Moradores que convivem há 30 anos na região destacam até ‘costume’ em lidar com descarte irregular
Sofá, pedaços de madeira e incontáveis sacolas de lixo são encontrados em todo prolongamento da Avenida Ernesto Geisel até a Thyrson de Almeida, em Campo Grande. Moradores e comerciantes lidam com o problema crônico de dois jeitos: acostumando-se ou tirando dinheiro do próprio bolso para limpar o lixo.
Foi o que fez Josafá Bezerra de Brito. Há 11 meses, ele apostou na região para abrir a loja de petshop – em parte, pelo bom relacionamento com vizinhos, o que ajuda a tirar a imagem do bairro de “perigoso”. Segundo Brito, o problema ali mora na falta de educação.
“Há alguns dias despejaram alguma carga de açougue no córrego, tinha osso, pedaço de carne. A carniça estava incomodando demais. Eu e a vizinha pagamos um rapaz que teve a coragem de descer e retirar. O mau-cheiro estava insuportável. Quando chove, então, o esgoto estoura e cai no córrego. Daí junta o lixo e fica um caos”, descreve o empresário.
A situação é incômoda até para clientes, como relembra Maria de Lourdes, dona de uma loja de peças para moto. “O cliente levantou e disse: depois eu volto. Foi embora por causa do cheiro”.
Tirou do próprio bolso
Desembolsando para limpeza, Maria de Lourdes detalha que o comércio fica menos atrativo diante do cenário sujo. Recentemente, teve que pagar um prestador de serviço para roçar e retirar o acúmulo de lixo nas margens entre o córrego e a avenida.
“Moradores de rua pegam o lixo exposto na frente, jogam o lixo no córrego para ficar apenas com o saco. Temos que limpar duas vezes para tentar manter. É muito complicado conviver, o mau cheiro nos dá dor de cabeça, passamos mal”.
Thiago Lucas Gamarra tem um brechó na vizinhança e precisa mudar a rotina quando observa fumaça nas proximidades dos entulhos. “Moradores de rua colocam fogo em fiação elétrica, o cheiro é forte, mas para mim é péssimo porque pega nas roupas. A prefeitura fez a limpeza, mas jogam lixo de novo. No trecho do meu comércio é menos, tem muito próximo ao [Parque] Ayrton Sena”.
Insalubridade
De ponta a ponta e dos dois lados da avenida, é possível notar amontoados. Em um trecho, próximo ao Hospital do Amor, há entulho com odor forte. Teodozio Moraes, de 51 anos, relata que se mudou há 30 anos para a região do Aero Rancho, na época tinha barracos nos barrancos do córrego.
Apesar de acostumado com a situação rotineira, Teodozio não deixa de se incomodar com o abandono. “Aqui é um bom bairro para viver, tem hospital, mercado, feira e o parque perto, mas os imóveis são desvalorizados por isso. Quando anuncia imóvel é no Aero Rancho tem gente que fala ‘é favela, não vale o valor’. Aqui tem asfalto, saneamento e boa vizinhança. Quando me mudei era tudo mato”.
Limpeza
A Solurb disse que realiza apenas a roçada dos canteiros da Avenida Ernesto Geisel, eventuais limpezas de entulhos e barracos do local é realizado pela Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos).
A Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) diz que descarte irregular é crime ambiental, portanto, deve ser denunciado. O morador que presenciar ou notar rotineiramente o descarte irregular de resíduos nas margens dos córregos, pode formalizar denúncias de imediato à Patrulha Ambiental da Guarda Civil Metropolitana via telefone 153 e, quando for possível identificar os infratores, que as denúncias sejam direcionadas à Semadur por meio da central de atendimento 156.
“A responsabilidade da disposição final dos resíduos é do seu gerador. A Prefeitura tem atuado no sentido de coibir tais práticas, realizando diariamente fiscalizações em todas as regiões.
A Secretaria salienta, ainda, que a região do Rio Anhanduí tem sido monitorada pela fiscalização visando coibir tal ação”.
De acordo com o Código de Polícia Administrativa, Lei 2909/92, do município de Campo Grande. As multas podem variar entre R$ 2.727,50 e R$ 10.910,00.