De acordo com a estimativa, um brasileiro iria alcançar 60% de todo o seu potencial aos 18 anos, mas a expectativa diminuiu 54%
Em dois anos, a pandemia de Covid-19 reverteu o equivalente a uma década de avanços que o Brasil havia conquistado para aumentar a produtividade das crianças, aponta estudo do Banco Mundial.
Apesar de classificar como “devastador” o efeito da pandemia, Norbert Schady, economista-chefe para desenvolvimento humano do Banco Mundial, diz que essa década perdida durante a crise sanitária pode ser compensada com políticas imediatas e assertivas para melhorar a qualidade da educação básica.
O economista apresentou os dados do relatório na tarde desta quinta-feira (24) durante um evento promovido pela Fundação Lemann. Parte deles foi antecipada pela Folha de S.Paulo.
Segundo cálculo da entidade, o ICH (Índice de Capital Humano) brasileiro caiu, entre 2019 e 2021, de 0,6 para 0,54 -mesmo nível registrado em 2009. O índice estima a produtividade futura de uma criança nascida hoje ao completar 18 anos de idade, em um contexto onde as condições de educação e saúde permanecem inalteradas. Ou seja, segundo o indicador, um brasileiro médio nascido em 2019 iria alcançar 60% de todo o seu potencial aos 18 anos.
Com a pandemia, esse índice caiu para 54%. O ICH varia de 0 a 1 -quanto mais alto o número, maior é a produtividade do trabalho no futuro. O indicador é composto por aspectos que influenciam a formação de habilidades, como taxa de sobrevivência infantil até os cinco anos, acesso a aprendizagem adequada e indicadores de saúde durante a vida adulta.
“A pandemia foi o evento mais devastador para o capital humano no mundo desde a 2ª Guerra Mundial. Em países como o Brasil, onde já havia grande grau de desigualdade, os efeitos foram ainda piores”, disse Schady.
Ele destacou, por exemplo, que durante a pandemia o Brasil foi um dos países que ficou mais tempo com as escolas fechadas, o que resultou na queda de crianças matriculadas na educação infantil e na perda de aprendizado de estudantes de todas as idades.
“As pesquisas indicam que não só as crianças não aprenderam o que deveriam como ainda desaprenderam o que já sabiam. Sendo que os mais afetados, em termos de aprendizagem, foram os estudantes mais novos”, disse.
O economista defendeu que, como os impactos da pandemia se materializaram no Brasil, em grande parte, na educação, a recuperação e aceleração da aprendizagem devem ser a prioridade das políticas públicas do país nos próximos anos.
Joana Silva, economista sênior do Banco Mundial, também destacou a importância do foco em políticas educacionais, mas ressaltou que não basta focar apenas o acesso ao ensino, mas também na qualidade.
“Os países, que mais se desenvolveram e conseguiram melhorar significativamente seu capital humano, não apenas ampliaram o acesso à educação, mas garantiram uma educação de qualidade a todos. Esse deve ser o caminho para o Brasil conseguir resultados consistentes”, disse.