atrás, inalcançáveis.
Os filtros do Instagram começaram como uma forma divertida e inofensiva de “se fantasiar”, com orelinhas de cachorro, bigodes de gatinhos e óculos divertidos. Mas não demorou muito para surgirem os efeitos que transformassem completamente nossos rostos, aumentando a boca, afinando o nariz, puxando os olhos e maquiando a pele, deixando todo mundo com a mesma aparência, uma mistura de Kardashian com Bella Hadid. O efeito Kardashian se popularizou no mundo inteiro e a Internet como intensificadora da sociedade e de suas rupturas, demonstrou isso como nunca antes.
Por mais inofensivos que os filtros do Instagram possam parecer, eles transformaram a forma que enxergamos a nós mesmos e hoje em dia postar uma selfie sem nenhum filtro ou edição, se tornou um ato de coragem e quase um posicionamento político. As pessoas olham para suas imagens deformadas na tela do celular e enxergam isso como um upgrade de si mesmo, comparando sua real aparência com a versão computadorizada e nada humana que os filtros nos oferecem.
Os dados em torno do assunto são completamente assustadores e comprovam que de inofensivos, os filtros não tem nada. Um fenômeno chamado Snapchat dysmorphia mostrou que um grande número de jovens mulheres norte-americanas estão levando aos cirurgiões plásticos fotos de si mesmas com filtros, dizendo que é assim que elas querem parecer. Estudiosos sugerem, que o fato de passarmos grande parte de nossos dias engolidos por nossos smartphones e nos vendo através de uma câmera, aumentou exponencialmente a obsessão pela autoimagem e pela busca incessável por uma perfeição irreal, o que fez crescer a procura por cirurgias plásticas ao redor do mundo.
A fixação por uma aparência computadorizada e irreal pode representar riscos físicos e psicológicos às gerações que são nativas da Internet. Cada vez mais vemos a depressão e a baixa autoestima ligadas a pessoas cada vez mais novas, e a insatisfação com a própria imagem se tornou quase uma característica dos novos adolescentes. Meninas de até 14 anos representam os usuários mais frequentes do Instagram e é claro que esses dados estão interligados, sua grande frequência nas redes sociais definitivamente é uma das principais causas das doenças psicológicas na Geração Z. A Gen Z se mostrou ser a que menos sai de casa e socializa com os outros. Infelizmente vem se tornando cada vez mais comum vermos meninas que se sentem desconfortáveis em apresentar sua imagem real ao mundo, já que a pessoa que vemos em seu Instagram é completamente tratada, editada e distante da realidade.
Em resposta a isso, a empresa anunciou em agosto de 2024, que iria remover os filtros de realidade aumentada para stories criados por terceiros na plataforma. A empresa também está encerrando a plataforma Meta Spark e apenas os filtros criados pela própria Meta, estarão disponíveis. A mudança também vale para os stories do Facebook e do Messenger. Apesar de não se aprofundarem no assunto e nas motivações do banimento, o movimento foi visto com bons olhos por psicólogos e especialistas em saúde mental.
A fixação por uma aparência computadorizada e irreal pode representar riscos físicos e psicológicos às gerações que são nativas da Internet.
É claro que o leque de edições nas redes sociais ainda é praticamente infinito e as possibilidades de mudar a si mesmo se tornam cada vez mais diversas. A linha entre o criativo e o problemático é tênue e devemos ficar o mais atentos possíveis, principalmente às gerações mais novas e cuidar para que sejamos o mais real possível, exaltando pessoas reais e belezas reais.