Há algumas semanas, eu li a reflexão da Giu sobre o porquê ela odeia o corpo dela e essa leitura me abriu para várias reflexões constantes na minha vida. Então, achei válido compartilhar aqui e continuar construindo o assunto e a reflexão coletiva.
Um dos pensamentos mais recorrentes para mim é o fato de que a gente não nasce odiando o corpo, porém, infelizmente, somos ensinadas e levadas a esse movimento todos os dias, e precisamos nos atentar porque crescer esse sentimento tóxico dentro de nós parece muito natural na sociedade em que vivemos.
Mas antes, quero te contextualizar brevemente sobre a minha história: eu era magra e engordei quando passei por uma quimioterapia. Além do câncer e de todo o tratamento, essa mudança física também mexeu muito comigo. Ouvi muitos comentários sem noção. Pessoas que mal falavam sobre a minha cura, mas não perdiam a chance de comentar como eu havia engordado ou que eu “tinha” que emagrecer. Perdi todas as minhas roupas e entrei em uma verdadeira batalha com o meu corpo!
Parece inofensivo, vem como uma simples dica para te ajudar, mas será mesmo que ajuda?
Também passei a viver a experiência de ir ao shopping e não encontrar roupas que me servissem. De repente, se eu precisasse de um look de última hora para determinada situação, não teria onde recorrer. Passei a ter apenas algumas lojas para procurar peças do meu tamanho e o pior, na maioria das vezes, só encontrar peças extremamente desatualizadas.
porque esse corpo, perfeito ou imperfeito, mas do jeito que ele é, faz muito por mim!
Me dei conta de que ser gorda é ser bombardeada de avisos diretos e indiretos dizendo que o meu corpo não é bem-vindo, que ele não é visto, que todo mundo merece se vestir bem desde que não seja uma pessoa gorda. É aí que fica muito difícil não chegar a conclusão (errada) que esse corpo é um problema. Fica ainda mais complicado não querer travar uma batalha contra ele, mesmo que essa luta signifique também uma batalha contra você.
Com o passar do tempo, comecei a questionar muita coisa.
Diziam que eu não podia usar shorts curtos porque minhas celulites ficariam aparentes e eu logo pensava: “Tá, mas qual o problema das celulites?” Também faziam questão de comentar como determinada peça me fazia parecer “maior” como se fosse algo ruim, mas e daí? Eu não ligo. Se ela tem tudo a ver com o meu estilo, se eu quero tanto usar e vou ficar feliz vestindo, será mesmo um problema tão grande que eu pareça “maior” com ela?
Fiquei pensativa: a moda passou a se resumir a parecer mais magra? É só sobre isso?
Eu poderia passar o dia todo trazendo exemplos de coisas que parecem naturais e inofensivas, mas que dão a impressão de que o nosso corpo não é suficiente, às vezes nem para usar determinada peça.
Mesmo com todas essas pequenas agressões diárias, eu queria dizer – porque também jamais posso esquecer – que esse corpo aqui lutou muito por mim. Ele me ajudou a vencer um câncer, ele me leva onde eu quero ir, me permite fazer o que amo, me traz até aqui para me comunicar com vocês. Ele é a minha casa e parar pra pensar nisso me impacta muito.
Porque esse corpo, perfeito ou imperfeito, mas do jeito que ele é, faz muito por mim!
E aí eu penso que, por conta disso tudo, talvez nem sempre a gente vá amar cada pedacinho do nosso corpo, talvez a gente queira até mudar algumas partes dele e está tudo bem, mas respeitá-lo por fazer tanto por nós é essencial.
Se olhar no espelho com um olhar mais amoroso e menos crítico, parar de comparar o nosso corpo com o de outra pessoa, que vive outra história, e ter cuidado com a forma como falamos de nós mesmas pode parecer bobo, mas não é. É respeito e cuidado que nós merecemos. Eu aprendi isso e quero que você aprenda também.
Para terminar, acho legal dizer que não é fácil, que tudo isso dá trabalho, mas odiar o seu corpo também dá trabalho. Então, se for para se esforçar, que seja para algo positivo, né? Para se amar mais.