Após revelação em sala de aula, Conselho Tutelar foi acionado e a mãe de ex-aluna de creche procurou a polícia
O desenho de uma ex-aluna foi o ponto de partida de toda a investigação que revelou a tortura de bebês na creche clandestina que foi fechada pela Polícia Civil de Naviraí, no dia 10 de julho. Após revelação em sala de aula, o Conselho Tutelar foi acionado e a mãe da criança procurou a polícia. A informação consta nos primeiros relatórios policiais que justificaram a autorização da Justiça para a instalação de câmeras escondidas no estabelecimento.
Era uma tarde de atividade livre em escola da cidade, quando garotinha de 7 anos desenhou uma pessoa com expressão brava. Questionada pela professora quem estava na imagem, a menina sentiu-se à vontade para contar que era “a Tia Carol”, como era conhecida Caroline Florenciano dos Reis Rech, de 30 anos, com quem a pequena ficava no contraturno das aulas regulares.
A professora perguntou então por que a aluna achava Tia Carol brava e a criança respondeu que certo dia viu a mulher batendo a cabeça de um bebê no sofá. Revelou ainda que a dona da creche enfiou um pano na boca da menininha que não parava de chorar, completando que Tia Carol brigava e gritava muito, mandava ela e outras crianças calarem a boca.
Na escuta especializada, a pequena testemunha confirmou tudo o que havia narrado para a professora. A mãe, também ouvida na DAM (Delegacia de Atendimento à Mulher) de Naviraí, contou que a filha verbalizou que não queria mais ir ao “Cantinho da Tia Carol”, creche onde ficava quando não estava na escola. A menina havia revelado que além de bater e colocar panos na boca dos bebês, Caroline deve remédio para meninos e meninas dormirem quando estavam chorando.
A mulher contou que depois das reclamações da filha, havia encontrado uma babá para cuidar da menina no período vespertino. A garotinha, contudo, teve crises de choro em sala de aula que para a professora, eram sintomas de ansiedade diante da violência presenciada.
Rés – A dona de creche que operava clandestinamente em Naviraí e a funcionária dela, Mariana de Araújo Correia, 26, já são rés pelos crimes de tortura praticado contra 13 crianças, maus-tratos contra 7 vítimas e por colocarem a saúde de 14 meninas e meninos em risco, dopando-os durante o período que estavam no estabelecimento. A denúncia, oferecida pela promotora de justiça Leticia Rossana Pereira de Almada, foi recebida pelo juízo da 1ª Vara Criminal da cidade no dia 26 de julho.
No dia 27 de julho, Mariana, que havia pagado fiança de 1 salário mínimo (R$ 1.320) para deixar a prisão, no dia 11 do mês passado, voltou para a cadeia. De acordo com a Polícia Civil, novos elementos surgiram na investigação e, por isso, foi pedida a prisão preventiva (por tempo indeterminado) da cuidadora.
Mariana negou, em solo policial, ter agredido as crianças, mas contou que viu Caroline bater e beliscar os pequenos. Ela foi indiciada por expor a vida de outrem a perigo, porque foi filmada medicando bebê de 11 meses com Dramavit – remédio que fez a menina “apagar”. Porém, a investigação verificou depois que além de estar presente nos momentos em que Caroline praticou agressões físicas e verbais contra a garotinha e ter se omitido diante da tortura, a mulher também agrediu a bebê fisicamente.
A prisão – Investigando denúncia de maus-tratos na “escolinha”, delegados e investigadores de Naviraí viram e ouviram, ao vivo, a bebê de 11 meses sofrendo agressões físicas e psicológicas numa segunda-feira, dia 10 de julho, quando instalaram câmeras escondidas, com autorização judicial, no “Cantinho da Tia Carol”. Além disso, assistiram à menina ser dopada.
Diante da violência e risco que crianças corriam nas mãos de Caroline, a equipe da Polícia Civil decidiu invadir a creche e prendeu as duas adultas que estavam no local. – CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS