Aumento no número de divórcios evidencia dificuldade em estabelecer vínculos emocionais sólidos e duradouros
A maioria dos casais atualmente vem enfrentando uma grande crise nos relacionamentos. De acordo com o último censo pelo IBGE, um a cada três casamentos termina em divórcio no Brasil. Os números ainda apontam que, nos últimos 10 anos, o divórcio cresceu 160%. Segundo a pesquisa, a média do tempo de casamento caiu de 17,5 para 13 anos juntos.
A psicanalista e especialista em relacionamentos, Carol Tilkian, afirma que as pessoas estão cada vez mais se sentindo solitárias. “Ao mesmo tempo que observamos esse resultado, temos outro estudo informando que uma a cada quatro pessoas se sentem sozinhas, e essa solidão se dá pela ausência de vínculos significativos de afeto”, aponta.
Segundo a profissional, a epidemia da solidão também tem outros pontos que são avaliados do ponto de vista da psicanálise. “Acumulamos desencontros e frustrações amorosas e nos vemos exaustos, na defensiva e, ao mesmo tempo, querendo encontrar um amor possível. Culpamos os tempos líquidos e buscamos novas formas de nos relacionar sem nos darmos conta de que a discussão primordial não está nos novos modelos de relação e sim nas crenças, sentimentos e pensamentos que levamos para quaisquer que sejam os arranjos”, enfatiza.
Relacionamentos superficiais
O surgimento de novos modelos de relação como o relacionamento aberto precisa ser abordada pelo aspecto dos impactos do medo do abandono e dos efeitos nocivos do desejo de controle do outro e de uma relação ideal. “Ao considerar o tempo do amor é importante lembrar que ele não segue uma progressão geométrica, não é sempre acelerado e constante. As oscilações ocorrem, mas estamos cada vez menos dispostos a sustentar silêncios, desencontros e o medo de perder os vínculos”, reforça.
Para a psicanalista, outro fator importante a ser levado em conta são as intimidades artificiais, que geram um estado de falsa conexão e latente solidão. “Numa era onde vivemos vidas de redes sociais, criamos conexões, mas não vínculos. Nas conexões tenho acesso ao outro, porém é restrito. Já o vínculo é algo construído com profundidade”, diz Carol Tilkian.
Em tempos que a internet fornece informações rápidas, na visão da especialista, para que o amor seja possível é necessário ter coragem de dar espaço para a dúvida e para o não saber. “O amor é uma aposta, mas não precisa ser um jogo” afirma Carol. “Enquanto quisermos entender tudo o que está acontecendo e buscarmos certezas, seguiremos jogando na defensiva ou prevendo os piores cenários”.
Na avaliação da profissional, o convite para a mudança no amor passa também pelo amor-próprio, na autoaceitação e na independência. “Ninguém precisa ser sua melhor versão. Podemos ser quem somos hoje: caóticos, incoerentes, imperfeitos”, conclui.