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Idosos acusam empresa que usa jovens para aplicar golpe do “plano de descontos”

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O Procon, em 2022, suspendeu as atividades do grupo devido ao grande número de reclamações e irregularidades

 

Imagine ir ao centro de Campo Grande e ser abordado por uma dupla de jovens que diz ser estudantes, e prometem uma série de descontos nas áreas de educação, lazer, produtos, alimentação e saúde, por uma taxa que varia entre R$ 19 e R$ 89. A proposta pode parecer boa de inicio, mas é um golpe? Nesta semana o relato de idosos que foram abordados para uma pesquisa acadêmica e no final saíram com uma dívida de mais de mil reais.

Apresentando-se como estagiários de Comunicação Social, com a fala rápida e muitos benefícios a oferecer, a dupla aborda pessoas mais velhas querendo saber como andam os gastos no cartão de crédito. A reportagem esteve no Centro de Campo Grande no dia 22 e verificou o modo de atuação dos jovens. Na Rua 14 de Julho, sete pessoas, divididas em duas equipes, uma de cada lado da rua, usavam uniforme da empresa “Meu Desconto Prime”, abordando em sua maioria, pessoas idosas.

Antes de se identificar como jornalista, a repórter perguntou qual seria a campanha divulgada pela equipe. “A gente está divulgando uma campanha porque é estágio da nossa faculdade. Todo mundo que já paga tarifação nessas bandeiras aqui [Visa, Mastercard, Elo] Além de ter desconto nas próximas compras e assistências ainda levam um presente na hora que participar. Tem que ter o limite acima de mil reais para poder participar. Tudo o que você paga em tarifação está sendo revertido em descontos em lojas, farmácias, clínicas, mercados. Só que para ter esse desconto tem que ser conveniado e ai existe o valor de R$ 19,90”, informou a menina identificada apenas como Ana.

Listas de empresas conveniadas a empresa (Foto: Geniffer Valeriano)

Vítimas – No dia 15, a desempregada, que não quis ser identificada, de 54 anos, estava acompanhada do tio de 80 anos, quando foi abordada por uma dupla na Rua Marechal Rondon, oferecendo uma mochila e uma caixinha de som para quem aderisse ao plano de descontos “oferecidos pelo Governo Federal”. Segundo ela, a informação passada pela dupla foi de que o governo havia tirado todos os impostos do cartão de crédito e quem utilizava o método de pagamento poderia aderir aos descontos, mediante ao cadastro do convênio.

A leitora conta que tudo aconteceu de forma muito rápida, “eu falei que gastava por volta de R$ 500 no cartão e meu tio gastava mil reais, nisso eles já começaram a preencher a prancheta, com os dados dele, deram para ele assinar e entregaram a mochila pra gente”.

Ela diz que passaram dados como nome completo, CPF e informaram a bandeira do cartão que mais utilizam e então a dupla comentou que era preciso pagar R$ 89,90 no cartão de crédito como uma forma de desbloquear os descontos. “Meu tio digitou a senha e eu não reparei quanto foi debitado. Só percebi o valor total quando sentei e olhei o papel que entregaram, e ai caiu a minha ficha, que pagamos R$ 1.078. Fui fora da loja para ver se eles estavam lá e eles já tinham sumido. Fiquei muito agoniada, pensando ‘como é que cai numa coisa dessas?'”, comentou a leitora.

Mochilas “brinde”, expostas por vendedor de convênio (Foto: Marcos Maluf)

Idosa realizando o pagamento do convênio, segurando em uma das mãos a mochila recebida como brinde.

Ao perceber o ocorrido, a desempregada foi até a sede da empresa solicitar o cancelamento do convênio e o estorno do pagamento. Também formalizou reclamação ao Procon, de forma virtual. Até a publicação do material, a leitora ainda não havia recebido o estorno.

Até Dezembro de 2022, a empresa foi alvo de mais de 90 denuncias na Superintendência do Procon/MS. Em ação conjunta com a Decon (Delegacia Especializada de Defesa ao Consumidor), o Procon determinou a suspensão da atividade de vendas dos serviços da empresa, devido ao número de denúncias e irregularidades constatadas pelo órgão.

Após se identificar como jornalista, os vendedores não quiseram se identificar para matéria, e disseram que a empresa está ativa há pelo menos três anos na Capital, e que se trata de uma  plataforma de lojas conveniadas e assistências, e que os vendedores “rodam” a cidade de acordo com as parcerias formadas.

“Hoje nós estamos no centro, mas tem dia que estamos em aeroporto, rodoviária, mercado”, pontuou o vendedor. Sobre a acusação de golpe, o vendedor rebateu que “as vezes a pessoa acha que vai descontar somente o valor da parcela e quando vê o total assusta e fala que é golpe, mas não é. A maneira com que a gente aborda, o jeito que a gente fala, né, as vezes acha que é, né”

Na página do Reclame Aqui, a empresa possui 39 reclamações nos últimos seis meses, e somente duas foram respondidas. Os problemas apresentados pelos consumidores são classificados como problemas gerais, aplicativos e propaganda enganosa. No total, desde 2020, a empresa acumula 257 reclamações na plataforma.

O Procon/MS foi procurado mas não deu retorno a respeito.

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