Vítimas foram assassinadas a facadas, tiros, pedrada e espancamento
A dois dias do fim do mês que se comemora o Dia Internacional da Mulher, Mato Grosso do Sul já registra dez feminicídios, crime de ódio contra as mulheres. O número é 66% maior do que no mesmo período do ano passado. Em 2023, entre janeiro e março, o total foi de seis mortes.
Conforme as estatísticas da Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública), em 2024, foram três crimes em janeiro, quatro em fevereiro e três em março. No ano passado, os dados são de duas mortes em janeiro, duas em fevereiro e duas em março.
Nesta jornada de violência e dor, se entrelaçam as histórias de Renata, Dayane, Gilvanda, Marta, Gisely, Gisieli, Joelma, Mayara, Maria e Luciene.
Na noite de 22 de março, em Campo Grande, as vítimas foram Renata Andrade de Campos Widal, de 39 anos, e Dayane Xavier da Silva, de 29 anos. Renata foi morta pela irmão João Bosco Campos Widal, de 36 anos, no Jardim Centenário. A vítima levou pedradas, além de ser quase degolada com serrote.
Dayane foi esfaqueada pelo marido Thiago Echeverria Ribeiro, de 28 anos. O crime aconteceu no Bairro Nova Campo Grande. Os dois homens estão presos.
Gilvanda de Paula e Silva, de 42 anos, foi perseguida e assassinada pelo ex-companheiro dentro de um carro, na manhã de 21 de março, quando chegava a um velório. O crime aconteceu em Três Lagoas. Após ser preso, Pedro Henrique Amaral, de 26 anos, disse que havia ingerido bebidas alcoólicas, quando decidiu seguir a vítima e a matou a tiros.
Em 21 de janeiro, Marta Leila Silva Neto, de 37 anos, foi assassinada a facadas no distrito de Silviolândia, em Coxim. O marido Sipriano Nascimento de Oliveira, de 52 anos, foi preso.
Gisely Duarte Galeano, de 35 anos, morreu no dia 28 de fevereiro, em Dourados, depois de sofrer aborto e passar dez dias internada após ser espancada pelo marido. O crime aconteceu em Bela Vista, na fronteira com o Paraguai. As agressões foram tantas que Gisely sofreu derrame cerebral encefálico. O marido Fernando Chucarro Dias, de 35 anos, está preso desde 3 de março.
No dia 24 de fevereiro, Gisieli de Souza, de 28 anos, morreu após ser esfaqueada pelo próprio irmão. Giovani de Souza, de 25 anos, acabou preso em flagrante. O crime aconteceu em Dourados.
Dias antes, em 21 de fevereiro, a vítima de feminicídio foi a diarista Joelma da Silva André, de 33 anos. Foram nove facadas, sendo três no rosto, cinco nas costas e uma no tórax, onde a faca ficou cravada. O crime aconteceu no Bairro Indubrasil, em Campo Grande. O ex-marido Leonardo da Silva Lima, de 37 anos, foi preso pelo feminicídio. Os filhos viram a mãe ser assassinada.
Mayara Almodin Aran Florenciano, de 29 anos, foi morta na madrugada de 11 de fevereiro, em Nioaque. O ex-namorado Diego de Souza Mendonça, de 26 anos, foi preso pelo feminicídio.
Maria Rodrigues da Silva, de 66 anos, foi morta pelo ex-marido no dia 12 de janeiro, em São Gabriel do Oeste. O homem golpeou a mulher com faca na região torácica. O corpo ficou caído numa esquina.
No dia 3 de janeiro, em Sidrolândia, Luciene Braga Morale, 50 anos, foi morta no primeiro caso de feminicídio registrado em 2024 . Ela chegou ao hospital da cidade morta e com sinais de espancamento. O marido Airton Barbosa Louriano, 45 anos, foi preso.
A violência nossa de cada dia – Se neste ano, de janeiro a março, foram 10 feminicídios em MS. Durante todo o ano de 2023, 30 mulheres foram assassinadas no Estado.
O duro retrato que aponta para o machismo estrutural. Onde as dinâmicas da violência acontecem de forma generalizada e não apenas em localidades específicas.
“Os resultados sugerem que existem elementos culturais em nosso Estado associados ao feminicídio e à violência doméstica contra a mulher, ou seja, esse tipo de violência não acontece em casos isolados ou localizados, mas apresenta-se como expressões de uma estrutura cultural (e mental) mais ampla, decantada entre as pessoas e em suas práticas cotidianas. Presumivelmente, a violência contra a mulher faz parte de uma estrutura cultural que existe em Mato Grosso do Sul”, afirma Asher Brum, professor doutor do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), em dossiê sobre feminicídio divulgado pela Justiça em 2022.