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Bioceânica, uma rota de sonhos para a prosperidade

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Corredor que liga os oceanos Atlântico ao Pacífico está a dois anos da conclusão e provoca euforia com a expectativa de desenvolvimento integrado jamais visto

“É a coisa mais linda que meus olhos já viram!”. Um viajante assim descreve o passeio de Campo Grande (MS) até as bordas do Oceano Pacífico, no norte do Chile. Ele e um grupo de amigos se aventuraram por 2.396 km do corredor rodoviário que passa por quatro países, chamado de Rota Bioceânica, Corredor Bioceânico de Capricórnio ou ainda ou ainda Rota de Integração Latino Americana (RILA)  — um sonho antigo que está a dois anos de virar realidade, segundo a previsão mais recente do governo de Mato Grosso do Sul.

O nosso viajante é Victor Renato De Freitas Malheiros um guia de turismo que já percorreu muitos cenários mundo a fora, mas para quem a Rota Bioceânica é das paisagens  mais incríveis de se apreciar. O percurso passa por cidades do Brasil, Paraguai, Argentina e Chile, com cenários variados e encantadores.

Vale mencionar que o esforço para a consolidação da rota tem motivações econômicas, uma vez que a ligação rodoviária entre os oceanos Atlântico e Pacífico, reduzirá custos logísticos para transporte de mercadorias e criará um novo acesso a grandes mercados comerciais, principalmente o asiático. Porém, a beleza e as peculiaridades de cada localidade ao longo do caminho garantem um corredor turístico sem igual no planeta.

Bioceânica, uma rota de sonhos para a prosperidade
(Foto: Vitão/Colaboração)

“A mudança da vegetação e a altimetria, juntando esse dois fatores, resulta em uma combinação única de paisagens fenomenais. Da saída do nosso Pantanal,  até o Pacífico, passando pela Cordilheira dos Andes, e deserto do Atacama, é a coisa mais linda que meus olhos já viram”, reforça Victor.

No mês de Julho, o governador de MS Eduardo Riedel ministrou palestra, em Campo Grande, sobre a Rota Bioceânica na qual fez revelações sobre o andamento das obras e mencionou os impactos do corredor para o Estado, considerado um elo de ligação do corredor.  O vídeo da palestra está disponível mais abaixo nesta reportagem.

A ligação fundamental para concluir a Rota é a ponte de Porto Murtinho (MS) até Carmelo Peralta, no Paraguai, que está em fase de construção. O trabalho é realizado em várias frentes e a obra já estaria cerca de 25% executada.

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Victor fez vários registros da viagem inesquecível (Foto: Vitão/Colaboração)

A proximidade da conclusão da Rota já provoca movimentação nas cidades dos quatro países pelos quais ela passa. No Brasil, uma verdadeira euforia tomou conta de Campo Grande. O corredor é considerado um dos projetos mais importantes para o governo brasileiro na atualidade e uma passagem para um novo tempo de integração e prosperidade jamais visto.

Afinal trata-se de uma megaestrada que quando pronta será uma passarela gigante de riquezas. A rota conecta o porto de Santos, no oceano Atlântico até os portos chilenos de Antofagasta e Iquique (Oceano Pacífico). Se medida de porto a porto,  são cerca de 3,4 mil quilômetros, sendo 1,5 mil só em território brasileiro.

Em MS, são 680 km que, além de Campo Grande, passam ainda pelos seguintes municípios (sentido leste-oeste): Bataguassu, Anaurilandia, Nova Andradina, Nova Alvorada do Sul, Rio Brilhante, Maracaju, Guila Lopes da Laguna, Jardim, Bela Vista, Caracol e Porto Murtinho.

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Linha vermelha é a Rota Bioceânica, que liga o Atlântico ao Pacífico, passando pelos estados brasileiros de SP, MS, Paraguai, Argentina e Chile (Foto: Semadesc) 

Em Porto Murtinho, termina o trecho brasileiro e começa o paraguaio, na cidade de Carmelo Peralta, seguindo por Mariscal José Félix Estigarribia, Boquerón e Pozo Hondo, na Argentina pelas cidades de Misión La Paz, Tartagal, Jujuy e Salta, até chegar ao Chile, aos portos das cidades de Mejillones e Iquique.

Contudo, especialistas ouvidos pela reportagem alertam que a consolidação da Rota vai muito além da ligação física. “É um projeto maravilhoso que está se tornando a realidade. Mas, há desafios neste caminho. Adequar a legislação dos quatro países, por exemplo, é um trabalho imenso”, aponta o professor doutor,  historiador e pesquisador da Rota Eronildo Barbosa da Silva.

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Em Porto Murtinho, termina o trecho brasileiro da Rota Bioceânca e começa  a viagem pela ponte que está em construção (Foto: Divulgação) 

Nesta matéria você vai ler:
º A inesquecível viagem pela Rota Bioceânica
º Universidade publica e-book sobre a Rota
º Campo Grande, a Capital da Rota vive euforia
º Chilenos instalam escritório em Campo Grande
º Fiems e chilenos assinam acordo de cooperação
º Governador de MS destaca aumento da competitividade

A inesquecível viagem pela Rota Bioceânica — Victor Malheiros percorreu a Rota a bordo de um veículo Reno Duster junto com outros três viajantes durante 25 dias. E não se tratava apenas de passeio. O grupo estava inserido em projeto de extensão da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS, e da Associação Brasileira de Agências de Viagens, a ABAV-MS.

“As duas entidades tinham como objetivo fazer um inventário, de pontos e atrativos turísticos. Fizemos mapa em 3D, imagens aéreas dos atrativos e  da qualidade da estrada. Também foi levantado o valor do combustível, hospedagem, entre outros, catalogamos tudo”, diz Victor.

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Estrada da Bioceânica passando pelo deserto, uma linda imagem (Foto: Vitão/Colaboração)

O trajeto tem vários tesouros. Todas as cidades estão repletas de história, cultura e paisagens espetaculares. A Cordilheira dos Andes, citada por Victor,  tem aos seus pés a cidade argentina de Salta, que proporciona uma verdadeira viagem ao passado. Sua essência está em seu centro histórico, mas tem ainda o Trem das Nuvens (o terceiro mais alto do mundo, operando a mais de 4 200 metros de altitude) e os museus.

Salta é uma verdadeira viagem no tempo. Os museus desta cidade guardam as múmias de mais de 500 anos encontradas no topo das montanhas dos Andes. Exposições  interativas retratam as tradições e espiritualidade das comunidades indígenas da região.

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Trem das Nuvens liga as estações de Salta com a de La Polvorilla, sobre a Cordilheira dos Andes (Foto: Divulgação)

Segundo o viajante, as condições da Rota — tirando a parte onde as obras estão em andamento entre Brasil e Paraguai — são ótimas. O asfalto é de boa qualidade.  “Quando se chega na Argentina para frente, o asfalto é um tapete. Há cabines, guaritas de policiamento constante durante a rota, e  a sensação de mais segurança vem naturalmente”, avalia.

Conforme Victor, essa sensação de segurança é maior na Argentina do que no trecho Brasil/Paraguai. “Parece que somos menos organizados que los hermanos argentinos”, compara. Além do mais, ele analisa que é patente a necessidade de melhorar as aduaneiras e o fluxo de ir e vir com os outros países. “Lembrando que Chile e  Argentina já são integrados, você passa batendo saída, e já batendo entrada tudo de forma integrada”, descreve.

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Na parte argentina, o asfalto é um tapete (Foto:Vitão)

Universidade publica e-book sobre a Rota – Na turma de viajantes de Victor,  estava também o turismólogo e professor doutor Erick Wilke que coordenou uma pesquisa detalhada sobre a Rota resultante no e-book “Apontamento sobre o Corredor Bioceânico Brasil- -Norte do Chile: Economia, Logística, Direito, Turismo e História” publicado no site da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).  Acesse aqui.

