Os filhos começaram a chegar há três anos, a partir de um curso da Justiça para adoção
Misture um grande coração e um amplo apartamento no Centro de Campo Grande. Assim surge o Dia dos Pais de Caciano Lima, 42 anos, que adotou três adolescentes, numa jornada de pai solo, na chamada adoção tardia, mas que nos alerta que sempre é tempo de abrir a porta para novos laços.
A máxima de que “a gente não faz amigos, reconhece-os” também se aplica nessa história. No caso, Caciano logo reconheceu os meninos que chamaria de filhos.
Durante o curso de adoção, realizado de forma virtual em meio à pandemia, viu a foto de Luiz Fernando, hoje com 15 anos. “Descobri que era pai. A juíza da Vara da Infância colocou a imagem do Luiz Fernando e aquilo me deixou inquieto num primeiro momento. Fui atrás porque sabia que era meu filho. O Luiz chegou e revolucionou a minha vida. Foi um encontro de anseios, de almas, de amor”, conta um emocionado pai.
O segundo filho, ele conheceu em Ponta Porã, a 323 km de Campo Grande e na fronteira do Paraguai. Gestor de Arte e Cultura da Fundação Estadual de Cultura, Caciano viajou ao município fronteiriço para a revitalização do Castelinho, o prédio histórico, datado de 1930, que já foi sede do governo do Território de Ponta Porã, abrigou a cadeia pública e também o quartel da Polícia Militar. Lá, reconheceu o filho Gabriel, de 11 anos.
“Fui a Ponta Porã a trabalho, estávamos restaurando um bem cultural. Nisso, me pediram uma delicadeza, fazer imagens das crianças do abrigo. Nesse dia, conheci o Gabriel, meu filho menor”.
O quarto integrante da família é Kauan, 15 anos. “Eu organizava a vidinha do Gabriel, que era de outra comarca, e fui buscar auxílio no Fórum de Campo Grande. Quando cheguei, vi um adolescente trabalhando e aquilo me tocou de forma tão grande. Eu falei: ‘Cara, esse menino está cuidando de processos de adoção e não vai ser adotado?’ Aí, criam-se novos laços e surge o meu terceiro filho”.
Com a família grande, o dia de Caciano começa às 4h30 da manhã. E a regra é que termine às 20h, para todo mundo. “Eu amo acompanhar eles em suas atividades escolares e esportivas. Me sinto vivo e realmente exercendo a atividade “Pai”. Erro? Claro e muito. Mas não há uma fórmula. E da noite para o dia eu tive que me adaptar a essas ações revolucionárias”, conta Caciano.
A rotina tem escola, Kumon, psicopedagoga, professores auxiliares, futebol, médico, dentista, psicóloga, beisebol. “É pesado. Mas eu amo toda essa correria e todos nós nos ajudamos o tempo todo”, diz o pai.
E também não faltam emoções nessa estrada. “Na primeira reunião de pais na escola, eu chorei tanto que até hoje eu não sei o que foi falado lá. Mas sei que estava presente”, rememora.
Sobre a harmonia dento do lar, o pai conta que um irmão foi recebendo o outro. “Eles conhecem a dinâmica de viver sem família, em um abrigo. Um foi recebendo o outro do seu jeitinho”.
Em cada filho, ele se reconhece um pouquinho. Luiz Fernando tem gostos parecidos com o pai, como o apreço por arte e cultura. Kauan é um estudante dedicado, a exemplo de Caciano, que estudou com afinco, cursou universidade pública, chegou ao doutorado e passou em concurso. Em Gabriel, vê a força do afeto. “No afeto com o outro, Gabriel é parecido comigo, essa questão de carinho, de beijar, de dizer eu te amo”.
Agradecido por tanto que a vida lhe deu, Caciano também faz questão de render homenagem ao que lhe ajudaram.
“Tinha dia que eu não sabia o que fazer e para onde ir. Foram as experiências dos meus amigos e a expertise da minha mãe, uma avó muito atenta, que me fizeram sempre seguir adiante”, conta. A mãe Marli, de 66 anos, mora no mesmo prédio.
Ele também agradece às magistradas e servidoras do Poder Judiciário, que acompanharam o processo de adoção.
“Me tornei pai devido ao amor que elas tem pelas crianças e adolescentes: Juízas Katy Braun e Thielly, técnicas Andrea e Sâmia, além das servidoras dos abrigos onde os meus filhos moraram. Todas se conectaram aos meus sonhos. E eu creio que voltarei a ter contato com elas no futuro. Ainda sou jovem, tenho forças e espaço não falta no meu coração e apartamento”.
Filho primogênito, Luiz Fernando, que está na família há três anos, elogia a dedicação do pai. “Ele é tudo para mim”, diz o adolescente.
Mais expansivo, o menino Gabriel conta da felicidade de ter uma família. “Ele é um anjo. Ele representa alegria, eu sou muito feliz nessa família. Eu gosto de meus irmãos. Muitas coisas mudaram depois que vim pra cá. Eu sou mais feliz”.
Kauan da Rosa reforça a gratidão. “Agradeço a oportunidade que ele me deu de integrar uma família novamente. Por mudar o rumo da minha vida. Agora tenho perspectiva de futuro. Ele é meu alicerce, meu lar, tanto meu quanto da nossa família. Eu amo ele”.