Ato ocorreu em frente à Casa da Mulher Brasileira
Com plantio de girassóis e declamação de poemas, o Coletivo Geni promoveu ato, em Campo Grande, em alusão aos seis anos do assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, no Rio de Janeiro. O movimento também pediu o fim da violência contra mulheres negras.
Conforme a divulgação, no evento houve a declamação do poema ‘’Recriando Negras Maneiras de Existir’’, da psicóloga e escritora Maria Carolina.
O ato ocorreu em frente à Casa da Mulher Brasileira, no Bairro Santo Antônio. O início se deu com uma conversa entre as jovens in memorian a Marielle Franco e sua atuação pelos Direitos Humanos.
Ao final do ato, as mulheres que compõem o coletivo GENI (Grupo de Estudos Sobre Negras Intelectuais) plantaram 6 girassóis em frente a Casa da Mulher Brasileira com a música Única Defesa da Cantora Karla Coronel.
O grupo fez questão de divulgar trecho da canção:
”A minha faísca começou, incendiou, quando vi a hashtag do momento. Nem toda essa violência vai acabar com minha descendência, se eles falam deixar quieto irmão, vão ouvir o grito do meu coração, não vamos deixar quieto não, segura bem forte a minha mão , ninguém vai mais me usar , ninguém vai me apagar! Minha mãe é preta , meu pai estrangeiro, nesse meu cabide cabe o mundo inteiro, eu não vou morrer pra existir, vou amar e resistir, essa beleza, o amor é a única defesa”. Honrar a memória de Marielle é continuar lutando!”.
Marielle
Desde 2019, quando se completou um ano do assassinato de Marielle e Anderson, ao longo do mês de março, o Instituto que leva o nome da Vereadora incentiva a realização de atos por sua memória e para ecoar as perguntas: Quem mandou matá-la e por quê?
O logo do Instituto Marielle Franco é composto por pétalas e sementes do girassol formando um círculo. A flor tornou-se, a princípio, a marca de sua campanha à Câmara Municipal do Rio de Janeiro, porque fora o primeiro carinho a ela oferecido ao declarar-se candidata. No dia de seu velório, populares enfeitavam de girassóis os caminhos por onde seu corpo passava, durante os serviços funerais, e nos momentos seguintes, o girassol transformou-se em símbolo de seu esplendor e da procura determinada pela vida empreendida pelas mulheres negras, que semeiam o legado de Franco.
Ainda segundo a divulgação, o Coletivo Geni, por sua vez, é um grupo de estudos da produção intelectual de autoras negras. Ladielly de Souza, Ana Raile, Amanda Silva e Letícia Maris fundaram-no em 2020, quando faziam a graduação em Psicologia na UCDB. Atualmente, o grupo reúne-se às segundas-feiras, 18h30, no bloco 13 da UFMS. Tem coordenação da professora pós-doutora Thaize Reais, Ladielly de Souza, Brunna Salles e Carol D’Santana. A participação é aberta a qualquer pessoa que se interessar pelas leituras e discussões pertinentes.
Para Ladielly, 27 anos, Co-fundadora do Coletivo Geni “O ato é uma maneira singela e simbólica de homenagear a Vereadora Marielle Franco, dizer da importância de sua luta por justiça, sua história nos inspira a continuar em defesa de um mundo sem violência, em que nossa voz seja ouvida, e nossas pautas respeitadas.”
Já Maria Carolina Ferreira dos Santos, 25, declamou um poema autoral em homagem ao dia da mulher. “Essa poesia foi mais como um grito, uma forma de dizer que a gente existe e resiste dentro das nossas diferenças, apesar da nossa presença ser muito atravessada pela dor, a gente não se resume a isso”.
Participaram do ato simbólico as integrantes do Coletivo Geni, Ladielly de Souza, Carol D’Santana, Maria Antônia, Rita de Cássia, Maria Carolina, Pietra Garcia e Karla Coronel.
Assassinato brutal
No dia 14 de março de 2018, Marielle Franco, 38, vereadora eleita pelo PSOL/RJ, e Anderson Gomes, 39, seu motorista, foram executados a tiros de submetralhadora, em uma emboscada, na rua Joaquim Palhares, bairro do Estácio, região central do Rio de Janeiro, por volta das 21h30. Somente em 2023 o crime começou a ser elucidado, apontando-se executores e possíveis mandantes, também se confirmando a hipótese da motivação política.
Poema
Nosso choro não comove,
A vulnerabilidade não parece combinar com nossa pele negra.
Em nosso corpo-território,
espaço para vivências e violências:
a dor dilacerante de ser protagonista nas estatísticas de violências,
a carga mental de precisar ser forte,
o peso de não poder errar,
e o eterno transitar entre o “por que eu?” e “por que não eu?”
Nossa existência é sinônimo de luta,
em uma guerra constante em que somos inseridas a força,
e alimenta a súplica de poder se despir da armadura.
Entre os estereótipos de “ a negra raivosa” e a “negra submissa”
seguimos recriando negras maneiras de existir.
Em meio às dores e delícias de ser quem se é,
jamais abdicar potência da nossa existência,
nossas bocas grandes ficam ainda maiores quando nossa voz ecoa.
MARIELLE, PRESENTE!