Psicóloga explica como o excesso de palpites na maternidade pode afetar a mulher e dá dicas para driblar a situação
O sonho de ser mãe pode ser fortemente abalado por palpites na maternidade. Afinal, bastam duas linhas no teste de gravidez para familiares e pessoas próximas tomarem aquela experiência também para si. Assim, as mulheres passam a ter que lidar diariamente com comentários e sugestões que, nem sempre, têm a ver com o seu modo de maternar.
Apesar de muitas dessas opiniões — às vezes, sem cabimento — virem disfarçadas de conselhos, é importante lembrar que a futura mãe se encontra em um momento delicado, com hormônios a mil, e esse falatório pode interferir negativamente nessa fase.
Segundo a psicóloga Ligia Dantas, não ter uma rede de apoio dificulta o processo da mãe estar com o bebê nesse primeiro momento. Por isso, as mulheres se cercam dessas pessoas dispostas a ajudar e que, na maioria das vezes, passam a dar palpites na maternidade.
“Principalmente no primeiro filho, quando ainda não confiamos, a tendência é ouvir alguém que supostamente sabe mais que a gente, como mães e sogras, por exemplo. Mas esse é um suposto saber, afinal, elas também não sabiam como fazer e encontraram um jeito”, considera a especialista e membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH).
Insegurança dá poder às opiniões
Desse modo, por ainda não estar tão certa sobre como cuidar do bebê, a mulher passa a buscar referências. Só que nem sempre esse modelo precisa vir da família, sabia? Nessa busca por ajuda, Lígia diz que grupos de apoio, especialistas em amamentação e o obstetra podem inspirar bastante confiança.
“Mas não deixe de levar em conta também o afeto, que muitas vezes está no palpite. Então, nem sempre ele é nocivo. Muitas vezes, é só uma demonstração de preocupação. O que eu percebo é que as mulheres dão poder a isso quando se sentem inseguras, se achando inferiorizadas diante dessas outras que já sabem mais”, contrapõe a psicóloga.
Portanto, apesar de essas opiniões poderem ser bastante incômodas, vale verificar a causa de tanto incômodo. Como a profissional ressaltou, é comum familiares — em especial, mães e sogras — demonstrarem afeto a partir desses conselhos, como uma forma de cuidar. O controle está na forma com a qual você recebe isso.
Buscando (suas) referências
“A questão está onde buscamos a referência e a quem daremos esse poder de nos direcionar. A maternidade é um conhecimento que vai sendo adquirido no caminhar. Afirmar e assumir que não sabe, que está começando essa jornada e buscar suas fontes é importante”, orienta Lígia, que adverte também sobre as informações não comprovadas da internet.
Ou seja, está tudo bem em não saber — e admitir isso tirará um bom peso das costas, viu? Com isso, é chegada a hora de aprender e é você quem decide onde buscar tal conhecimento. Assim, a psicóloga ressalta que, talvez, não tenha nenhum problema em ouvir a sogra, por exemplo. Aí, cabe a você decidir se vai seguir esse conselho ou não. Afinal, a mãe é você!
O lugar é da mãe — e de mais ninguém!
Com o bebê, nasce a mãe, que deve ocupar esse papel — e mais ninguém além dela. Entretanto, mesmo sendo protagonista da sua maternidade, ela pode ouvir conselhos, pedir ajuda, buscar respostas para o que não sabe. O limite disso está justamente na decisão em fazer ou não o que alguém recomendou — ou palpitou.
E esse “lugar de mãe” também precisa ser compreendido por quem está de fora, como os parentes mais próximos. “Quem está do outro lado e quer demonstrar afeto ao ver que essa mãe está com dificuldade, pode se mostrar disponível, dizer que está ali para ensinar como fez, caso ela queira. O principal é mostrar que essa gestante ou puérpera pode contar com você. E, claro, respeitá-la”, aconselha a especialista.
Por fim, ela reforça a importância do(a) companheiro(a) nesse processo. Além de acolher a mulher com suas inseguranças e dificuldades, ele(a) pode ser uma figura bastante útil para ajudá-la a lidar com os palpites e até a sair de situações constrangedoras causadas por eles.
Fonte: Ligia Dantas, psicóloga, especialista em reprodução humana e membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH).