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Irmãos compravam cocaína peruana e rastreavam por satélite

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Marcel Martins Silva está preso e Valter Ulisses segue foragido quase 40 dias após a Operação Prime

 

Apontados como chefes da organização criminosa investigada no âmbito da Operação Prime, os irmãos Marcel Martins Silva, 35, e Valter Ulisses Martins Silva, 27, compravam cocaína diretamente de fornecedores peruanos e rastreavam as cargas por satélite para impedir desvios.

As informações fazem parte do relatório das investigações conduzidas pela Polícia Federal e que embasou os pedidos de mandados de prisão e de busca e apreensão, cumpridos no dia 15 de maio deste ano.

Sócio de empresas em Dourados, a 251 km de Campo Grande, Marcel foi preso em condomínio de luxo da cidade. Valter Ulisses conseguiu escapar e possivelmente esteja escondido em território paraguaio.

Os dois também são ligados a Antonio Joaquim Mendes Gonçalves da Mota, conhecido como “Motinha” e “Dom”, importante traficante da linha internacional entre Ponta Porã e Pedro Juan Caballero e que está foragido após escapar de três operações da PF.

Ao vasculhar conversas por aplicativos armazenadas em nuvem, a Polícia Federal descobriu contatos diretos de Valter Ulisses com provável fornecedor peruano de cocaína, identificado como “Marcos Parce”. Nos diálogos em castelhano, Valter usava o codinome “Hollister”.

Em uma das conversas, Valter Ulisses pede a “Marcos Parce” o envio de um Token para pagamento (codificação de dados bancários), recebendo como resposta a imagem de uma nota de 10 soles (moeda peruana). “É dinâmica usada por criminosos para identificação exclusiva de pessoa para pagamento pessoal, normalmente em dinheiro vivo”, afirma a PF.

Na conta vinculada à nuvem “userparaguai@icloud.com”, de uso pessoal de Valter Ulisses, consta conversa com Marcos Parce para organizar empreitada que estava atrasada, que, na hipótese dos investigadores, seria transporte de cocaína com dificuldades para envio.

Em outro trecho da conversa, a PF descobriu diálogo sobre quantidade de cocaína negociada, valor pago pela pista de pouso para recebimento da carga e para exportação da cocaína.

Blade – A Polícia Federal também teve acesso a conversas entre Valter Ulisses Martins e Paulo Henrique de Faria, o “Blade”, de São José (SC). Segundo a PF, “Blade” é importante comprador de droga fornecida pela organização dos irmãos Martins. Paulo foi preso no dia da operação.

“O diálogo indica que o comprador menciona para Valter que estava providenciando a conversão da moeda em dólares antes de encaminhá-la, e cita que tratarão da “função do chá”. Segundo os investigadores, o termo se refere à maconha.

Valter Ulisses menciona a intenção de adquirir um caminhão para transportar droga e nele instalar compartimento difícil de ser localizado pela polícia e com capacidade para carregar até 300 quilos de drogas.

“Esse nunca vai cair amigo, dá pra fazer um por semana”, disse Valter. A afirmação foi feita após “Blade” comentar que ocorreram “operações pesadas da Federal”, que deixaram “o pessoal na encolha”.

No diálogo, os dois ainda tratam de pagamentos pretéritos, em que Valter volta a mencionar o envio de duas entregas de cocaína, “uma peruana e outra de exportação”. A PF também teve acesso à planilha com anotações totalizando R$ 6,7 milhões em pagamentos.

Joias, relógios, dinheiro e até faca artesanal apreendidos durante operação (Foto: Divulgação)

Europa – A Polícia Federal também rastreou negociações entre Valter Ulisses com um dos intermediários da organização, identificado como “Gamer”, sobre remessas de drogas para países europeus através de navios partindo dos portos de Rio Grande (RS) e Paranaguá (PR).

Segundo os investigadores, a cocaína era escondida em navio de transporte de grãos, em quantidades não superiores a 100 quilos. O possível destino da remessa era a Espanha.

“Gamer” menciona que estaria em Campo Grande prestes a se encontrar com o “mano” de Valter (Marcel Martins) e que teria contatos nos portos de Roterdã (Holanda), bem como nos portos de Barcelona, Valência e Málaga. “Na Espanha nós dominamos”, disse o intermediário a Valter Ulisses.

Rastreamento – A investigação também ressalta os diálogos entre Valter e o contato “Rastreio Satelital” sobre o sistema usado para monitoramento de caminhões que transportam cocaína. Segundo a PF, a organização instala equipamentos de rastreamento nos veículos para indicar a localização exata, tanto no Brasil quanto no Paraguai.

O contato “Rastreio Satelital” é apontado como o responsável em disponibilizar para Valter Ulisses Martins uma plataforma para acompanhamento dos veículos pelos rastreadores da organização.

Entre os integrantes que agiam como rastreadores, a Polícia Federal identificou Wagner Germany, Vagner Antonio Rodrigues de Moraes e Paulo Antonio da Silva Viana, o “Sarita”, também alvos de mandados de prisão no mês passado.

Sobreviveu à chacina – Apontado pela PF como o responsável pela aquisição de cocaína de fornecedores sul-americanos e pela logística de distribuição da droga, Valter Ulisses Martins Silva teve carreira meteórica no submundo do tráfico.

Instalado na linha internacional entre Pedro Juan Caballero e Ponta Porã, ele prosperou rápido no crime depois de sobreviver a uma chacina no lado paraguaio da fronteira.

No dia 24 de julho de 2017, pistoleiros abriram fogo contra clientes de uma casa noturna em Pedro Juan Caballero, mataram quatro pessoas e deixaram 11 feridos. Os alvos eram dois traficantes, mortos junto com as namoradas.

Valter foi um dos feridos pelos tiros, mas sem gravidade. A polícia paraguaia nunca esclareceu o crime e atribuiu o atentado à guerra travada por traficantes pelo controle da fronteira.

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