Ação faz parte de um ‘rodízio’ de presos das unidades federais no país
Na quinta-feira (11), foi realizada uma operação de transferência de 11 presos do Sistema Penitenciário Federal. Entre eles, está Fernandinho Beira-Mar, que é considerado liderança do Comando Vermelho no país e estava detido no Presídio Federal de Campo Grande desde 2019.
Essa foi a segunda passagem de Fernandinho Beira-Mar por Campo Grande. Ele esteve preso na unidade federal também entre 2007 e 2010. Até o momento, não há informação para qual presídio ele foi transferido.
Ainda entre os nomes dos presos transferidos está o de Marcinho VP, que também é apontado como liderança da facção Comando Vermelho. A princípio, há informação de que ele seria transferido para Campo Grande.
O advogado de defesa de Beira-Mar, Luiz Gustavo Battaglin Maciel, esclareceu que ainda não há informação para onde o detento foi transferido. “Tal procedimento ocorre a critério do Ministério da Justiça e em sigilo absoluto. Familiares e advogados ficam sabendo somente dias depois via de regra”, informou.
A operação foi denominada Próta e contou com a ação de quase 100 policiais penais federais, acontecendo em ao menos três presídios. Os transferidos são integrantes da organização criminosa carioca.
Conforme a Senappen (Secretaria Nacional de Políticas Penais), o rodízio de presos é uma medida adotada pela Polícia Penal Federal, como rotina de segurança das unidades prisionais.
Também de acordo com o órgão, os presos são considerados de alta periculosidade, lideranças das organizações criminosas. Essa foi a primeira operação do tipo realizada em 2024.
Em 2023, foram 364 operações entre inclusões, devoluções, transferências e apresentação de presos em júri. O nome da Operação Próta faz referência ao primeiro preso custodiado no Sistema Penitenciário Federal, Luis Fernando da Costa. Em grego o termo significa “primeiro”.
Conversa interceptada em 2016
O Depen (Departamento Penitenciário Nacional) interceptou, em 2016, uma conversa entre Fernandinho Beira-Mar e Marcinho VP. Áudios foram captados após a execução de Jorge Rafaat, em junho daquele ano, em Pedro Juan Caballero.
Na conversa entre os dois, fala-se que a execução de Rafaat estava sendo atribuída ao PCC (Primeiro Comando da Capital), mas, na verdade, Gerson Palermo estaria à frente do crime.
Em uma das conversas, Fernandinho Beira-Mar diz: “O Samura [Jorge Teófilo Samúdio Gonzalez, líder do Comando Vermelho preso desde março de 2021] falou para mim como é que foi. Falou que o bagulho foi cinematográfico. Tomaram essa atitude [Palermo e comparsas] mas quem levou a fama foi o pessoal do 15 [em alusão ao PCC]”.
Marcinho VP responde que quando conheceu Rafaat ele vendia pneus e que não era bandido. “O Rafaat, quando eu cheguei lá [no Paraguai], nem era bandido. Ele trabalhava com negócio de pneu. Mas ele sempre teve sede de poder. E, depois que puxou uma cadeia lá, ele saiu querendo dominar. Ele entrava no caminho dos outros, querendo cobrar pedágio. Eu não tinha inimizade com ele, não. Mas a postura dele era postura de alemão [inimigo].”
Ainda de acordo com as conversas interceptadas, Beira-Mar diz que não tem nada contra Palermo, já que é respeitado por ele. “Cara, é o seguinte. Eu não tenho nada contra ele. Ele me respeita e tal, quando eu estava lá. Mas é o seguinte: ele é comerciante, ele trabalha com quem compra dele. Seja 15 [em referência ao PCC], seja lá quem for. Ele trabalha, mas a informação que eu tive é que ele estava junto com o Siciliano e mais um S [Sérgio Lima dos Santos, condenado a 35 anos de prisão pelo assassinato do Rafaat]. Eles estavam junto na caminhada e se uniram lá, entendeu?”.
Beira-Mar ainda fala que a fronteira está tomada. “Lá [na fronteira entre Brasil e Paraguai], agora, tá o seguinte (…). Tem muita gente lá. Brasileiro lá tá igual mato. Tá, tipo assim, tem muito amigo nosso que tá (…). [O Siciliano está] morando lá muito mesmo e, fora nós [Comando Vermelho], deles tem muito lá. Mas é muito grande. Então, dá pra todo mundo viver lá. Cada um na sua lá, tá ligado?”
A conversa encerra quando Beira-Mar fala que o PCC levou a fama pela execução de Rafaat. “O que chegou pra gente é que ele se uniu com o S [Sérgio Lima dos Santos] e o Siciliano tomaram essa atitude. Mas quem levou a fama foi o pessoal do 15 [PCC], entendeu? Quem ganhou a fama de ter feito foi o pessoal do 15.”