A infertilidade secundária é a dificuldade de engravidar após o casal já ter tido um ou mais filhos. Entenda quais são as causas, como é feito o diagnóstico e quais são os tratamentos disponíveis
Não existe uma resposta única para essa pergunta. Muitas coisas podem estar por trás dessa dificuldade de engravidar entre casais que já tiveram filhos. Essa é uma situação tão comum que recebe até um nome específico dentro da medicina: infertilidade secundária.
“A gente só chama de infertilidade quando é um casal de menos de 35 anos tentando engravidar há pelo menos 12 meses sem método contraceptivo, tendo relação sexual de duas a três vezes por semana. Para casais com mais de 35 anos, bastam seis meses tentando”, explica a ginecologista Marise Samama, presidente da Associação Mulher, Ciência e Reprodução Humana do Brasil (AMCR).
Causas da infertilidade secundária
A infertilidade secundária pode ter diversas causas, tanto femininas quanto masculinas. Compreender onde está o problema é o primeiro passo para conseguir pensar em uma solução e seguir com o tratamento adequado. Justamente por isso, procurar a ajuda de um especialista é fundamental.
“Mais da metade dos casos de infertilidade são do casal, ou seja, os dois apresentam dificuldades. Então, o ideal é procurar um especialista em reprodução humana, que vai olhar para os dois. Muitas vezes, quando o casal chega ao especialista já é tarde demais”, afirma Marise Samama, da AMCR.
Entre as mulheres, as causas mais comuns de infertilidade secundária costumam ser:
- Problemas ovulatórios: síndrome dos ovários policísticos (SOP), distúrbios da tireoide e aumento de prolactina podem interferir no processo de liberação dos óvulos;
- Endometriose: o crescimento do tecido endometrial fora do útero pode causar um processo inflamatório e interferir na implantação do embrião;
- Reserva ovariana diminuída: com o tempo, o estoque de óvulos da mulher vai diminuindo. Isso, consequentemente, diminui também as chances de gravidez;
- Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs): clamídia e gonorreia, por exemplo, podem causar danos às tubas uterinas, impedindo o encontro do óvulo com o espermatozoide;
- Cirurgias abdominais: procedimentos cirúrgicos também podem afetar os órgãos pélvicos e comprometer a fertilidade;
- Doenças autoimunes: condições como lúpus e diabetes tipo 1 podem causar alterações hormonais e inflamatórias que afetam a fertilidade.
- Problemas de qualidade do sêmen: isso pode incluir uma baixa contagem de espermatozoides, espermatozoides mais lentos ou com formatos diferentes;
- Varicocele: quando as veias do escroto estão dilatadas, a produção e a qualidade do sêmen também poder ficar prejudicada;
- Infecções: algumas podem comprometer a produção de espermatozoides, como a caxumba e algumas ISTs;
- Problemas hormonais: baixos níveis de testosterona, por exemplo, podem afetar a produção de sêmen.
Porém, há fatores também que podem afetar os dois, tanto o homem quanto a mulher. Normalmente, eles estão ligados a hábitos e questões ambientais, como:
- Estresse: o estresse crônico pode afetar a fertilidade de ambos os sexos, alterando os hormônios reprodutivos;
- Alimentação inadequada: o consumo exagerado de ultraprocessados e a falta de nutrientes essenciais também pode impactar negativamente a fertilidade;
- Sedentarismo: a falta de atividades físicas pode afetar a qualidade do esperma e a ovulação;
- Tabagismo e consumo de álcool: também prejudicam a fertilidade masculina e feminina;
- Exposição a toxinas: agrotóxicos, poluição e microplásticos também podem ser vilões da fertilidade;
- Obesidade: o excesso de peso pode interferir na ovulação e na qualidade do sêmen;
- Métodos de contracepção definitivos: laqueadura e vasectomia são procedimentos que nem sempre podem ser revertidos.
Tratamentos de infertilidade secundária
Não existe um tratamento de infertilidade que funcione para todos os casais. O protocolo sempre é individualizado e a forma de conduzir a situação vai depender do tipo de dificuldade encontrada pelo especialista. É só a partir do diagnóstico que o médico poderá recomendar o tratamento mais adequado para cada situação.
“Quando a mulher tem um estoque de óvulos muito baixo, podemos tentar a fertilização in vitro (FIV). Em caso de tuba uterina prejudicada também. Agora, se o problema é a qualidade do sêmen, talvez a mudança de hábitos ou a cirurgia de varicocele ajudem”, explica Marise Samama, presidente da AMCR.
Alguns dos tratamentos mais comuns costumam ser:
- Coito programado: monitoramento do ciclo menstrual para identificar os dias mais férteis para a relação sexual;
- Indução da ovulação: alguns medicamentos podem estimular a liberação de óvulos;
- Inseminação artificial (IA): introdução de espermatozoides no útero da mulher em um momento próximo à ovulação;
- Fertilização in vitro (FIV): o óvulo é fecundado em laboratório e o embrião é transferido para o útero da mulher;
- Cirurgias: para tratar quadros como a varicocele ou corrigir questões anatômicas, como miomas ou obstruções nas tubas uterinas;
- Mudança de hábitos: adoção de uma rotina de alimentação saudável e de atividades físicas regulares.