Investigação concluiu que médico veterinário emprestou mais de meio milhão para apenas um cliente
O médico veterinário alvo da Operação Traquetos, que teve segunda fase deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) em agosto deste ano foi apontado também como agiota. Segundo as investigações, o veterinário emprestou R$ 600 mil para apenas um dos clientes.
O patrimônio do veterinário está avaliado em mais de R$ 5,2 milhões. A casa onde o médico mora, no residencial Damha, está avaliada em R$ 2,2 milhões. Ele também possui 50% de outro imóvel no mesmo residencial avaliado em R$ 920 mil, mais um terreno no bairro Vila Almeida avaliado em R$ 128 mil.
O veterinário ainda tem propriedade de mais de 50% de um lote no residencial Damha, avaliado em R$ 646 mil, outro terreno no Jardim Noroeste avaliado em R$ 5 mil e outro em R$ 23 mil e 100. Ainda é proprietário de 50% de um lote no valor de R$ 179 mil e outro na mesma região avaliado em R$ 224 mil, além de um terreno no bairro Tiradentes de R$ 35 mil e 48% da área de uma fazenda no valor de R$ 340 mil.
Além dos vários imóveis, o veterinário também tem aplicações em diversas contas bancárias, no valor total de R$ 437 mil.
Segundo a denúncia do Gaeco, o médico veterinário, além de financiar o tráfico, também agia como agiota emprestando para apenas um cliente o montante de R$ 600 mil. “O mesmo se diga dos inúmeros cheques apreendidos, no montante de R$ 1.676.722,36 (um milhão, seiscentos e setenta e seis mil e setecentos e vinte e dois reais e trinta e seis centavos), cuja razão da posse até o momento não ficou esclarecida, havendo indicativos de que guardam relação com atividades ilícitas,entre as quais o próprio financiamento ao tráfico e agiotagem, até porque não constam em seu imposto de renda, de modo que não podem ser restituídos.”, diz parte da denúncia.
Durante seu depoimento, o veterinário confirmou ter emprestado o montante a uma pessoa que nunca tinha visto anteriormente. O veterinário não o conhecia. “A despeito disso, não consta nas últimas declarações de imposto de renda do requerente a informação de que ele repassou de R$ 600.000,00(seiscentos mil reais) para DIEGO, seja a título de empréstimo, seja como investimento em um imóvel de sua propriedade.”, diz a denúncia.
Veterinário usava contratos de aluguel como disfarce
Segundo a denúncia, o médico veterinário mantinha um contrato de locação de um salão comercial com um dos traficantes responsáveis por trazer cargas de drogas na fronteira do Brasil com o Paraguai, além de ser também responsável por levar veículos como garantia para o condomínio de luxo do veterinário.
O contrato de locação era de um salão comercial, no bairro Vila Almeida Lima, em Campo Grande. A locação do imóvel foi fechada e registrada em cartório, no dia 22 de junho de 2020. “Esse contrato de locação inclusive é usado com justificativa para todos os aportes de MILTON para DIEGO, não se descartando que sua finalidade real seja apenas o de encobrir o financiamento ao tráfico de drogas”, diz a denúncia.
O traficante regularmente viajava para São Paulo, onde morava o líder da organização criminosa conhecido como ‘Gordinho’ para a negociação de drogas. O médico veterinário era chamado de ‘Patrão’, o que, segundo a denúncia do Gaeco, reforçava a condição de financiador da organização criminosa. “E talvez, voltaram a falar com o ‘patrão’, mas o rapaz ia olhar essa Land Rover vermelha”.
Ainda segundo o MPMS, o médico veterinário fazia parte da organização criminosa desde o começo do ano de 2020. O alvo do Gaeco tem uma empresa de inseminação artificial com registro de abertura desde 11 de dezembro de 2017 e como sócia tem a esposa.
O médico veterinário não tinha contato com a droga, e por isso, tinha a garantia dos veículos de luxo que eram deixados em seu condomínio. Ele teria investido cerca de R$ 1 milhão no tráfico. A cidade de Anastácio seria uma das bases do grupo criminoso.
Em setembro deste ano, o médico veterinário foi para prisão domiciliar. O STJ (Supremo Tribunal de Justiça) havia negado o habeas corpus para a liberdade do médico, no dia 22 de setembro.
Carros de luxo e notas promissórias
O médico veterinário tinha em sua casa em um condomínio de luxo, em Campo Grande, carros de luxo e notas promissórias como garantia pelo investimento feito de R$ 1 milhão no tráfico.
Na casa do médico, foram localizadas duas notas promissórias no valor de R$ 242 mil em nome de uma agropecuária e outra no valor de R$ 300 mil. Ainda foi encontrada na residência outra nota promissória do dia 16 de maio de 2021, do traficante com quem o médico veterinário mantinha ‘negócios’.
O traficante era o responsável por levar os carros de luxo como garantia para o médico veterinário. Na residência do médico veterinário no escritório, havia uma pasta preta com a inscrição “DOC.DIEGO”6, na qual continha documentos referentes ao controle dos veículos providenciados pelo traficante, muitos dos quais autorizaram a realizar a transferência/venda/troca desses automóveis.
Uma dessas procurações era da empresa do CAC, preso na primeira fase da Operação Traquetos, outorgando, a partir do dia 28 de setembro de 2022, poderes para que o traficante na condição de procurador pudesse transferir para o nome do outorgante e posteriormente, vender, ceder, transferir, permutar, ou por qualquer outra forma, ou título alienar, a quem quiser, pelo preço, prazo e condições que livremente ajustar.
A esposa do médico veterinário era a responsável por entrar com os carros de luxo dentro do condomínio sem levantar suspeitas. Assim, os veículos ficavam no local como garantia para o médico. A esposa do alvo do Gaeco teve uma das conversas interceptadas onde fala sobre o carro que deve ser entregue.
“(…) X, bom dia, tudo bem? O X falou que eu tenho que pegar uma encomenda contigo, né? (…)”. Em resposta afirmativa, o primeiro instrui como deverá ser o recebimento do veículo: “ô X, bom dia! Vai ser em torno de uma e meia, por ai! eu vou falar pra ele ficar lá na frente, aí você só pula pra dentro, e tchau! Mas aí nós vamos falando aqui, mas vai ser em torno disso aí mesmo, uma e meia por ai”. E, continua: “Ô X! Ele disse que tá chegando aí já, ele tá numa Hilux prata, cê vai catar a Hilux, só pergunta pra ele se tem documento, né! O porte, ai ele… ai ele se vira ai.”