“Estudamos os cinco eixos principais Economia, Logística, Direito, Turismo e História  em um grupo de 16 pessoas. O trabalho de pesquisa foi realizado nos anos 2020, 2021 e 2022, quando o e-book foi lançado”, relembra.

O trabalho foi feito para que a sociedade pudesse conhecer a Rota através de um trabalho acadêmico. O e-book tem cerca de 300 páginas e aborda os eixos mencionados com  profundidade. O documento agora passará por uma revisão e atualização que está a cargo do professor doutor e historiador Eronildo Barbosa da Silva.

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Professor doutor Erick Wilke coordenou trabalhos que resultou em um e-book da UFMS (Foto: Luiz Alberto)

O material tem relatos das peculiaridades da Rota como a interessante Comunidade Menonita, localizada na cidade de Mariscal Estigarribia (Py).  Essa comunidade formada por migrantes da Alemanha e dos Países Baixos no século XVIII, mantém fortes traços da cultura e da religiosidade,  os quais influenciaram o modo de vida e a forma de fazer negócio.

O professor Erick Wilke é um entusiasta da Rota. “O impacto será muito positivo para os quatro países da Rota. MS, inclusive, vai sair da posição periférica no Brasil para uma central e estratégica no comércio latino americano”, afirma.

Campo Grande, a Capital da Rota vive euforia – Com localização geográfica central em relação ao corredor rodoviário, Campo Grande está vivendo uma euforia com a aproximação do término das obras. A Capital de MS se prepara para ser também uma espécie de Capital da Rota.

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Prefeita da Capital firmou parcerias para cursos de capacitação (Foto: Divulgação)

A prefeita Adriane Lopes (PP) diz que a cidade está se organizando para ser um hub logístico e centro de distribuição de mercadorias, gerando economia e eficiência para atender as empresas brasileiras e dos demais países, como o Paraguai, que se beneficiarão deste caminho para curso dos países asiáticos, grandes importadores de grãos, fibras, proteínas e minérios brasileiros.

Para Adriane Lopes, a economia de Campo Grande dará um salto  com a viabilização da Rota. A Capital já atrai a atenção de vários países. Uma prova do tamanho do interesse foi a presença de delegações de vários países nas rodadas de negócios da feira agropecuária  Expogrande 2023, realizada em Abril. Marcaram presença empresários e autoridades da Argentina, Bolívia, Paraguai, Portugal, Itália, Luxemburgo e Chile.

Campo Grande é a 14ª Capital mais populosa do Brasil, com 897 mil habitantes, tem um PIB superior a R$ 30 bilhões, sedia 122.787 empresas ativas, sendo mais de 2.200 indústrias. “A Rota Bioceânica não é só um corredor que vai ligar um país a outro, é muito mais que isso, pois simboliza um novo momento de oportunidades”, destaca a prefeita.

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Jovens terão acesso a cursos de informática voltado para demandas da Rota (Foto: Divulgação)

A Capital firmou parcerias para capacitar a população para trabalhar nas oportunidades que surgirão em função da consolidação da Rota. Uma delas vai oferecer gratuitamente 79 cursos on-line para a população, através do programa “Juventude na Rota”. A mais nova parceira da Capital é a Microcamp Educação Tecnológica.

A Microcamp irá ceder por dez meses, vouchers de cursos on-line, que se fossem pagos, custariam R$ 1,9 milhões. Ao todo serão oferecidas 10 mil vagas para capacitações EAD numa plataforma com 1.600 horas/aula. Foran anunciados cerca de 80 cursos, grande parte na área da informática, mas há também capacitações de hotelaria e turismo, operador de drone, inglês, espanhol, matemática financeira, física, química entre outros.

Para se inscrever no “Juventude na Rota”, os interessados devem realizar cadastro presencialmente na Sejuv, localizada na Rua 25 de Dezembro, 924, no Jardim dos Estados, no 3º andar do Edifício Marrakech. Mais informações sobre o programa podem ser obtidas pelos telefones (67) 3314-3577 ou (67) 99287-2008.

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Jovens da Capital terão acesso a mais opções de cursos gratuitos (Foto: Divulgação)

Chilenos abrem escritório em Campo Grande – Os chilenos, inclusive, instalaram um escritório em Campo Grande, sendo o primeiro da Rota na Capital. A inauguração ocorreu no mês de Julho em clima festivo. O  Escritório Comercial da Corporação de Desenvolvimento da Região de Tarapacá foi aberto para alavancar as negociações e trocas comerciais entre o Brasil e o Chile. O escritório fica localizado no Edifício The Place, na Avenida Afonso Pena, centro da Capital.

“Estou certo de que os empresários de Campo Grande serão competitivos no mercado asiático e para isso, nos apresentamos como a porta de saída da América Latina para o mercado asiático. Temos excelente relação com embaixador chinês, o que confere a região norte do Chile uma ligação especial com a China. Em nossa Zona Franca, a cada 4 empresas, uma é chinesa. Essa ligação nos faz crer que somos os mais indicados para acompanhar e direcionar as negociações de empresários brasileiros com o mercado asiático na cidade de Iquique”, disse na ocasião o Governador de Tarapacá, Chile, José Miguel Carvajal.

A região de Tarapacá abriga em sua Capital, Iquique, o maior porto do Norte do Chile, foco de grande interesse dos exportadores brasileiros.

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Prefeita recebeu autoridades chilenas que abriram escritório na Capital  (Foto: Divulgação)

Conforme dados divulgados pela prefeitura, apenas com o Chile, Campo Grande já transacionou mais de US$ 31,631 milhões no ano de 2023, representando 32% do movimento total de comércio exterior com os países da RILA e 6,6% do total movimentado globalmente.

Comparando os meses de janeiro a maio de 2021 e de 2023, o crescimento nas compras de produtos chilenos por Campo Grande aumentou mais de 9.000% , chegando a quase US$ 1,5 milhão. O principal item da cesta de compras são peixes frescos ou refrigerados, notadamente o salmão chileno, muito apreciado pelos campo-grandenses.

Já as exportações cresceram 3% e atingiram US$ 30,138 milhões. Os principais itens da pauta exportadora estão relacionados ao complexo de carnes bovinas e rações para animais.

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Porto chileno, foco de grande interesse dos exportadores brasileiros (Foto: Vitão)

Fiems e delegação chilena assinam acordo de cooperação – A mesma delegação que inaugurou o escritório em Campo Grande deu outro passo importante para as transações da Rota Bioceânica. Os chilenos assinaram uma acordo de cooperação com a Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul, a Fiems, que trata de oportunidades comerciais no corredor. Assinaram o documento o vice-presidente da Fiems, Crosara Júnior, e o governador da região de Tarapacá, José Miguel Carvajal.

Para Carvajal, finalmente, um novo ciclo está prestes a começar com a Rota Bioceânica. “Esse processo logístico pode ser um dos mais importantes do mundo, que une os produtores do setor industrial de Mato Grosso do Sul ao Pacífico, através da região de Tarapacá. Esse intercâmbio cultural permitirá, em breve, dar início a relações comerciais com as empresas do norte do Chile, que tem vínculo com o mercado asiático. Esse é o setor comercial que queremos apresentar para iniciar neste convênio de colaboração”, ressaltou.

Carvajal anunciou ainda que será realizado um evento nos dias 28, 29 e 30 de Novembro. “Quero convidar todas as empresas que queiram conhecer as projeções econômicas deste futuro corredor bioceânico, que possam participar conosco neste grande encontro de negócios, será em Iquique, na região de Tarapacá”, concluiu. Tarapacá é uma das 16 regiões do Chile, a capital é Iquique. A região é banhada a oeste pelo oceano Pacífico e abriga a zona franca de Iquique, responsável por exportar grande parte da produção mineral do Chile para o mercado asiático.

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Crosara Júnior e o governador Carvajal assinaram acordo entre a Fiems e delegação chilena em Julho de 2023 (Foto: Divulgação)

Governador de MS destaca aumento da competitividade – O governador Eduardo Riedel é outro entusiasta da Rota Bioceânica.  “Trata-se de um conceito sonhado e discutido por muito tempo (Rota Bioceânica) e que vai se concretizar nos próximos dois anos”, anunciou em recente palestra sobre o corredor ministrada na Capital.

Ele destacou a redução de custos e a competitividade de Mato Grosso do Sul por meio do corredor bioceânico. “Seguindo pelos portos chilenos para China vamos reduzir em 12 dias a navegação, em comparação com a saída pelo Porto de Santos. Isto representa uma economia expressiva, competitividade muito grande”, ponderou. A diária de um barco em Santos custa U$$ 30 mil, enquanto que no Chile fica em U$$ 3,6 mil.

Esta comparação é feita porque Xangai (China) é um dos principais destinos dos commodities do Mato Grosso do Sul e do Centro-Oeste. Além da distância, Riedel descreveu os benefícios que este corredor vai trazer ao Estado, com o acesso aos mercados asiáticos, assim como da Costa Oeste das Américas e Oceania.

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Governador Eduardo Riedel é grande entusiasta da Rota (Foto: Saul Schramm/Governo de MS)

“Teremos acesso a estes grandes mercados com aumento tanto nas importações, como nas exportações, tendo ainda produtos com valor agregado, que talvez seja o mais atrativo para rota, por serem extremamente competitivos. Um crescimento na economia como um todo”.

Outro foco é a expansão do turismo, como na região do Pantanal, Bonito e outros destinos. “Temos um grande potencial no ecoturismo, com atrativos para trazer gente de todo Brasil, assim como da América do Norte, Europa e da América do Sul, tendo até um fluxo invertido pelo (Oceano) Pacífico”.

O arcabouço legal também foi discutido, como a implementação de um acordo fitossanitário entre os países, assim como normas jurídicas para o comércio exterior, acordo de integração aduaneira e as negociações de livre comércio, bilaterais e multilaterais.

Confira em vídeo parte da última palestra do governador sobre a Rota Bioceânica:

Concretização de corredor é megaobra – A porta de entrada ao Brasil será pelo município de Porto Murtinho, onde está sendo construída a ponte sobre o Rio Paraguai, na divisa com a cidade de Carmelo Peralta.  “No Norte do Paraguai são quase 500 km não pavimentados, que agora estão recebendo as obras do Governo do Paraguai, com expectativa de estar tudo pavimentado em 2024. O presidente fez um grande empréstimo junto ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para viabilizar este corredor”, contou Riedel.

Explicando melhor, o Corredor Bioceânico inclui uma ponte internacional, estradas e alfândegas e pode encurtar em duas semanas a distância nas exportações brasileiras para a Ásia. Só para citar o impacto na movimentação de produtos, para Mato Grosso do Sul, que produz quatro vezes mais grãos que todo o Paraguai, o corredor significará uma redução de 25% a 30% em seus custos na hora de escoar sua produção.

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Ponte internacional ligando Porto Murtinho (MS) e Carmelo Peralta ( PY) está em andamento (Foto: Divulgação)

Conforme o governo estadual, a ponte internacional já está cerca de 25% já concluída. A obra avança dos dois lados do Rio Paraguai. O empreendimento é financiado pela Itaipu Binacional, com valor estimado de US$ 85 milhões, e tem uma extensão de 1.294 metros, dividida em três pontos: dois constituirão os viadutos de acesso de ambos os lados e um corresponderá à parte estaiada, com 632 metros de comprimento, com vão central de 350 m.

Atualmente a geração é de cerca de 500 empregos no local. A obra está avançando com maior percentual do lado paraguaio, que começou antes, e também em Porto Murtinho.

Os trabalhos estão a cargo do Consórcio PYBRA (Tecnoedil SA, Paulitec e Construtora Cidade), sendo o Consórcio Prointec o fiscalizador. A gestão da obra está a cargo da UEP-DCyP, do MOPC (Ministério das Obras Públicas e Comunicações).

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Imagem do projeto arquitetônico da ponte que terá investimentos de US$ 85 milhões financiados pela Itaipu Binacional (Foto: Divulgação)

“O projeto básico já está pronto, estimado em torno de R$ 200 milhões o acesso, mais R$ 200 milhões a área alfandegária e que está em uma situação para o segundo semestre para a licitação através do DNIT”, salientou o secretário de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, órgão diretamente responsável pelas tratativas a cerca da Rota.

Além das obras físicas, a questão alfandegária é outro ponto importante que está sendo discutido entre o governo de MS e as autoridades paraguaias. “A estrutura atual de alfândegas existentes ao longo da rota não é suficiente para dar competitividade em relação a todo o processo, tanto de custo como de tempo. Portanto, nós estamos focando nesse momento no acordo entre os países, entre o Chile, a Argentina, o Paraguai e o Brasil, no acordo alfandegário da rota, permitindo dessa forma agilidade nas alfândegas e principalmente que o produto chegue de uma maneira rápida e competitiva aos potes chilenos e a partir daí atingindo o mercado asiático”, revela o secretário.

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Obra gera cerca de 500 empregos atualmente (Foto: Toninho Ruiz/Divulgação)

Uma nova geopolítica na América do Sul – A implementação da Rota Bioceânica vai abrir novas possibilidades no comércio internacional, turismo e negócios. O corredor muda significativamente a geopolítica da América do Sul. “Vamos ter um acesso ao Pacífico concorrendo diretamente ao canal do Panamá, que é a ligação atual entre o Atlântico e o Pacífico. A gente redireciona um conjunto de cargas que hoje estão indo para Paranaguá, para os portos chilenos, principalmente o porto de Iquique, que já está bastante estruturado”, salientou Verruck.

A Rota ampliará o fluxo de importação de trazer produtos chilenos ao Brasil. “Mato Grosso Sul tem uma grande oportunidade de se tornar um hub de distribuição de produtos oriundos tanto do Chile como da China para a entrada no Brasil. Mato Grosso Sul passa a ser um centro de distribuição de uma maneira competitiva, substituindo principalmente o porto de Santos”, avalia.

Na estimativa do governo, a implementação da rota deve ocorrer a partir de 2025. “Ela vai promover a integração econômica entre os países e trará desafios para os municípios sul-mato-grossenses. Temos um elevado fluxo de pessoas e de veículos que vão transitar. Temos que ter investimentos na infraestrutura, principalmente nas rodovias federais e estaduais, postos de atendimento e focar também na segurança, na saúde, principalmente ao longo de toda a rota.”

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Equipe do governo estadual acompanha diariamente a evolução das obras e faz tratativas internacionais  (Foto: Divulgação)

Rota é sonho que começou nos anos 1960 –  O professor Eronildo Barbosa mergulhou fundo nas origens da Rota Bioceânica. Segundo o historiador, elas remontam dos anos 1960, quando o então prefeito de Iquique, no Chile, Jorge Alejandro Soria Quiroga começou a imaginar um caminho que ligasse os portos chilenos aos do Brasil, ou seja, os oceanos Pacífico e Atlântico.

“Ele sonhava com esse caminho e passou a militar pela concretização dele”, explica o historiador. A ideia foi ganhando eco nas décadas seguintes, até que já nos anos 1980 despertou a paixão de um procurador de justiça de Porto Murtinho (MS) que mais tarde viria a ser prefeito do município. Heitor Miranda dos Santos é considerado um visionário da Rota e até mesmo o pai dela por alguns.

Segundo relato de familiares, Heitor despertou para a possibilidade após viajar pela América do Sul e visitar localidades pobres. Para ele, a saída para o Pacífico seria mais que uma ferramenta de ganhos econômicos, mas também uma rota para integração cultural, artística e gastronômica.

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Professor Eronildo Barbosa mergulhou fundo nas origens da Rota Bioceânica  (Foto: Luiz Alberto)

Heitor Miranda administrou Porto Murtinho de 2013 a 2016. Ele faleceu em Novembro de 2022 quando seu entusiasmo pela causa da integração já havia contagiado outras lideranças. O irmão dele José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, governou o Estado de Mato Grosso do Sul entre 1999 e 2006, também militou a favor da Rota Bioceânica interagindo com os governos de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, e posteriormente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.

