Defensora pública fala que medida judicial contra a clínica será apresentada na próxima semana
Omissão de socorro, tortura psicológica e cárcere privado são algumas das condições gravíssimas identificadas na Clínica Fazendinha, no Bairro Chácara dos Poderes. Durante coletiva realizada nesta quinta-feira (5), a defensora pública, Eni Maria Diniz, relatou essa e outras situações que tornaram o espaço terapêutico alvo de inspeção do MPF (Ministério Público Federal).
Na terça-feira (3), a Defensoria Pública, Vigilância Sanitária, 3ª Delegacia de Polícia Civil e Ministério Público do Trabalho estiveram no local que possui estética de “chalé rústico”. A ação ocorreu após denúncias de que o local mantinha os internos em cárcere privado, sendo obrigados a trabalhar na construção de outros alojamentos.
À frente do NAS (Núcleo de Assistência à Saúde), a defensora Enia Maria Diniz pontuou que na próxima semana será finalizado o relatório técnico sobre a clínica e que no momento os órgãos estão fazendo a coleta de informações. “Elas [informações] serão compiladas e a medida judicial será manejada pela Defensoria Pública em parceria com o Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual”, afirma.
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Intitulado como um “Espaço terapêutico”, a Fazendinha era voltada para o tratamento de dependentes químicos, realizando o serviço há 1 ano e dois meses. No dia da ação, a defensora pública relata o que foi identificado junto aos demais órgãos.
“Situações muito tensas aconteceram no local. Nós identificamos cárcere privado, omissão de socorro, tortura psicológica. […] Nós não podíamos divulgar inicialmente, porque a gente precisava fazer toda a compilação de dados e de informações. Todos os pacientes foram ouvidos pelas equipes técnicas”, diz.
Outro ponto grave apontado por ela é que comunidade terapêutica não é lugar de internação, além disso, outro problema era que mesmo a clínica sendo voltada para homens, foram identificadas cinco mulheres mantidas involuntariamente nas dependências do espaço.
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Ao todo, 130 pessoas foram identificadas durante a inspeção do MPF e no final do dia 20 delas permaneceram no local. A defensora explica que, devido à condição de alguns dos pacientes, não foi feito o fechamento do espaço terapêutico.
“O local não foi fechado por um motivo muito simples. Havia pessoas ali que precisavam permanecer até que os seus familiares chegassem. Então, por mais que a gente identifique situações violadoras, a gente tem que compreender que nem todo mundo consegue uma assistência familiar imediata”, esclarece.
Outras investigações – Não é de hoje que comunidades terapêuticas são alvos de investigações. Em Campo Grande, o Ministério Público Estadual mantém inquéritos e até ações na Justiça. Com a insuficiência de oferta de serviços públicos, estruturas ligadas a igrejas ou mesmo ex-dependentes acabam recebendo pessoas que precisam de ajuda para se recuperar.
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Há pouco mais de um mês, outra comunidade na Chácara dos Poderes foi alvo de uma ação de autoridades. Após a vistoria, uma equipe de inspeção federal recomendou o fechamento da comunidade Filhos de Maria. No local, foram encontrados pacientes dopados, vivendo em alojamento considerado insalubre e degradante.
Foi aberto inquérito para apurar denúncia de cárcere privado, lesão corporal e sequestro e um relatório recomendou ao TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) a reavaliação da ordem de internação em relação às pessoas que estavam no local. Além da iniciativa voluntária dos internos, muitos são levados por ordem judicial, atendendo a pedido das famílias em busca de vaga para internação compulsória custeada pelo poder público.