Quando equipe chegou ao local, internos ficaram desesperados para relatar situação degradante que viviam
Situação chocante foi encontrada pela equipe do MNPCT (Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura) na Comunidade Terapêutica Filhos de Maria, durante a inspeção na tarde desta sexta-feira (25), que resultou em flagrante policial. Assim que os servidores federais chegaram ao local foram cercados pelos internos que, desesperados, começaram a dar relatos sobre a situação degradante em que estavam vivendo.
Entre as muitas histórias contadas sobre perspectivas ainda confusas por conta das medicações que estavam sendo ministradas sem a supervisão de um médico, os pacientes relataram que eram submetidos a sessões de espancamento e também a alimentação escassa no local, que era pago mensalmente por suas famílias.
De acordo com os servidores, um dos internos foi encontrado dormindo há cerca de três dias. “Ele estava dopado de tantos remédios. Chegou a urinar na cama. Devia ter entre 50 e 60 anos. Encontramos ali adolescentes, idosos, cadeirantes, pessoas com todo tipo de comorbidade, vivendo em uma situação degradante”, relatou um dos servidores.
O desespero era tanto que os pacientes não ficaram sequer intimidados com a presença dos funcionários do local, segundo os integrantes do MNPCT. “Eles nos cercaram para contar suas histórias. Um deles relatou que nos primeiros dias foi levado para um local chamado de chiqueiro e apanhou de ripa. Apanhou tanto que ficou sem falar”, contaram profissionais que vieram ao Estado para inspecionar as comunidades terapêuticas.
Ao grupo, os internos relatavam que passavam entre sete dias e três meses isoladas em um espaço chamado de “quarto do isolamento”. Na clínica foram encontrados restos de comida jogados no terreno, assim como lixo que seria queimado e enterrado depois e caixas com alimentos podres.
Um dos internos chegou a pedir socorro. Ele estava com o braço com marcas de queimaduras de cigarro e relatou estar se automutilando por não aguentar mais viver na clínica. Ainda de acordo com o grupo, muitos pacientes não são de Campo Grande e os familiares foram acionados.
A alimentação era precária e, na maioria das vezes, o jantar era apenas de macarrão com salsicha. Os internos que trabalham começavam o expediente às 5h e encerravam às 22h, eles não recebem salário e o único benefício é o acesso “livre” à alimentação. Algumas pessoas que estavam no local viviam em situação de rua e foram recolhidas por equipes de resgate.
Além da Polícia Civil e Defensoria Pública, o MNPCT também acionou equipes do Conselho Estadual de Direitos Humanos e da Secretaria Municipal de Assistência Social. Agora um relatório será feito sobre o local e um inquérito instaurado para investigar o caso.
O Campo Grande News entrou em contato com um telefone encontrado na internet, mas até o momento não houve retorno. Os responsáveis pela clínica foram levados para a 3ª Delegacia de Polícia Civil para prestar depoimento e no local não quiseram falar com a equipe de reportagem. O espaço segue aberto.