Sempre que o assunto vem à tona, Zeca do PT destaca o pioneirismo do irmão e a descrença que ele enfrentou. “(…) Ele foi tido como louco, como enganador que prometia o que era impossível, e esses mesmos que taxavam o Heitor de enganador, de mentiroso, de sonhador, hoje se colocam como os responsáveis pela ideia da integração sul-americana. Então, ele leva com ele tudo, é muita cara a figura do Heitor”, relatou à imprensa nos funerais de Heitor, no dia 24 de Novembro, em Campo Grande.

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Heitor Miranda, o visionário da Rota faleceu em 2022   (Foto: Divulgação)

A ideia de se criar a Rota Bioceânica tendo MS como elo de ligação reverberou nos governos posteriores a Zeca do PT. André Puccinelli (MDB) e Reinaldo Azambuja (PSDB) também seguiram empunhanhando a bandeira da integração.  Porém, se confirmada a previsão do governo estadual, caberá a Eduardo Riedel anunciar a conclusão histórica. “Vamos liderar o desenvolvimento do Brasil. Não somos só o meio da América do Sul, somos o centro de atração de uma série de vertentes. Estamos na ponta do Brasil, mas uma ponta que conecta vários estados brasileiros ao Pacífico”, enaltece Riedel.

Desafio é imenso e vai além da ligação física, diz historiador – O historiador Eronildo Barbosa da Silva alerta que a consolidação verdadeira da Rota Bioceânica vai muito além da conclusão da ponte e pavimentação de estradas. É necessário avançar nos acordos comerciais e integração cultural, por exemplo. “É preciso formar um pensamento único nesta questão. É algo bem complexo até pelas diferenças culturais. Conciliar a legislação de quatro países é trabalhoso. O desafio é imenso”, afirma.

Segundo ele, as aduanas precisam falar uma mesma linguagem. O controle de entrada e saída de mercadorias e feito de forma bem diferente nestes quatro países. A cobrança de taxas precisa ser unificada, uma questão que não está devidamente aprofundada, mas sobre a qual as autoridades já conversam.

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Ligação física por rodovia se aproxima de conclusão, mas não basta por si só, alerta historiador (Foto: Vitão)

A estrutura alfandegária da Rota será avaliada em teste que já tem datas marcadas no calendário dos quatro países. Como noticiou o governador Carvajal, nos dias 28, 29 e 30 de Novembro será realizada em Iquique o IV Fórum dos Territórios Subnacionais do Corredor Bioceânico de Capricórnio. No mesmo período será organizada uma nova missão, saindo de MS até o Chile, dessa vez levando mercadorias.

Alias, quando da instalação do escritório chileno em Campo Grande, foi firmado acordo entre o governo de MS e o de Tarapacá que permitirá avanços nesse campo. Como já foi mencionado, Tarapacá abriga em sua Capital, Iquique, o maior porto do Norte do Chile, principal saíde para escolar a produção brasileira pelo pacífico.  “O governador Galhardo disse que Tarapacá é o Pacífico de Mato Grosso do Sul”, citou o secretário Jaime Verruck logo após a assinatura do acordo.

À medida que crescem os esforços internacionais, é preciso também se preparar internamente, diz o historiador. “Será que as nossas estradas em MS e, em Campo Grande, especificamente estão preparadas para receber mais cinco mil caminhões por dia. Essa é uma questão que precisa de uma resposta urgente”, alerta.

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(Foto: Vitão)

Ainda na linha de ‘arrumar a casa’, Eronildo afirma que é preciso qualificar a mão de obra local para as demandas que vão surgir com a implementação da Rota. “Uma nova burocracia está sendo criada. Logo, é preciso formar pessoas para viabilizar isso.” Ele reconhece o esforço da prefeitura de Campo Grande que abriu cursos para a juventude,  mas pondera que é preciso aprofundar na iniciativa. “Não podemos ficar no lugar comum. Teremos demandas de comércio internacional. Haverá necessidade de pessoas que dominem o mandarim (uma das variações da língua chinesa) por exemplo”, cita.

