Harvard desenvolveu o maior estudo já feito sobre a felicidade humana, e a Universidade de Melbourne destaca influência da natureza
Em meio a agendas lotadas e responsabilidades diárias, a felicidade, por muitas vezes, fica em segundo plano.
Há quem acredite que para ser feliz, basta ter dinheiro, mas segundo o maior estudo já realizado sobre o assunto, produzido pela Universidade Harvard, o que nos torna felizes e saudáveis são os relacionamentos.
O que diz o estudo de Harvard
O Estudo de Desenvolvimento Adulto da Universidade de Harvard, também conhecido como o Estudo de Grant, é uma das pesquisas longitudinais mais longas e abrangentes já realizadas sobre o desenvolvimento humano.
Iniciado em 1938, o projeto acompanhou a vida de 724 homens durante cerca de 75 anos, com o objetivo de compreender os fatores que contribuem para uma vida longa e saudável, bem como os padrões de desenvolvimento ao longo da vida adulta.
Os participantes foram recrutados da própria Universidade de Harvard e dos bairros mais pobres de Boston, incluindo homens de diferentes origens socioeconômicas. Ao longo das décadas, os pesquisadores coletaram uma variedade de dados, como exames médicos, questionários de saúde mental, entrevistas e informações sobre suas vidas pessoais e profissionais.
As descobertas do Estudo de Grant têm sido fascinantes e têm proporcionado insights importantes sobre vários aspectos do desenvolvimento humano. Por exemplo, ele destaca a importância das relações interpessoais e emocionais para a saúde e o bem-estar ao longo da vida, mostrando que ter relacionamentos satisfatórios e de apoio pode ser um fator crucial para uma vida longa e feliz.
Além disso, o estudo também destaca a importância de fatores como estabilidade emocional, adaptabilidade, propósito no trabalho e resiliência para o bem-estar ao longo da vida.
A felicidade nos relacionamentos
Segundo a especialista em psicanálise clínica e desenvolvimento humano, Gisele Hedler, existem algumas lições que podem ser tiradas do maior estudo já realizado sobre felicidade humana.
Baseado na pesquisa, Gisele pontua as lições que podemos tirar do Estudo de Desenvolvimento Adulto para alcançar a felicidade e uma vida longa e saudável. Segundo Hedler, as relações tóxicas drenam nossa energia emocional e impactam negativamente a saúde mental.
Por isso, para a especialista, é preciso saber filtrar os relacionamentos, mas também se atentar para não se isolar.
“O estudo mostra que os relacionamentos saudáveis são um dos maiores preditores de felicidade e saúde a longo prazo. Por outro lado, o isolamento provoca solidão, representando um fator de risco para a saúde, principalmente a mental”, afirma Gisele.
E por falar em saúde mental, ignorá-la também compromete a felicidade. É preciso abandonar o ressentimento, pois guardar mágoas pode levar a problemas de saúde mental e física. “Segundo o estudo, a capacidade de perdoar e soltar ressentimentos está associada a melhor saúde e maior felicidade”, diz a especialista.
O desenvolvimento pessoal e a felicidade
Dinheiro atrai felicidade? De acordo com a ciência, a resposta é não. Nesse sentido, o educador corporativo Rodrigo Lang reitera que não devemos trabalhar apenas visando juntar dinheiro e ser rico.
“Muito pelo contrário, a alegria diz respeito às experiências e relações interpessoais. Elas são as responsáveis por enriquecerem a vida, promovendo satisfação verdadeira e duradoura”, diz.
Ainda de acordo com o estudo de Harvard, a resiliência é a chave para enfrentar os desafios da vida, contribuindo para a felicidade e saúde a longo prazo. Já as preocupações em excesso, seja com o passado ou com o futuro, podem aumentar os nossos níveis de ansiedade e insatisfação. Viver o presente, portanto, melhora a qualidade de vida.
Gisele aponta ainda que podemos tirar como lição da grande pesquisa a importância da generosidade. “A falta de atos altruístas diminui a sensação de satisfação pessoal. O estudo evidencia que ser generoso aumenta a felicidade tanto de quem recebe quanto de quem pratica o ato, reforçando laços sociais e bem-estar emocional”, afirma.
Mudanças climáticas também impactam na felicidade, diz Universidade de Melbourne
Outro aspecto não abordado pelo estudo de Harvard, mas que vale a pena discutir, é o impacto das mudanças climáticas em nosso bem-estar. Vale lembrar que, nos últimos anos, temos testemunhado o aumento preocupante das mudanças climáticas e suas consequências devastadoras.
Esse despertar para a crise ambiental deve nos fazer reavaliar nossos hábitos e nossa relação com o planeta. Isto é, trazendo consciência que fazemos parte deste grande ecossistema e que tudo o que acontece nas florestas, nas calotas polares e nas temperaturas, impacta a qualidade de vida, as relações sociais, o bem-estar, as emoções e a saúde mental de crianças, jovens, adultos e idosos.
“As mudanças climáticas afetam nossa saúde física, mental e social. É impossível ignorar o que está acontecendo no planeta e seus impactos em cascata nas relações humanas e na saúde mental de todos nós, em especial das novas gerações”, afirma o especialista em felicidade e bem-estar Rodrigo de Aquino.
Um estudo realizado pela Universidade de Melbourne com mais de 1200 alunos, mostra que as palavras pessimismo e incerteza são chaves para a década. A pesquisa apontou que 1 em cada 7 entrevistados sentia-se pessimista quanto ao seu próprio futuro, 29% estava pessimista quanto ao futuro do seu país, enquanto 53% estava pessimista quanto ao futuro do mundo.
Para Aquino, este é um sinal de alerta, uma vez que há um impacto claro das mudanças climáticas na saúde física, mental e social. O especialista destaca prejuízos como menor disposição para atividades, desenvolvimento de distúrbios como ansiedade, depressão, e estresse. Além disso, há uma maior exposição a doenças transmitidas pela água, pelo ar, alergias ou por alimentos intoxicados.
Chave para a felicidade pode estar na natureza
O contato com a natureza, por outro lado, nutre nossa alma com sentimento de pertencimento e de significado. Isso porque ela tem impacto em nosso bem-estar físico através do ar, da água pura, da produção de alimentos naturais e do estímulo a atividades físicas, destaca o especialista.
Sendo assim, entendemos que, quanto mais nos distanciamos da natureza, quanto mais mecanizados e robóticos nos permitimos ficar, mais adoecemos.
“As catástrofes, as enchentes, as ondas de calor vão minando nossas esperanças de forma silenciosa e, quando nos damos conta, estamos tomados por uma ansiedade que nos queima, nos afoga e nos tira o chão. Ainda podemos fazer muito por nós e pelo planeta. A Terra vive sem nós, mas nós não vivemos sem ela. Vamos nos mobilizar e fazer o que tem que ser feito?”, finaliza Rodrigo.