Dermatologista Paula Rahal lista os malefícios que alguns produtos podem causar à pele jovem e qual é o momento certo de começar o skincare
Uma legião de pré-adolescentes tem “invadido” lojas de cosméticos, para testar produtos de beleza.
Algumas marcas conhecidas mundialmente estão fazendo o maior sucesso entre a garotada de aproximadamente 12 anos. Basta dar uma olhada no TikTok, onde conteúdos envolvendo o tema se propagaram desenfreadamente. Mas quais são as consequências desses hábitos para a pele do jovem?
A coluna recorreu à dermatologista Paula Rahal para saber se crianças e pré-adolescentes podem seguir a mesma rotina de skincare que adultos. Aqui está o que a especialista tem a dizer:
A primeira coisa a se pensar é a diferença entre as peles jovens e as maduras. De acordo com a profissional, a derme das crianças é mais fina, tem menos pigmentação e é mais sensível à radiação. Já os pré-adolescentes começam a ter mudanças hormonais da puberdade com o aumento da produção de sebo e o surgimento de acne. Isso, muitas vezes, torna a pele mais seca ao se chegar na fase da pele madura, embora, segundo a médica, algumas pessoas possam experimentar um aumento da oleosidade devido a mudanças hormonais na fase adulta.
Paula acrescenta que a cútis jovem é mais elástica e firme devido à maior quantidade de colágeno e elastina, que começa a se degradar apenas a partir dos 25 anos. “Isso também favorece uma maior capacidade de recuperação dos danos na região, devido à renovação celular mais rápida. Por isso, a pele jovem possui uma textura mais suave e uniforme, enquanto a pele madura desenvolve linhas finas, rugas, manchas e perda de viço, devido à degradação do colágeno e exposição aos raios UV”, diz ela.
Crianças e pré-adolescentes podem usar produtos de skincare?
Para a médica, sim, desde que observem as indicações para sua faixa etária. “E apenas três produtos são necessários”, frisa a especialista.
A limpeza com sabonete líquido para o público infantil ou fórmulas para peles sensíveis e delicadas é suficiente para remover sujeira e impurezas da região. “Nessa idade, não devem usar qualquer produto de limpeza que contenha álcool ou seja adstringente, pois pode sensibilizar e causar alergias e irritações”, alerta.
Um hidratante leve que seja hipoalergênico, geralmente encontrado em cosméticos para pele atópica ou sensível, é ideal para manter a hidratação cutânea nessa fase. “E, é claro, a fotoproteção é essencial! Deve ser aplicada todos os dias e reaplicada a cada duas horas, com FPS mínimo de 30 e indicado para peles sensíveis“, continua.
Cuidado!
De acordo com Paula Rahal, existem componentes presentes em produtos de skincare para adultos que são contraindicados para peles mais jovens, como as de crianças e pré-adolescentes. Itens que contenham fórmulas antiacne ou antienvelhecimento, muito comuns em cosméticos para peles maduras, por exemplo, podem causar irritação, queimação e danos à cútis.
“Como crianças e pré-adolescentes ainda estão em fase de crescimento, o uso inadequado desses produtos pode interferir no desenvolvimento das glândulas sebáceas e sudoríparas, além de afetar o extrato córneo, responsável pela proteção da pele” – Paula Rahal, dermatologista
Além disso, fórmulas que contenham agentes oclusivos, que são ingredientes que criam uma barreira na pele para impedir a perda de água, podem ocasionar acne. “Ácidos como glicólico, salicílico e retinol são alguns ativos que possuem concentrações elevadas e são muito agressivos para peles mais delicadas e sensíveis, como as dessa faixa etária”, destaca.
Esfoliantes e escovas de limpeza facial também podem ser agressivos para a pele nessa fase, conforme lembra a profissional. Portanto, a recomendação é apenas para limpeza suave, hidratação leve e fotoproteção. “E, é claro, sempre verificar os rótulos para garantir que o produto seja adequado para pele jovem e consultar um dermatologista quando necessário”, observa.
Como prosseguir?
Aos pais que não sabem como agir diante dessa “febre” de crianças e pré-adolescentes empolgados com o uso de maquiagens e cosméticos, a médica dá um conselho: “Hoje em dia, as crianças têm acesso à internet e a qualquer tipo de conteúdo na palma da mão. Portanto, é importante que os pais sempre supervisionem os conteúdos que os filhos estão consumindo e também conversem sempre que possível”.
Paula reitera que cuidar da pele é importante, mas também é essencial que esses jovens tenham consciência sobre o que podem e não podem fazer, além de entenderem como certos hábitos podem prejudicar a derme. “Tudo isso pode ser resolvido por meio do diálogo entre pais e filhos, principalmente no que diz respeito à autoconfiança e autoestima, mostrando que a verdadeira beleza está em ser quem você é”, fala.
A especialista ainda sugere que, se já houver interesse por parte delas em cuidar da pele, é fundamental acompanhá-las para escolher os produtos certos e adequados, além de consultar um dermatologista.
A partir de que idade um jovem deve começar a consultar com um dermatologista?
Segundo a profissional, não há uma idade específica e isso varia de acordo com a necessidade individual. “Durante a puberdade, muitos sofrem com as alterações hormonais e o surgimento de acne grave. No entanto, algumas mudanças na pele que são preocupantes, como manchas escuras, lesões que não cicatrizam, erupções cutâneas, eczema, psoríase e verrugas persistentes, são alguns dos casos que requerem consulta e acompanhamento dermatológico”, define.
Quanto aos procedimentos, Paula afirma que, no caso de obstrução de poros e espinhas, pode-se fazer uma limpeza simples por um profissional, dependendo do grau. “Já outros tipos de tratamentos, como os injetáveis, os baseados em tecnologia e os peelings, raramente são necessários antes dos 25 anos. É claro que isso varia de acordo com o caso e o indivíduo, portanto, é fundamental a consulta com um dermatologista para avaliar caso a caso”, frisa.