Porto Murtinho faz investimentos pensando na Rota – Embora, a Rota estivesse em debate desde a década de 1960, seu traçado no território brasileiro só foi definitivamente escolhido em 2011. Uma reunião entre autoridades brasileiras definiu que ela passaria pelo município de Porto Murtinho, pondo fim às pretensões do lobby a favor de Corumbá, que já detinha uma ferrovia.

Batido o martelo, Porto Murtinho passou a ser o portal de entrada ou saída do Brasil através da Rota Bioceânica. Localizado na fronteira com o Paraguai, o município tem cerca de 12,8 mil habitantes, segundo o levantamento mais recente do IBGE, de 2020, e está localizado a cerca de 440 quilômetros de Campo Grande (por estrada).

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Prefeito de Murtinho (de camisa azul clara) vistoria obras na área da saúde (Foto: Divulgação)

Em entrevistas à imprensa, o prefeito Nelson Cintra (PSDB) tem destacado a preparação da cidade para o novo momento que terá início com a conclusão da ponte sobre o Rio Paraguai e consequentemente da Rota Bioceânica. A cidade está elaborando um plano diretor em parceria com universidades para guiar seu desenvolvimento.

A prefeitura também investe em obras como a reforma do aeroporto e do Hospital Municipal Oscar Ramirez Pereira, com investimento de R$ 5,3 milhões. A unidade de saúde está sendo preparada para o futuro, passando de porte pequeno para médio, com mais espaços e equipamentos.

Os investimentos desde 2022 somam mais de R$ 70 milhões, incluindo recursos próprios, segundo dado divulgado pela prefeitura. “É um conjunto da somatória de esforços, todos, governos federal e estadual, a nossa Câmara de Vereadores e a bancada federal, unidos em um único propósito, o de reconstruir a nossa cidade para o futuro de desenvolvimento e prosperidade que nos espera com esse Corredor Bioceânico”, afirma Nelson Cintra.

Bioceânica, uma rota de sonhos para a prosperidade
Frota de carretas aguardam no pátio do Posto Vicari, unidade onde fica o estacionamento triagem (Foto: Divulgação) 

Em Porto Murtinho, a iniciativa privada também faz investimentos de olho na Rota Bioceânica. O Grupo Mecari colocou em funcionamento um centro de triagem para caminhões. O pátio tem  capacidade para receber até 400 caminhões que trazem cargas para embarcar nos terminais portuários da cidade.

Imagens divulgadas pelo grupo, no mês de Maio, mostra o pátio lotado de caminhões apostos para embarque nos portos do município. A expectativa é de que com a consolidação da Rota Bioceânica o  movimento dê um salto.

Além do centro, o grupo tem ainda um posto de combustíveis, um restaurante uma casa lotérica para atender a demanda dos caminhoneiros. O investimento já passa  dos R$ 30 milhões e deve ser expandido conforme a Rota ganhe mais corpo.

“A Rota Bioceânica traz perspectivas espetaculares, tanto para o turismo como para o comércio, traz  facilidade para importação e exportação. Coisas que antes tinham que passar por outros estados para  chegar aqui, vão chegar diretamente. Isso abre oportunidades para todos os tipos de negócios.
Aposto essas coisas que vão acontecer de forma bem acelerada”, avalia o  CEO do Grupo Mécari, Neodi Vicari.

O pensamento é o mesmo do prefeito da cidade, para quem o município emergirá de forma diferenciada no mapa estadual e brasileiro. “Porto Murtinho era final de linha. Hoje já é uma das mais importantes cidades do Estado, um ponto estratégico para a logística e economia. Para você ter ideia, indo para Bonito eu cruzei com pelo menos 100 carretas na BR-267”, aponta Nelson Cintra.

Equipe DD:
Reportagem e edição: Valdelice Bonifácio
Fotografias: Luiz Alberto
Logística: Natalino Barbosa Antunes


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