Jogos de internet tipo ‘tigrinho’ têm causado série de transtornos na população
Seguindo a orientação do Ministério da Saúde, todas as USFs (Unidades de Saúde da Família) de Campo Grande devem atender os pacientes com transtorno de jogos, o famoso Tigrinho, assim como os CAPs (Centros de Atenção Psicossocial).
A decisão ocorre após o Departamento de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas emitir uma nota técnica sobre o assunto às secretarias de saúde dos municípios, devido à crescente onda de pessoas com transtorno relacionado aos jogos de aposta on-line.
Conforme a coordenadora de Saúde Mental, Gislayne Budib, em Campo Grande, a nota foi enviada à todas as USFs e CAPs.
A nota detalha o cuidado a se tomar no enfrentamento do problema, como o atendimento por equipe multiprofissional e compartilhado entre atenção primária da saúde e atenção especializada com consultas individuais e em grupo.
Ainda segundo o Ministério da Saúde, a família e os amigos do paciente com transtorno de jogo devem receber apoio e cuidado até mesmo para a implementação de “estratégias necessárias para enfrentar o problema”. Conforme a nota, tanto a Atenção Primária à Saúde (UBS, e-Multi) como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), em todas as suas modalidades (CAPS I, II e III, CAPSad, CAPSi), podem acolher pessoas apresentando necessidades decorrentes do jogo e realizar os cuidados com base na estratificação de risco.
Nota técnica
Para elaborar a nota técnica, o departamento de saúde mental, álcool e outras drogas fez uma revisão da literatura científica nacional e internacional, no período de setembro e outubro de 2024. O grupo analisou as publicações dos últimos 10 anos, principalmente revisões sistemáticas sobre o tema.
Com base no que se apresenta atualmente com relação ao jogo problemático, se reconhece a necessidade de maior compreensão do fenômeno e seus impactos na saúde mental da sociedade brasileira. A OMS reconhece o jogo como uma atividade que pode ser prejudicial à saúde com danos significativos à saúde mental.
O transtorno do jogo se classifica como um transtorno mental e comportamental, que tem um padrão persistente como o envolvimento contínuo nas apostas. Além disso, propicia sofrimento e a influência negativa nos relacionamentos pessoal e coletivo, a redução da capacidade de autogestão sobre o comportamento do jogo e a compulsão com dificuldade de interrupção, mesmo quando desejado.
Dados epidemiológicos
De março a outubro deste ano, os CAPS de Campo Grande atenderam 42 pacientes que se queixaram do vício em jogos presenciais ou on-line. O problema quase sempre vem acompanhado de outros transtornos como a ansiedade e, em muitos casos, comportamentos autodestrutivos devido ao alto endividamento com as apostas.
Conforme o Ministério da Saúde, cerca de 46,2% dos adultos e 17,9% dos adolescentes no mundo jogaram algum tipo de jogo nos últimos 12 meses, com as maiores taxas identificadas entre os homens (49,1%) quando comparado às mulheres (37,4%). Na América Latina, a prevalência é de 31,7% de jogadores adultos. Quanto ao transtorno do jogo, a OMS estima uma prevalência que varia de 1,3% a 9,9% na população geral. Com relação à proporção da renda gasta com apostas, as famílias mais pobres apostam cerca de 32% a mais do que as famílias mais ricas.
No Brasil, de acordo com dados da Pesquisa DataSenado – Panorama Político 2024, em um período de 30 dias, 13% dos brasileiros com 16 anos ou mais (22,13 milhões) declararam ter participado de apostas esportivas, o perfil prevalente é de pessoas do sexo masculino (62%), entre 16 e 39 anos (56%) e com ensino médio completo (40%). Apenas 3% declararam ter desembolsado um valor maior que R$ 769,00 em jogos de internet.
Sinais de alerta
- Ter menos tempo ou dinheiro para gastar com outras atividades prazerosas, família e amigos;
- Aumento do consumo de álcool e outras drogas;
- Sentimento frequente de culpa, arrependimento, insegurança, vergonha;
- Mentir sobre o tempo e/ou o dinheiro que gasta com o jogo;
- Crianças e adolescentes mostrando sinais de angústia e enfrentando dificuldades na escola;
- Desempenho reduzido nos estudos ou no trabalho;
- Mudança nos padrões de sono, alimentação ou relacionamento sexual;
- Sentimentos de raiva, desesperança, solidão, desvalia;
- Isolamento social;
- Ideação suicida.
A qualquer sinal de problema procure uma unidade de saúde, no site a seguir estão os endereços das unidades: www.campogrande.ms.gov.br/sesau.