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Desista de desistir. E aja

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Tornar-se um profissional limitado e sem ambições não é a resposta para combater o estresse e o burnout

 

É tão ensurdecedor quanto polêmico o barulho causado pela “Desistência silenciosa” (“Quiet quitting”) que, em resumo, é cumprir rigorosamente o contrato de trabalho. Nem um minuto a mais.

Mas muitos passos a menos.

Encontrar modelos para preservar a saúde mental e combater o aspecto negativo do “workaholismo”, minimizando o estresse e reduzindo os riscos de burnout, é inquestionável.

Mas tornar-se um profissional limitado, robotizado e sem ambições não tem sentido.

Buscar formatos inclusivos, agregadores, com equilíbrio, respeito e harmonia é premente.

Mas não dá para imaginar que algum profissional que queira se diferenciar no mercado considere que “estar na média” será suficiente para evoluir no mundo corporativo.

Será que os atuais “nota 5” serão reconhecidos pelo mercado como referências em suas áreas de atuação? Será que eles serão disputados pelas empresas por se superarem na entrega de resultados, pela liderança humanizada e capacidade de serem “solucionadores” de problemas nota 10?

Será que vão inserir esta informação de forma destacada no currículo: “Eu participei ativamente do movimento que desistiu silenciosamente”? Terão orgulho em transmitir este exemplo aos seus filhos?

Como mudanças como esta são gradativas, por outro lado este comportamento pode gerar sérias consequências. Estudos mostram que pessoas desempregadas por muito tempo têm o dobro do risco de desenvolver doenças mentais, além de altas chances de terem ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral.

De acordo com Tarani Chandola, professor de sociologia médica responsável por uma recente pesquisa sobre este tema publicada no International Journal of Epidemiology, “é muito importante ter um emprego de boa qualidade porque, além da renda, o trabalho traz muitos benefícios sociais, psicossociais e de saúde”.

No entanto, o estudo também alerta: profissionais que decidiram continuar em empregos inadequados tiveram níveis mais altos de indicadores de estresse, maiores taxas de mortalidade e saúde mais fraca do que aqueles que estão livres no mercado. Ou seja, o simples fato de estar inserido no mercado não melhora automaticamente a saúde física e mental.

O psicólogo e orientador profissional Valdemar Bacalhau reforça: “Se você tem o trabalho como algo importante desde o nascimento, e que traz bons resultados, a partir do momento que fica sem, passa a se considerar um fracassado. Mas o trabalho precisa ter sentido”.

O que não tem sentido é ser médio.

Todd Rose, professor da Harvard Graduate School of Education, afirma: “Ser ‘médio’ não existe no mundo real. Ir em direção à média é a receita para o fracasso”.

Por sua vez, a diretora do LinkedIn Blair Heitmann enfatiza: “Mais empresas estão mudando a busca tradicional, que antes focava em diplomas. Hoje, as contratações são baseadas em garantir que o contratado seja o mais qualificado para a função”.

De acordo com levantamento realizado por esta rede profissional, que possui cerca de 840 milhões de usuários no mundo, entre as habilidades mais valorizadas estão a liderança e a comunicação.

Será que este profissional, que pretende ser apenas mediano, está planejando se desenvolver nestes dois quesitos?

Heitmann incentiva que, durante uma entrevista, os candidatos mencionem como colocam suas competências em prática, exemplificando casos de superação de desafios considerados complicados. “Ter uma mentalidade de crescimento, estar disposto a aprender e evoluir ao longo de sua carreira realmente o ajudará a se tornar um candidato competitivo pelo resto de sua vida profissional”.

O candidato “média 5”, está disposto a ter este mindset?

Por sua vez, como as empresas estão reavaliando aspectos fundamentais, como jornadas intermináveis, sobrecargas de trabalho e pressões abusivas, além do comprometimento intrusivo na vida pessoal do colaborador e o negligenciamento da sua saúde?

A pesquisa “Esperanças e medos da força de trabalho global da PwC 2022”, realizada com mais de 52.000 trabalhadores em 44 países, concluiu que “a retenção desses funcionários exigirá mais do que apenas pagamento. Trabalho gratificante e a oportunidade de ser autêntico no trabalho também são importantes para os funcionários que estão considerando uma mudança de emprego”.

O estudo também revelou que apenas 30% dos funcionários consideram que sua empresa disponibiliza suporte para ajudá-los a trabalhar de forma eficaz com pessoas que compartilham pontos de vista diferentes. “Apoiar e encorajar conversas delicadas não é fácil. No entanto, os líderes podem progredir estabelecendo normas, oferecendo recursos e ajudando a garantir que elas ocorram em ambientes seguros e sem julgamentos. Esses encontros devem enfatizar a escuta”.

Enfim, questões relevantes como estas envolvem bem mais do que movimentos unilaterais e atitudes midiáticas. Enquanto as partes não dialogarem de forma transparente e genuína e perceberem que a interseção dos objetivos está atrelada a uma troca mais saudável, com mais autonomia, flexibilidade, reconhecimento, propósito e confiança, novos termos da moda continuarão a desfilar em nossas “timelines” e as reais soluções continuarão a ser postergadas.

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