Falta de vontade para responder mensagens e interagir pela internet pode causar problemas quando não conversado
Você acorda, lê as notícias, o horóscopo, as sugestões das redes sociais, os trending topics. Abre a caixa de mensagem do WhatsApp, Instagram e até e-mail, mas não consegue responder. Seja a amiga que não vê há anos, o professor do seu filho ou a sogra, todos esperam sua mensagem de texto. Não é como se você não tivesse habilidades tecnológicas, mas, por alguma razão, é uma dificuldade que persiste em sua vida e atrapalha seus relacionamentos.
Estamos vivenciando a Era Digital e, portanto, acabamos por incorporar nossas necessidades do dia a dia às tecnologias para “facilitar” nossas tarefas e demandas.
A moeda de troca, porém, são as nossas emoções. Ansiedade, estresse, depressão e distúrbio do sono são exemplos de consequências do problema.
A troca de menos interações pessoais para ficar mais tempo na internet, ou mesmo o cansaço frente ao uso demasiado, leva ao isolamento. “A sensação de aversão ou esgotamento pela utilização constante desses dispositivos pode causar um afastamento das relações“, explica Edwiges Parra, psicóloga, especialista em dependências tecnológicas e professora convidada da FGV.
“O constante fluxo de informações, notícias e conteúdo nas telas pode ser esmagador”, afirma a profissional. Algumas pessoas podem se sentir sobrecarregadas mentalmente, levando-as a desejar uma desconexão temporária.
O sentimento de aversão leva parte dos usuários a buscarem um equilíbrio saudável com as redes, , estabelecendo limites no uso de dispositivos eletrônicos e encontrando maneiras alternativas de passar o tempo, como atividades ao ar livre, hobbies off-line ou interações sociais pessoais.
Há quem permaneça conectado, mas sem interagir com as pessoas. “Se o indivíduo, que antes tinha uma participação ativa nas redes sociais, deixa esse hábito, há algo acontecendo que precisa ser entendido”, pontua a psicóloga.
Pode significar que você não está bem mentalmente e precisa de ajuda, mas também é possível ser um sinal de que sua relação com a tecnologia precisa mudar.
A ideia de obrigação para manter as redes ativas, sem vontade e interesse para tal, impacta diretamente na saúde mental do indivíduo, levando ao sentimento de culpa e preocupação.
Quando um dependente das redes encontra um esgotado delas
A dependência das redes sociais gera transtornos tanto para quem sofre delas, quanto para quem está ao redor dessas pessoas, especialmente quando o outro está esgotado.
“Ela pode dificultar a compreensão dos limites e necessidades do outro, criando barreiras na relação”, diz a especialista. A falta de contato nas mídias pode gerar desconfiança ou insegurança na relação, por exemplo.
“É possível que a pessoa dependente questione o motivo pelo qual o outro não está interagindo, afetando a confiança mútua e a qualidade do relacionamento.” A ajuda profissional, aqui, faz total diferença.
Quando se manter nas redes sociais é uma obrigação
“Quem trabalha com as redes lida com a parte psicológica e emocional das pessoas, um culto ao marketing de ansiedade, uma era mais hedonista e cheia de vaidades. Tudo isso estressa num grau elevado”, esclarece Edwiges.
É nesse contexto que a saúde mental e o bem-estar pessoal são afetados, e as consequências vão desde burnout, queda de criatividade e produtividade, diminuição da qualidade das interações, até o aumento de ansiedade.
Quem possui emprego ligado às redes sociais precisa estabelecer estratégias para mitigar esses níveis de estresse. “Criar uma rotina de autocuidado com disciplina e organização, ter uma agenda de trabalho definida e com pequenas pausas para descansar os olhos, ouvidos, corpo e a mente são importantes. O acompanhamento psicológico também faz diferença.
As relações precisam das redes sociais para se manterem?
“Sentir interesse genuíno para desenvolver seus relacionamentos é a verdadeira necessidade”, afirma a psicologa. Ou seja, quem tem dificuldade em se manter no meio digital não precisa ficar nele.
O importante é conversar com as pessoas com quem se relaciona para que elas saibam que você não estará presente sempre nas redes sociais e que isso não é algo pessoal contra ela.
“As relações pessoais não dependem exclusivamente das redes sociais para se manterem saudáveis e significativas. Embora elas possam facilitar a comunicação e a conexão, as relações genuínas vão além do ambiente digital e podem prosperar através de interações pessoais e off-line.”
Estabelecer conversas por telefone, cartas e outras formas de comunicação desempenha um papel importante na construção e manutenção das relações, sendo uma possível saída, de acordo com ela. Assim você mantém os laços com pessoas importantes sem precisar da internet.
“Há um estímulo de atrofia psicológica, cognitiva e emocional, o qual as pessoas não percebem. As tecnologias são e devem ser encaradas como ferramentas e não como motivo de vida”, termina a professora.